Seria o “Kundalini Yoga” uma Invenção de Yogi Bhajan?

Philip Roland Deslippe argumenta que o “Kundalini Yoga” foi uma montagem criada por Yogi Bhajan e derivada dos ensinamentos sobre Hatha Yoga de duas pessoas: Swami Dhirendra Brahmachari e o Maharaj Virsa Singh.

Este texto é um resumo adaptado do artigo From Maharaj to Mahan Tantric – The Construction of Yogi Bhajan’s Kundalini Yoga, publicado em 2013 por Philip Roland Deslippe. O artigo pode ser acessado neste link. Antes de apontar alguns trechos do artigo que me chamam a atenção eu gostaria de esclarecer três coisas:

  1. Kundalini é um termo do Yoga Tântrico que não é propriedade de ninguém. As práticas de Yoga que têm como objetivo despertar a Kundalini podem ser chamadas de Kundalini Yoga e não têm nada a ver com Yogi Bhajan.
  2. Eu não sou contra a prática de Kundalini Yoga do Yogi Bhajan, inclusive tenho amigos que dão alunas desse Yoga e eu já pratiquei algumas vezes e gostei.
  3. Em geral, se diz que práticas tântricas exigem a transmissão de um guru e que professores de tantra fazem parte de uma linhagem. O problema é alguém não pertencer a linhagem nenhuma e querer forçar a barra inventando linhagem.

Vamos ao artigo.

Logo no Abstract, Deslippe mostra a que veio e afirma que o objetivo do artigo é argumentar que o “Kundalini Yoga” foi uma montagem criada por Yogi Bhajan e derivada dos ensinamentos de duas pessoas: Swami Dhirendra Brahmachari e o Maharaj Virsa Singh.

Segundo Deslippe, nas aulas de Kundalini se canta o mantra “Ong Namo Guru Dev Namo” com a motivação de se conectar com a suposta tradição de mestres de Kundalini Yoga. Essa tradição teria como elo anterior a Yogi Bhajan o mestre Sant Hazara Singh. Porém, quando essa linhagem é investigada encontram-se registros históricos que relatam uma viagem que Yogi Bhajan fez com 84 de seus alunos para a Índia. Os relatos da viagem são, segundo Deslippe: revelação de professores abandonados e esquecidos, figuras inventadas e um processo de narração e criação de mitos nascidos de necessidade pragmática.

Um fato curioso é que quando Yogi Bhajan começou a ensinar Kundalini Yoga em Los Angeles ele não mencionava Sant Hazara Singh, ao invés disso ele se referia a Virsa Singh como seu professor. Mas embora a recitação do mantra “Naam of Ek Ong Kar Sat Nam Siri Wahe Guru” ensinado por Virsa Singh seja essencial para os alunos de Yogi Bhajan, os elementos típicos da prática não vieram de Maharaj Virsa Singh, mas sim do yogi hindu chamado Swami Dhirendra Brahmachari. O diretor do asharam, Vanmala Vachani, onde Yogi Bhajan teve aulas com Swami Dhirendra Brahmachari o descreve como alguém que frequentava as aulas mas que não era muito próximo do professor nem seu ajudante (acólito).

O Swami Dhirendra Bramachari era visto como um professor de Hatha Yoga, mas o principal texto que seguia era o Sukshma Vyayama, um texto que trata principalmente de práticas sutis para limpeza de nadis e sistemas glandulares. Percebe-se que grande parte do que é ensinado como Kundalini Yoga de Bhajan provém dos pranaymas e bandhas ensinados no Sukshma Vyayama.

Deslippe afirma que no início, os ensinamentos de Yogi Bhajan eram um mistura do que ele aprendeu com Swami Dhirendra Brahmachari e Maharaj Virsa Singh e mantras e cânticos derivados do Sikhismo. À medida que a mistura foi sendo transformada por Yogi Bhajan algumas coisas foram adaptadas para “os jovens americanos”. Por exemplo, Maharaj Virsa Singh não acreditava no Yoga como um caminho espiritual e seus seguidores não praticavam nenhuma forma de Yoga físico. De modo similar, os ensinamentos de Swami Dhirendra Brahmachari eram dados no contexto do código de conduta da Hatha Yoga Pradipika, o que incluia abstência sexual e não ingestão de cebola e alho. Além disso, havia serias desconexões entre o que Yogi Bhajan ensinava e o que ele clamava que seus professores lhe haviam ensinado.

