A palavra shaiva é empregada para se referir aos praticantes de um conjunto de técnicas de yoga, rituais, meditação e ascetismo, bem como conhecimentos teológicos, que se acredita terem sido ensinadas pelo deva Shiva. Mas é incorreto categorizar um Shaiva apenas como sendo alguém que é devoto de Shiva, pois um Shaiva pode ser devoto da Devi. O termo tantra pode denotar várias coisas, por exemplo, segundo o dicionário Monier-Williams: a parte principal ou essencial, ponto principal, traço característico, modelo, tipo, sistema, estrutura. Mas neste contexto, Tantra refere-se às escrituras Shaiva. Muitas vezes os textos tântricos também são chamados de Ágamas. Portanto, quem segue os ensinamentos dos Tantras pode ser considerado Tântrico. (Obs.: quando alguém vier falar sobre coisas tântricas pra você, pode questionar em qual escritura tântrica aquilo está escrito. Caso a pessoa não tenha uma boa referência, pode ser uma evidência de que o que ela está falando não é tântrico do ponto de vista formal. Evidentemente, existem aberrações sendo propagadas como sendo tantra e esse é um modo bem simples de checar a procedência.)
Um fator que diferencia o Tantra de outos caminhos espirituais é o fato de que ele é uma tradição iniciática. Isso quer dizer que, tradicionalmente, para se ter acesso completo ao escopo de práticas e filosofia é necessário receber iniciação de um mestre da linhagem. Um fator esóterico associado à iniciação é o fato de que tradicionalmente a iniciação funciona como uma cerimônia de purificação dos efeitos de karmas anteriores.
Historicamente, pode-se dizer que o Tantra Shaiva passou por um processo de domesticação em que no início os praticantes eram predominantemente ascetas e posteriormente começaram a surgir praticantes donos de casa. Grande parte dos textos tântricos conhecidos e estudados foram preservados na região da Caxemira ao norte da Índia. Esse é o principal motivo pelo qual algumas pessoas ainda se referem ao Tantra Shaiva como sendo Tantra da Caxemira. Mas dizer que o Tantra Shaiva é Caxemire é incorreto, visto que o Tantra Shaiva floresceu em outras regiões como Nepal e Sul da Índia, especialmente após as invasões e dominação mulçumana. Durante a dominação muçulmana na Caxemira, vários mestres foram perseguidos e mortos.
Os ensinamentos de Shiva no Tantra Shaiva podem ser agrupados em dois grandes grupos: atimarga e mantramarga. Sendo o Atimarga uma linhagem ascética e o Mantramarga uma linhagem “doméstica”. Como o Mantramarga é uma linhagem que é praticada por pessoas que tem trabalho, família e ocupações práticas diferentes de práticas espirituais, o caminho Mantramarga promete, além da libertação, siddhis e desfrute de prazeres. O Atimarga possui três grandes divisões: os Kapálikas, os Pashupatas e os Lákulas.
Em geral, pode-se dizer que em algumas práticas Shaivas os devotos buscam “imitar” alguns comportamentos de Shiva. Por exemplo, os Kapálikas provavelmente possuem esse nome devido a perambularem segurando um crânio humano (kapala em sânscrito). Isso seria a imitação do comportamento de Shiva quando ele teve de realizar austeridades carregando a cabeça de Brahmá que ele havia cortado. Isso seria uma punição por ter “matado” um brahmane.
O termo Pashupata refere-se ao senhor das criaturas/feras (do sânscrito: pashu = fera/besta, pati = senhor). Para os pashupatas, os seres deste mundo vivem aprisionados em ciclos de desejos e aversões devido à ignorância. O processo de libertação seria a busca por unir-se (Yoga) ao senhor das criaturas e consequentemente libertar-se das amarras. Uma imagem muito conhecida que algumas pessoas conectam com Shiva como senhor das criaturas é um artefato arqueológico encontrado na região de Harapa.