Quando as pessoas pensam no Yoga, na maioria das vezes elas pensam em forma física e postura contorcidas. Aqueles que são melhor informados sabem que o Yoga é uma tradição antiga da Índia de realização espiritual cujo objetivo é liberdade interior e a superação do sofrimento por meio da transcendência do ego, ou “Eu-fazedor”. Portanto, o Yoga é primariamente uma prática espiritual, ou espiritualidade.
A pobreza moral e espiritual de algumas escolas modernas de Yoga não deveriam nos cegar para a natureza real do Yoga, que é óbvia do ponto de vista de sua longa história e também de suas formas tradicionais atuais. Neste ponto, eu deveria claramente distinguir religião e espiritualidade. Frequentemente, esses termos são usados de modo intercambiável, mas é útil demarcar as diferenças entre religião e espiritualidade. Entendo a religião como referindo-se a valores pessoais, crenças, atitudes e práticas relativas a uma pessoa suprema chamada “Deus” ou o “Divino”, que tipicamente são compartilhados por uma comunidades de pessoas que crêem. A ênfase da religião está em “fazer a coisa certa” – comportamento moralmente saudável – de modo a receber a graça de Deus e ter a aprovação e o suporte da comunidade. Além disso, o conceito religioso de Deus é de uma autoridade suprema, uma Superpessoa (geralmente, sexo masculino) que de algum modo existe fora das pessoas e com o qual a interação é possível mas apenas como criador versus criatura. A forma característica de interação com esse Deus pessoal é a devoção e a oração.
A espiritualidade, ao contrário, pode ser entendida como uma busca mais individualizada por conhecimento direto de, ou união com, a Realidade suprema, que é mais frenquentemente concebida como impessoal e que é núcleo do ser. Portanto, o conhecimento de, ou união com, a Realidade suprema também é frequentemente chamada de “Auto-realização”. Outros termos para esse evento são “iluminação”, “realização” e “libertação”. Já que a Realidade suprema não é apenas a Base de toda a existência mas também o Cerne último de nosso ser interno, ele não é uma força externa ou agente para o qual podemos dirigir nossos pedidos. Estritamente falando, não podemos nem mesmo nos unir a ele, pois ele já é nossa verdadeira natureza.
Todas as formas de Yoga concordam que a existência humana é repleta de sofrimento. A causa desse sofrimento não está em um agente externo mas é uma construção psicológica artificial que chamamos de “Eu”, ou ego. O ego é nossa identificação errônea com um corpo-mente particular, quando na verdade nós transcendemos todas as realidades físicas, emocionais e mentais.
Mas em muitas tradições de Yoga, o ego-self não é considerado como a causa-raiz do sofrimento. As autoridades do Yoga apontam para a ignorância espiritual como a fonte de todo mal. Essa ignorância precede a formação do ego-self: nós nascemos em ignorância da nossa verdadeira natureza como Espírito. Isso nos leva a desenvolver um senso cada vez mais forte de “eu” limitado (expressado como “Eu“, “mim”, “meu”). Esse processo psicológico é completado com a individuação do humano adulto. De uma perspectiva convencional, isto é considerado um objetivo desejável. Da perspectiva yogui, é meramente um processo de estranhamento de nossa verdadeira identidade, o Ātman.