Uma viagem que um grupo de alunos fez com Yogi Bhajan para a Índia acabou tendo uma série de mudanças de última hora e acabou se transformando numa viagem focada em Sikhismo sem que as pessoas tivessem sido avisadas antes. A viagem para a Índia acabou com Yogi Bhajan sendo detido por defraudar um homem chamado Amarjit Singh e o grupo voando do país após serem parados no aeroporto. Após retornarem da viagem fracassada, Yogi Bhajan anunciou que tinha recebido o “manto” de “Mahan Tantric”. Após a viagem da década de 1970 todas as influênciasque Yoga Bhajan clamava ter em relação à linhagem tornaram-se inacessíveis, as figuras de Guru Ram Das e Sant Hazara Singh tornaram-se centrais e qualquer referência a Maharaj Virsa Singh eram dirigidas às figuras centrais ou ao próprio Yogi Bhajan.

Apesar da figura de Sant Hazara Singh ter se tornado central, parece improvável que tal pessoa tenha existido sem que existisse alguma documentação sobre ela em algum lugar.

O aspecto mais significativo da histórica escondida sobre a Kundalini Yoga de Yogi Bhajan é o problema epistemológico da fundação do entendimento da 3HO sobre o que é Kundalini Yoga e sua própria linhagem. Uma dimensão do papel de Yogi Bhajan como filtro de conhecimento nos anos iniciais da 3HO eram as barreiras de linguagem, cultura e experiência pessoal.

Variedades da Prática Contemplativa

As práticas mais profundas de meditação utilizam mantras, cânticos e visualização. Mas é claro que um mestre não vai sair por aí ensinando essas práticas para qualquer pessoa. Assim como tudo na vida, um caminho deve ser trilhado antes de chegar a práticas, supostamente, mais avançadas.

Está se tornando popular o termo prática contemplativa, especialmente em sua versão conhecida como meditação. Com a popularização da Internet, cada vez mais pessoas se propõem a ensinar aquilo que acham que sabem. Há vários problemas envolvidos aqui, talvez o pior deles seja o autodidatismo.

É possível aprender muita coisa sem um professor (mas lendo livros escritos por um), tais como matemática, história, biologia, xadrez, etc. Mas quando se trata de assuntos de espiritualidade e autoconhecimento, só por milagre um autodidata chega a algum lugar. No máximo, o que vai acontecer é a pessoa se tornar o acadêmico insoso que já leu todos os livros e artigos sobre meditação e eletroencefelagrafia mas não é capaz de ficar sentado de olhos fechados por cinco minutos numa almofada.

Às vezes aparece algum autointitulado conhecedor da sabedoria indiana querendo participar de grupos de estudo e meditação mas quando questionado sobre suas práticas pessoais, no máximo o que ele faz é ver vídeos no youtube e ler livros de mestres Pop.

Aqui entra mais uma tentativa de esclarecer equívocos: mais de 99% do que você vê e ouve por aí sobre meditação, não é meditação. Nessa hora lembro da literatura barata que eu lia na adolescência e que só recentemente meu professor me questionou usando como exemplo aquela literatura:

  • Você acredita realmente que um ninja escreveria um livro entitulado: Os Segredos do Ninja ?

Agora, pare e pense, você realmente acredita que um grande mestre tradicional iria escrever num livro todos os segredos de uma tradição milenar. Em primeiro lugar, algumas práticas não se aprendem lendo, pois é necessário que alguém que as saiba observe você praticando e te corrija. Por exemplo, a prática de mantras. A maior tentação nossa hoje é buscar algum cardápio de mantras na Internet, escolher aquele que mais nos agrada, de preferência em texto transliterado e depois procurar no Youtube ou em outra plataforma alguém cantando o mantra para tentarmos aprender olhando a transliteração e ouvido a pessoa cantar.

Daí decorrem muitos problemas, por exemplo, a questão dos sons nasais no sânscrito. As palavras escritas em sânscrito mudam seus caracteres e quando vão ser cantadas podem mudar sua sonoridade de acordo com regras bem específicas. Assim, o que acontece geralmente é você vê no texto um caractere mas a pessoa que você está ouvindo no Youtube não pronuncia aquele caractere. O que fazer? O autodidata vai procurar outro vídeo em que a pessoa pronuncie o caractere. Mas qual a forma correta? Em princípio, o autodidata não vai saber, vai procurar cinco versões diferentes do mesmo cântico e fazer uma votação pela maioria das pronúncias escolhendo a que ele supõe que seja a correta. Já imaginou a bagunça e a demora que essa vai ter pra aprender um mantra ou um cântico?

