O autoboicote no processo de estudo de Yoga

A vontade de se tornar professor de Yoga não seria apenas mais uma artimanha do Ego em nossa jornada?

Neste texto, me refiro ao Yoga como uma atividade espiritual e não como a ginástica popularmente conhecida.

Um dos objetivos do Yoga é nos ajudar a lidar com o Ego, no sentido de pelo menos neutralizá-lo parcialmente para termos acesso Àquilo que realmente somos. Yoga é algo prático, algo em que há ação de algum tipo, mesmo que seja apenas pensamentos ou imaginação. Com a popularização do acesso à Internet, ficou mais fácil ter acesso aos conhecimentos do Yoga e a professores das mais diversas linhagens. Porém, escondido por trás dessa facilidade está o fato de que não é possível alcançar o objetivo final sozinho. Mesmo que você leia todos os livros sobre o assunto ou assista a todos os vídeos do Youtube, sozinho dificilmente você alcançará o objetivo final.

Ao se perguntar como então poderíamos ter acesso a alguém que nos ajude a alcançar esse objetivo, podemos cair na armadilha de pensar que fazendo “um curso de formação de professores de Yoga” facilitaríamos esse processo. Aqui, o Ego usa suas garras, mesmo que sutilmente para algumas pessoas. Pois, a partir do momento que o seu objetivo deixa de ser viver o Yoga, experenciar o Yoga, e passa a ser se tornar um professor de Yoga, sua jornada chegou a um fim dramático. Agora, você vai pra aula não mais tentando entender ao máximo como incorporar aquilo na sua vida, como vivenciar aquele ensinamento, mas sim pensando em como ensinar aquilo para os seus próprios alunos.

No Yoga, como em outras atividades, a experiência é fundamental. Então, ensinar sem ter praticado bem e por um bom tempo, além de não ser muito ético, é triste para quem ensina e horrível para quem é aluno. Junte-se a isso o fato de que os famosos cursos de formação, são feitos em fins de semana. O problema não é o curso ser de fim de semana, mas sim a pessoa que está fazendo o curso não praticar o suficiente nos outros dias e sendo acompanhado por professores experientes.

Tradicionalmente, uma pessoa só ensinava Yoga depois de ter praticado por anos com um professor e o professor decidir que a pessoa estava pronta para ensinar. Mas hoje, o contrário ocorre, primeiro a pessoa acha que está pronta para ensinar e depois faz um cursinho. De alguma forma, as artes marciais preservaram algo de sua tradição neste sentido. Pelo menos em artes marciais, se alguém disser que sabe e não provar no tatame ou no ringue além de passar vergonha, vai apanhar. No Yoga, vai se boicotar e prejudicar a jornada de outras pessoas.

Sei que o Yoga é um tema empolgante (sou suspeito em falar isso 🙂 ), é um tema que a gente quer  anunciar aos quatro ventos como isso mudou nossa vida e como poderia mudar a vida de todas as pessoas. Mas o fato de termos lido um livro sobre o assunto ou visto alguns vídeos, não quer dizer que estejamos aptos para ensinar. Pense bem: será que a vontade de ser professor não é só mais uma artimanha de um Egão inflado querendo aparecer?

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