Sobre Retiros e Retirantes

Dicas e sugestões para práticas intensivas de meditação.

As pessoas se deparam com a meditação de várias formas. Algumas começam praticando Yoga para amenizarem problemas físicos como dores nas costas, artrite, tendinite, esforços por movimentos repetitivos, etc. Em algum momento de sua vida, o praticante “casual” de Yogásana conhecerá a verdade: o Yoga é muito mais que uma sequência de alongamentos; o Yoga é muito mais mental do que físico. Outras pessoas acabam encontrando alguma notícia em jornal ou revista de futilidades falando dos milagres da meditação. Fato é que em algum momento, os curiosos do Yoga tentamos nos engajar em alguma prática de meditação. A maioria se contenta com os ásanas, no máximo vão até os pranayamas. Alguns dos que descobrem a meditação a incorporam em sua prática.

Possivelmente, quando a meditação for incorporada à prática de Yoga, alguns fatores mais profundos de nosso ser antes desconhecidos ou não percebidos virão à tona. Neste momento, talvez surja algum interesse mínimo em aspectos espirituais (que fique claro, não estou me referindo a nada religioso). Quando procuramos informações sobre a meditação como método espiritual descobrimos finalmente qual é o objetivo central do Yoga e da meditação: a libertação. Se formos fundo nesta busca, encontraremos algumas informações ou algum mestre que dirá que é necessário praticar de modo mais intensivo durante alguns dias por ano.

Entramos em alerta: o que quer dizer praticar meditação intensivamente? Quer dizer focar a atenção com mais força? Se é que isso é possível? Se é que a meditação é apenas foco. Eu diria que a resposta pode ser obtida na direção do tempo dedicado à prática de modo contínuo. Digamos, sessões mais longas, ou uma maior quantidade de sessões seguidas por dia. Mais um questionamento pode surgir: se minhas pernas ficam dormentes, ou minha coluna dói com uma sessão de 20 minutos, o que acontecerá comigo em uma prática mais intensa? Há um evento específico para realizar estas práticas intensivas, que nas tradições espirituais é chamado de retiro.

Como acontece na maioria das vezes que os ocidentais tentam se apoderar de conhecimentos e práticas que não fazem parte da cultura ocidental, a tentativa de adaptação pode estragar o método. Além disso, a sociedade moderna possui uma certa aversão a assuntos religiosos ou espirituais. Muitas vezes se diz que uma coisa é filosofia para acalmar os ânimos dos “descrentes”. O mesmo tem acontecido com as tradições relacionadas ao Yoga que vieram para o ocidente. Surgiram as tradições auto-proclamadas não-sectárias.

Tradicionalmente, os caminhos espirituais relacionados ao Yoga e à meditação envolvem uma relação entre professor e aluno. Dessa relação surge o que se chama de linhagem, que é uma forma de checar a qualidade ou a procedência de professores e alunos. De modo geral, os professores tradicionais tentam proteger o conhecimento contra os curiosos e também tentam proteger os alunos afoitos que desejam aprender algo para o qual ainda não estão preparados. Assim, existe uma série de práticas e condições preliminares às quais o aluno deve se submeter e superar adequadamente antes de avançar. Uma analogia muito simples: dificilmente alguém que não pratica corrida metodicamente conseguirá correr uma maratona e chegar intacto ao fim; dificilmente, um corredor de fim de semana ganhará uma corrida competindo contra pessoas que praticam 3 ou 4 vezes por semana. Mais que isso, é comum notícias sobre atletas de fim de semana que sofrem contusões e problemas cardíacos.

No entanto, a pressa inerente de nossa sociedade propiciou o surgimento de grupos ou “professores” que prometem dar resultados rápidos aqueles que os procuram. Existem por aí determinados grupos que promovem “retiros de meditação” sem terem a menor preocupação com as pessoas que irão participar. Na minha opinião, pelo menos duas preocupações deveriam existir: (1) o candidato a retirante já possui uma prática pessoal? (2) há a possibilidade do candidato a retirante ser acompanhado por alguém mais experiente após o fim do retiro para ajudar com algum problema que possa surgir tardiamente?

Conheço vários grupos que tentam ter os cuidados mencionados anteriormente. Alguns candidatos a retirantes podem pensar que estão sendo excluídos ou discriminados, mas na verdade estão sendo protegidos. Pois, da mesma forma que a meditação pode ser algo maravilhoso, pode ser um desastre irreparável na vida de alguém se praticada de modo indevido. Uma busca rápida na web trará inúmeros casos de pessoas que se submetem a retiros de vários dias sem nunca terem praticado ou apenas tendo praticado esporadicamente e saem dos retiros com problemas físicos e mentais. Alguns problemas físicos comuns são dores nas costas e joelhos. Os problemas mentais mais comuns são alucinações e outros problemas que os médicos poderão chamar de problemas psiquiátricos.

Gostaria que este texto servisse de alerta para as pessoas que estão com pressa de avançar na meditação ou em qualquer outra prática espiritual. Antes de participar de um retiro ou prática intensa verifique a procedência das pessoas que irão ministrar o retiro. Tente conhecer outras pessoas que já participaram ou que tiveram aulas com os professores. Além disso, é importante que a sua prática pessoal esteja bem consolidada para que você seja capaz de aproveitar adequadamente as longas horas de meditação diária em um retiro.

3 comentários em “Sobre Retiros e Retirantes”

  1. Bastante prudente e instrutivo. O post, além de esclarecedor possibilita a “boa entrada”às práticas de meditaçao e yoga. Avante!!!

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