Voltemos a meditação. A maioria das abordagens populares ensinadas, são técnicas de concentração de influência predominantemente budista. São uma tentativa de facilitar a vida das pessoas modernas que não conseguem nem ficar sentadas na almofada. Então, as técnicas de concentração vendidas como meditação vão dizer: perceba a sua respiração, preste atenção quando estiver comendo alguma coisa, etc.

Acontece que as práticas mais profundas de meditação utilizam mantras, cânticos e visualização. O processo de repetir mantras e cânticos seguindo as regras corretas de entonação e de pronúncia provoca estados mentais que conduzem o praticante a um estado de meditação profunda. As visualizações podem ser de dois tipos principais: visualização da deidade e visualização de determinados aspectos espirituais no próprio corpo.

Mas é claro que um mestre não vai sair por aí ensinando essas práticas para qualquer pessoa. Assim como tudo na vida, um caminho deve ser trilhado antes de chegar a práticas, supostamente, mais avançadas. Em primeiro lugar, o básico deve ser dominado: aprender a sentar imóvel por alguns minutos, por exemplo, e a aprender a pronúncia do sânscrito. Em segundo lugar, o mestre deve perceber a dedicação e devoção do aluno ao caminho que está trilhando. Se houver um mero interesse superficial, os segredos não serão revelados.

Sobre a Pronúncia de Mantras, Cânticos e Versos

Afinal ,a pronúncia do sânscrito é importante ou não para recitar mantras?

Quando se trata de recitar mantras, cânticos e versos da língua sânscrita (língua antiga indiana em que a maior parte dos textos védicos, yoguis e tântricos estão escritos) como uma prática espiritual devemos considerar dois fatores:

  1. A pronúncia não é importante;
  2. A pronúncia é importante.

Se a pessoa não considera importante a pronúncia correta, por quais motivos ela estaria interessada em recitar o mantra? Pra quê recitar? Só para estar na moda? Não faz o menor sentido a pessoa querer repetir frases em outro idioma se considera que a pronúncia correta não é importante. Se a pessoa quer recitar mantras como prática espiritual e não sabe ou não quer aprender a pronúncia do sânscrito seria melhor ela obter a tradução do mantra que deseja e o repetir em seu próprio idioma.

Mas se a pessoa deseja repetir mantras como prática espiritual e concorda com a tradição no fato de que a pronúncia é importante, algumas orientações devem ser seguidas:

  1. Para recitar corretamente é importante que a pessoa saiba pronunciar os sons do alfabeto sânscrito que inclui sons que não estão presentes no português. Por exemplo, sons em que se coloca a ponta da língua no céu da boca para serem pronunciados.
  2. Tradicionalmente os mantras são passados de mestre a discípulo. É claro que há exceções, mas não deveríamos tomar a exceção pela regra.
  3. A maioria das pessoas não possui boas habilidades auditivas a ponto de perceberem mudanças de tons e de pronúncias sozinhas.  Para a maioria das pessoas, é necessário que alguém as escute pronunciando os versos para que seja possível apontar possíveis erros.

Mas por que essa preocupação toda com os sons dos mantras. Por motivos bem simples. Vejamos os seguintes exemplos de palavras do sânscrito que possuem sons parecidos mas que possuem significados bastante distintos:

  • बल (bala) : força, poder;
  • बाल (bāla): garoto;
  • बाला (bālā): garota;
  • भाल (bhāla): testa;

Perceba que a principal diferença entre as três primeiras palavras está na duração da vogal a. Pois o traço horizontal em cima do a indica que ele deve ter pronúncia mais longa do que a sem o traço horizontal. Na quarta palavra, há outra diferença, o som de b é aspirado.

Agora imagine que você está repetindo um mantra pedindo força e está pronunciando a palavra relativa à força como uma das outras três opções. Que desastre, não? Olha que este é um exemplo simples.

Se você quer repetir mantras e não quer aprender ou não sabe a pronúncia do sânscrito. Peça a alguém que sabe que lhe ensine alguma tradução. Ou então, você pode ouvir a gravação do mantra recitado por alguém que saiba.

