Yoga e Espiritualidade – Georg Feurstein

O texto abaixo foi adaptado de alguns parágrafos do livro “As virtudes do Yoga, antigos ensinamentos para esta época de crise global” do autor Georg Feurstein.

Quando as pessoas pensam no Yoga, na maioria das vezes elas pensam em forma física e postura contorcidas. Aqueles que são melhor informados sabem que o Yoga é uma tradição antiga da Índia de realização espiritual cujo objetivo é liberdade interior e a superação do sofrimento por meio da transcendência do ego, ou “Eu-fazedor”. Portanto, o Yoga é primariamente uma prática espiritual, ou espiritualidade.

A pobreza moral e espiritual de algumas escolas modernas de Yoga não deveriam nos cegar para a natureza real do Yoga, que é óbvia do ponto de vista de sua longa história e também de suas formas tradicionais atuais. Neste ponto, eu deveria claramente distinguir religião e espiritualidade. Frequentemente, esses termos são usados de modo intercambiável, mas é útil demarcar as diferenças entre religião e espiritualidade. Entendo a religião como referindo-se a valores pessoais, crenças, atitudes e práticas relativas a uma pessoa suprema chamada “Deus” ou o “Divino”, que tipicamente são compartilhados por uma comunidades de pessoas que crêem. A ênfase da religião está em “fazer a coisa certa” – comportamento moralmente saudável – de modo a receber a graça de Deus e ter a aprovação e o suporte da comunidade. Além disso, o conceito religioso de Deus é de uma autoridade suprema, uma Superpessoa (geralmente, sexo masculino) que de algum modo existe fora das pessoas e com o qual a interação é possível mas apenas como criador versus criatura. A forma característica de interação com esse Deus pessoal é a devoção e a oração.

A espiritualidade, ao contrário, pode ser entendida como uma busca mais individualizada por conhecimento direto de, ou união com, a Realidade suprema, que é mais frenquentemente concebida como impessoal e que é núcleo do ser. Portanto, o conhecimento de, ou união com, a Realidade suprema também é frequentemente chamada de “Auto-realização”. Outros termos para esse evento são “iluminação”, “realização” e “libertação”. Já que a Realidade suprema não é apenas a Base de toda a existência mas também o Cerne último de nosso ser interno, ele não é uma força externa ou agente para o qual podemos dirigir nossos pedidos. Estritamente falando, não podemos nem mesmo nos unir a ele, pois ele já é nossa verdadeira natureza.

Todas as formas de Yoga concordam que a existência humana é repleta de sofrimento. A causa desse sofrimento não está em um agente externo mas é uma construção psicológica artificial que chamamos de “Eu”, ou ego. O ego é nossa identificação errônea com um corpo-mente particular, quando na verdade nós transcendemos todas as realidades físicas, emocionais e mentais.

Mas em muitas tradições de Yoga, o ego-self não é considerado como a causa-raiz do sofrimento. As autoridades do Yoga apontam para a ignorância espiritual como a fonte de todo mal. Essa ignorância precede a formação do ego-self: nós nascemos em ignorância da nossa verdadeira natureza como Espírito. Isso nos leva a desenvolver um senso cada vez mais forte de “eu” limitado (expressado como “Eu“, “mim”, “meu”).  Esse processo psicológico é completado com a individuação do humano adulto. De uma perspectiva convencional, isto é considerado um objetivo desejável. Da perspectiva yogui, é meramente um processo de estranhamento de nossa verdadeira identidade, o Ātman.

Os Motivos Puros – Hareesh

No texto disponível em https://tantrikstudies.squarespace.com/blog/the-pure-motive , Hareesh apresenta antídotos para os motivos “não muito corretos” pelos quais buscamos o Yoga. Neste post, há um resumo dos motivos e antídotos.

Segundo Hareesh, os 3 motivos impuros que enfraquecem nossa prática e evitam que nosso objetivo seja alcançado são:

  1. Manter um visão de si mesmo como quebrado, danificado ou pecaminoso e fazer Yoga para “consertar” a si mesmo;
  2. Praticar Yoga (ou qualquer disciplina espiritual) para sentir-se bem, ter barato e/ou alcançar estados alterados de consciência;
  3. Praticar Yoga (ou qualquer disciplina espiritual) para obter poder sobre os outros, para “conseguir amigos e influenciar pessoas” ou para apoiar o ego por receber reconhecimento e admiração.

Os 3 motivos puros, que servem como antídoto para os impuros, segundo Hareesh são:

  1. Trilhar o caminho para conhecer a verdade de seu próprio ser, por amor de si mesmo e para o benefício de todos;
  2. Trilhar o caminho para descobrir sua divindade inata já existente, porque esse é o desejo natural do seu coração e para oferecer o fruto da descoberta a todos os seres;
  3. Trilhar o caminho com reverência e amor, simplesmente porque é sua natureza fazê-lo.

Yoga é habilidade nas ações

योगः कर्मसु  कौशलम्

योगः masculino, nominativo, singular. Significado: Yoga.

कर्मसु neutro, locativo, plural . Significado: ações, atividades.

कौशलम् neutro, acusativo, singular. Significado: habilidade, experiência, inteligência.

Tradução:

[O] Yoga [é] habilidade nas ações.