Pode-se dizer que o Tantra é uma variação de Yoga. Neste caso, considerando-se como Yoga um método ou conjunto de técnicas que devem ser praticadas para alcançar a libertação espiritual. Um dos significados da palavra Tantra é teia ou rede e essa é uma das tradições de sabedoria indiana extremamente conectada com a ideia de sucessão mestre discípulo. Tantra também é o nome que se dá aos textos que transmitem os conhecimentos desta tradição.
Termos bastante conhecidos no momento do Yoga que tiveram origem ou que são muito enfatizados no Tantra são: chakras, kundalini e corpo sutil. Um fato desconhecido de grande parte dos praticantes é que as supostas “ginásticas de alongamento” ensinadas por aí como sendo Hatha Yoga ou alguma de suas variações tem origem tântrica. Pois o Hatha Yoga é um das “modalidades” tântricas mais conhecidas.
Vale ressaltar que não se pode separar o Tantra de outras tradições indianas como o Rāja Yoga, o Samkhya e o Vedanta. Pois, por eles terem tido origem no mesmo berço cultural e por suas ideias principais terem sido colhidas dos Vedas eles compartilham de conceitos comuns. Um desses conceitos são os cinco elementos densos ou Mahābhūta: espaço, ar, fogo, água e terra. Esse conceito é descrito e comentado em vários textos de várias tradições indianas, dentre eles: Yoga Sūtra de Patañjali, Samkhya Karikā e Bhagavad Gitā. Além disso, os cinco elementos são essenciais para várias práticas meditativas tântricas.
Embora haja algumas semelhanças com outros caminhos de libertação espiritual, um fator importante no Tantra é que a libertação não é vista como uma “fuga do mundo”, mas sim como uma união com o mundo. A libertação seria realizar que não há bem ou mal e, portanto, tanto faz estar aqui como não estar, pois a realidade é perfeita. Neste sentido, o sofrimento de que tanto se fala nessas tradições seria uma não-aceitação (por ignorância) da realidade.
Um fator essencial da prática tântrica que a distingue de outras práticas é a ênfase na recitação de mantras. Por exemplo, no Rāja Yoga praticamente não há recitação de mantras. Na verdade, o único mantra mencionado no Yoga Sūtra é o Om. A recitação de mantras é tão importante para o Tantra que a maioria dos mestres dá um mantra para o aluno recitar por algum tempo depois que ele é iniciado (depois que recebe Diksha, no bom sentido, não no sentido avacalhado que estamos vendo recentemente). Esse tempo pode durar anos, dependendo do mantra e do objetivo. No Tantra, geralmente se fala em centenas de milhares, ou talvez, milhões de repetições de um mantra, acompanhado de várias outras práticas ritualísticas como Nyasa.
Após o mestre observar a evolução de seu díscipulo, pode iniciá-lo na segunda etapa do percurso: os yantras. Os yantras são imagens, desenhos ou pinturas que representam devas específicos. Dependendo da prática, do ritual, do deva e dos chakras que serão trabalhados, yantras diferentes são empregados. O Yantra de Sri Tripura Sundari é mostrado na imagem abaixo.
Após a realização do Yantra o díscipulo pode ser iniciado ao Chakra Puja. Aqui temos dois termos que geralmente aparecem separadamente. Chakra significa círculo ou vórtice e puja pode significar ritual. Neste caso, especificamente, o Chakra Puja trata-se de um ritual em que os adeptos formam um círculo e, em geral, o mestre fica no centro do círculo, para realizarem determinados rituais secretos. Pouquíssimos alunos alcançam a graça de poderem ser iniciados neste tipo de prática. Poucas pessoas no mundo já participaram. Esta seria a etapa final do caminho tântrico e, para praticá-la seria necessário que o candidato já tivesse alcançado um elevado grau de realização especialmente em relação ao não-apego e a não ser afetado por objetos que causam perturbação ou desejo na maioria das pessoas.