Invocação Não-Dual (Verso 4 do Shiva Manasa Puja) – Tradução e Áudio

O verso 4 do Shiva Manasa Puja pode ser cantado separadamente e é conhecido como Invocação Não-Dual. Neste post apresentamos o verso em sânscrito, transliterado e traduzido. Além disso, apresentamos também um áudio com a recitação do verso.

Texto em Sânscrito

आत्मा त्वं गिरिजा मतिः सहचराः प्राणाः शरीरं गृहं पूजा ते विषयोपभोगरचना निद्रा समाधिस्थितिः।
सञ्चारः पदयोः प्रदक्षिणविधिः स्तोत्राणि सर्वा गिरो यद्यत्कर्म करोमि तत्तदखिलं शम्भो तवाराधनम्॥४॥

Texto Transliterado

ātmā tvaṁ girijā matiḥ sahacarāḥ prāṇāḥ śarīraṁ gr̥haṁ pūjā te viṣayopabhogaracanā nidrā samādhisthitiḥ।
sañcāraḥ padayoḥ pradakṣiṇavidhiḥ stotrāṇi sarvā giro yadyatkarma karomi tattadakhilaṁ śambho tavārādhanam॥4॥

Tradução

Tu és o Eu, a intuição ,Girijā, a nascida da montanha. A minha força vital é tua companhia. O meu corpo é tua casa. Reverência a ti. A criação é o desfrute do teu reino. O meu sono é  a tua permanência em samādhi.

O movimento dos meus dois pés para a direita e para a esquerda são uma cerimônia. Toda palavra é hino de elogio a você. Qualquer que seja a ação que eu faço isso tudo é tua adoração, Oh Senhor Shiva.

Áudio do Verso Recitado

Tradução Detalhada

Primeira parte do verso

आत्मा (ātmā): masculino, nominativo, singular. Significado: eu, uma pessoa.

त्वं (tvaṁ): pronome pessoal de segunda pessoa, nominativo, singular. Significado: tu, você.

गिरिजा (girijā): tatpurusha 6. गिरि + जा . गिरि (giri): palavra feminina. Significado: montanha. जा (jā): palavra feminina, nominativo, singular, significado: nascida. Signficado: nascida da montanha. Esse é um nome para Parvati.

मतिः (matiḥ): palavra feminina, nominativo, singular. Significado: intuição, intenção, Girijā.

सहचराः (sahacarāḥ): masculino, nominativo, plural. Significado: companhias, amigos, seguidores.

प्राणाः (prāṇāḥ): masculino, nominativo, plural. Significado: força vital,prāṇāḥ.

शरीरं (śarīraṁ): neutro, nominativo, singular. Significado: corpo.

गृहं (gr̥haṁ): neutro, nominativo, singular. Significado: casa.

पूजा (pūjā): feminino, nominativo, singular. Significado: honra, reverência, respeito, adoração.

ते (te): pronome pessoal de segunda pessoa, dativo, singular. Significado: a ti, a você.

विषय (viṣaya): masculino. Significado: domínio, reino, território.

उपभोग (upabhoga): masculino. Significado: consumo, desfrute.

रचना (racanā): feminino, nominativo, singular. Significado: criação, produção, ordem.

निद्रा (nidrā): feminino, nominativo, singular. Significado: sono.

समाधि (samādhi): masculino. Significado: união, estado não usual de consciência, samādhi.

स्थितिः (sthitiḥ): feminino, nominativo, singular. Significado: permanência.

Tu [és o] Eu, [a] intuição nascida da montanha. [A minha] força vital [é tua] companhia. [O meu] corpo [é tua] casa. Reverência a ti. [A] criação [é o] desfrute [do teu] reino. [O meu] sono [é  a tua] permanência [em] samādhi.

Segunda parte do verso

सञ्चारः (sañcāraḥ): masculino, nominativo, singular. Significado: movimento.

पदयोः (padayoḥ): masculino, genitivo, dual. Significado: dos dois pés.

प्रदक्षिण (pradakṣiṇa): masculino. Significado: mover para  a direita.

विधिः (vidhiḥ): masculino, nominativo, singular. Significado: cerimônia.

स्तोत्राणि (stotrāṇi): neutro, nominativo, plural. Significado: hino de elogio.

सर्वा (sarvā): indeclinável. Significado: completamente, toda.

गिरो (giro) => गिर: . masculino, nominativo, singular. Significado: palavra.

यद्यत्  (yadyat): indeclinável. Significado: qualquer que seja.

कर्म (karma): neutro, nominativo, singular. Significado: ação.

करोमि (karomi): primeira pessoa do singular do presente, verbo, classe 8, √kṛ . Significado: eu faço.

तत्दत् (tatdat): pronome demonstrativo neutro no nominativo, repetido para enfatizar. Significado: isso.

अखिलम् (akhilaṁ): neutro, nominativo, singular. Significado: tudo, inteiro.

शम्भो (śambho): masculino, vocativo, singular. Significado: Oh Senhor Shiva.

तव (tava): pronome pessoal de segunda pessoa, genitivo, singular. Significado: teu.

आराधनम् (ārādhanam): neutro, nominativo, singular. Significado: adoração.

[O] movimento dos [meus] dois pés para a direita [e para a esquerda são uma] cerimônia. Toda palavra [é] hino de elogio [a você]. Qualquer que seja [a] ação [que eu] faço isso tudo [é] tua adoração, Oh Senhor Shiva.

21 de Junho – Dia Internacional do Yoga

A data do solstício de inverno/verão foi escolhida para comemorar o dia internacional do Yoga.

Se fôssemos procurar um significado para Yoga no dicionário, provavelmente, a palavra com maior probabilidade de ser escolhida seria união. No entanto, o Yoga não pode ser definido com uma palavra devido a ampla variedade de manifestações do Yoga no mundo. Com certeza, a maioria das pessoas definem os fenômenos e objetos de acordo com o que vem ou experienciam com seus órgãos dos sentidos. Assim, provavelmente, se falarmos de Yoga para alguém, essa pessoa trará à sua mente os ásanas ou posturas físicas do Yoga como sendo uma representação válida do que é Yoga.

Podemos dizer que o Yoga é um fenômeno espiritual presente em formas variadas na maior parte das religiões do mundo. Porém, foi no seio da tradição indiana que o Yoga atingiu o auge de seu esplendor. O Yoga é uma atividade prática, isso não podemos negar. Mesmo que tal prática seja feita apenas com a mente, no caso da meditação, ou com a fala, no caso de mantras e cânticos.

O Yoga pode ser entendido como uma abordagem prática que leva o praticante a conhecer a si mesmo, a se conectar com a realidade à sua volta e com a natureza. Pensando nesse aspecto de conexão com a natureza, o dia internacional do Yoga foi criado. Pois ele é comemorado no dia do solstício de inverno no hemisfério sul (ou de verão no hemisfério norte). Outro fator que explica a conexão do Yoga com os fenômenos naturais é a cultura de onde ele provém. Na Índia, se observa o calendário lunar. Muitas datas importantes são comemoradas de acordo com as fases da lua e com a posição dos astros.

Esse esforço de se sintonizar com os fenômenos da natureza pode nos ajudar em nosso processo de expansão e de conexão com as forças da natureza. Aqui, vemos que o Yoga não é capaz de nos levar apenas “para dentro”, mas “para fora” também. Mas esse “para fora” é saudável, não é um para fora sintético como a tecnologia tem feito com nossa atenção.

Hoje, há uma guerra sendo travada pelos meios de comunicação para conquistar nossa atenção. Isso faz com que o nosso fluxo mental esteja o tempo todo sintonizado com a tela que está à nossa frente. Isso nos impede de prestar atenção em nossas necessidades internas, nos impede de pensar sobre problemas que precisamos resolver e impede, até mesmo, de irmos ao banheiro e tomar água com mais frequência. Ou o contrário, a tecnologia pode nos lançar num ciclo de ansiedade enorme devido à grande quantidade de informação que “devemos” consumir e que nunca dá tempo, pois sempre há mais seriados e canais online para ver do que o tempo que temos disponível.

Atualmente, o Yoga pode ser a válvula de escape que precisamos para nos observarmos, para ouvirmos as necessidades do nosso corpo e de nossa mente, para entrar em contato com a natureza em práticas que ocorrem em parques. O Yoga pode ser a desculpa que você estava precisando para desligar o celular (por que, afinal de contas, ele poderia tocar durante a meditação).

Diante do exposto, podemos perceber que união é uma palavra muito simples para representar o Yoga. Pois, dependendo do contexto, o Yoga pode representar até desunião. Desunião da sua atenção com a tela do computador, por exemplo. Yoga pode representar a capacidade de realizar uma tarefa habilidosamente e com dedicação. Portanto, você não precisa praticar “Yoga” para praticar Yoga.

Sentar em Silêncio como um Ato de Rebeldia (não conformidade)

Num mundo em que todos correm contra o relógio para terem alto desempenho, sentar em silêncio é um ato de rebeldia.

Vamos começar observando dois fatores importantes que ocorreram para o ser humano ao longo da história: i) a quantidade de horas anuais de trabalho tem diminuido de 1950 até os dias de hoje; ii) a produtividade laboral aumentou de 1950 até os dias de hoje. Isso pode ser visualizado nos gráficos das Figuras 1 e 2.

Figura 1. Horas de trabalhos anuais por trabalhador (fonte: https://ourworldindata.org)

Observando o gráfico da Figura 1, percebemos que ao longo dos últimos 70 anos a quantidade de horas anuais de trabalho por trabalhador vem diminuindo gradativamente. Para o caso do Brasil, se considerarmos hoje aproximadamente um total de 1750 horas por ano de trabalho e em 1950 um total de 2000 horas de trabalho por ano, podemos dizer que o trabalhador brasileiro, em média, trabalha cerca de 87,5% em horas por ano do que trabalhava em 1950. Parece estranho, mas a sensação que alguns de nós temos é a de que nunca trabalhamos tanto quanto atualmente. Essa sensação de sobrecarga pode vir dois fatores: i) não sabemos como era a rotina de trabalho das pessoas em 1950; ii) a produtividade do trabalho aumentou. Vamos focar nossa atenção no fator ii). Se a produtividade do trabalho aumentou, conforme mostra o gráfico da Figura 2, quer dizer que temos tempo sobrando para fazer outras coisas.

Figura 2. Produtividade laboral. (fonte: https://ourworldindata.org)

Como pode ser visto no gráfico da Figura 2, a produtividade laboral teve um crescimento enorme, não tão grande em outros mas ainda expressivo, em alguns países nos últimos. Esse crescimento está associado a várias coisas e uma delas é o desenvolvimento tecnológico. Por enquanto, vamos pensar um pouco em como esse aumento de produtividade tem afetado a sociedade. Uma pessoa ser produtiva quer dizer que ela consegue “fazer as coisas mais rapidamente”. Daí sobraria tempo para se divertir ou estar com a família. No entanto, não raro, algumas pessoas arranjam outro trabalho ou outra ocupação para preencher o tempo livre. Assim, ela se torna ainda mais produtiva do que seus colegas que têm apenas um trabalho.

É aí que há um possível perigo. Segundo o filósofo Alemão, nascido na Coréia do Sul, Byung-chul Han, em seu livro A Sociedade do Cansaço, Editora Vozes, 2019, página 23, “A sociedade do Século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho”. Ele se refere à sociedade disciplinar, como aquela sociedade que foi exposta por Focault em que instituições como Escola, Igreja e Governo exerciam coerção disciplinar em seus membros. Hoje haveria uma suposta liberdade dessa coerção disciplinar, pois a coerção, segundo Han, agora é neuronal.

Você está sempre ansioso por que não terminou algum projeto no prazo, por que não levou seu filho no colégio exatamente no horário que havia planejado, por que não passou 1 hora por dia na academia todos os dias da semana. Como se isso não bastasse, a grande facilidade de acesso à informação e a meios de entretenimento multimídia têm competido também pelo controle da nossa capacidade de desempenho. Pois, sempre há um número maior de séries na Netflix do que você é capaz de assistir em maratonas de fim de semana.

Podemos dizer que a sociedade passou por pelo menos três eras em termos de medida de valor e riqueza: a era em que quem tinha recursos materiais era chamado de rico (terra, gado, etc); a era que ainda estamos vivendo, em que quem tem poder de processamento e manipulação da informação é rico; e a era em que quem domina a atenção das pessoas sobre a informação é que é rico. Sobre as duas últimas eras mencionadas, basta olharmos para o ranking das empresas mais ricas do mundo e veremos que no top 10 estão empresas de tecnologia da informação tais como: Google, Apple, Facebook e Microsoft. Todas essas empresas têm pelo menos um aspecto em comum: exploram ferramentas para capturar a sua atenção. Por que hoje o valor de um software é medido de acordo com quanto tempo ele é capaz de manter a sua atenção nele. Como no mundo capitalista os fins justificam os meios, tais empresas têm explorado o conhecimento de como os mecanismos de vícios em drogas funcionam para criar softwares que provocam vícios semelhantes ao vício em drogas. E lá se vai nossa saúde mental e paz de espírito.

É incrível como o vírus do alto desempenho está impregnado na sociedade contemporânea. Alguém poderia achar que a meditação e o Yoga seriam um uma ilha paradisíaca que poderíamos visitar para não naufragar nesse mar de lágrimas do alto desempenho. Mas como o grande escritor Eduardo Pinheiro (Padma Dorje) já deixou claro seu texto o Zen Canalha de Steve Jobs , mesmo a meditação está sendo usada com o objetivo de alto desempenho e por isso essas abordagens que usam meditação para aumentar a produtividade dos funcionários está sendo chamada pejorativamente de McMindfulness.

Então, o que nos resta é meditar pelo simples prazer de sentar em silêncio. Sabendo que num mundo em que todo mundo está correndo contra o relógio, sentar em silêncio é um ato de rebeldia.

Isenção de Garantia Espiritual

Texto traduzido do original:
Spiritual Disclaimer by Jed McKenna (from Spiritual Enlightenment: The Damnedest Thing)
(lightly edited by Christopher Wallis)

Advertência:

Continuando a partir deste ponto, o aspirante-a-buscador reconhece e concorda que o estado de Iluminação Espiritual discutido aqui não transmite ao buscador nenhum poder espiritual e tem pouca ou nenhuma semelhança com varieades New Age amplamente divulgadas sob o mesmo nome. Euforia orgásmica, prazer orgiástico, prosperidade obscena, saúde perfeita, paz eterna, acensão angelical, consciência cósmica, aura purificada, projeção astral, viagem pandimensional, percepção extrassensória, acesso a registros akáshicos, sabedoria profunda, comportamento sábio, continência radiante, onisciência, onipotência, onipresença e abertura do terceiro olho NÃO são possíveis de resultar. Sintonização, harmonização, balanceamento, energização, reversão ou abertura de chakras não deveriam ser esperados. A serpente kundalini habitando na base da espinha não precisa ser despertada, cutucada, estimulada, levantada ou, de outro modo, molestada.

Nenhuma promessa de autoavanço, autoestima, autoengrandecimento, autogratificação, autossatisfação ou automelhoria é feita ou implicada. Assim, pessoas autoindulgentes, autoenvolvidas, autocentradas, autoabsorvidas e egoístas não encontrarão satisfação aqui.

O leitor não deveria alimentar nenhuma garantia de recompensa, êxtase, empoderamento, libertação, salvação, enriquecimento, perdão ou repouso eterno na morada celeste. Nem elevação, alteração, transformação, transferência, transposição, transfiguração, transmutação, transcedência ou transmigração de consciência deve ser esperada.

A busca e a obtenção de Iluminação Espiritual podem implicar perda de ego, identidade, humanidade, mente, amigos, emprego, dinheiro, respeito, especificidade de tempo, solidez de espaço, aderência estrita às leis da física aceitas e razão para viver.

A Iluminação Espiritual aqui referida é um processo e um produto da vontade e da autodeterminação. Ela não requer confiança em Deus, deusa, entidades descorporificadas (angelicais ou demoníacas), gurus, swamis, videntes, sábios, homens-santos, pastores, filósofos, elfos, gnomos, duendes, fadas, criaturas pequeninas de qualquer tipo, ou em qualquer outro agente, ou agência sem autoridade própria.

O aspirante-a-buscador não tem a necessidade de quaisquer práticas espirituais ou sistemas de crenças incluindo mas não limitadas a Budismo, Cabala, Hinduísmo, Paganismo, Ocultismo, Wicca, Yoga, Tai Chi, Feng Shui, Artes Marciais, Magia ou Necromancia.

O aspirante-a-buscador não tem necessidade de qualquer assim-chamada parafernália espiritual ou New Age, bugingangas ou amuletos incluindo mas não limitados a cristais, gemas, pedras, sementes, caroços, conchas incensos, velas, aromas, sinos, gongos, badalos, altares, imagens ou ídolos. Nenhuma roupa especial, joalherias, adornos, tatuagens ou acessórios de moda são necessários nesta jornada.

O aspirante-a-buscador não se beneficia de qualquer míriade de procedimentos de iluminação e técnicas incluindo mas não limitadas a estados de transe, foco-em-vela, subjugação ao guru, ficar em uma perna só, peregrinação sobre a barriga, vôo não auxiliado, plantas medicinais, técnicas de respiração, jejum, vaguear em desertos, autoflagelação, votos de silêncio, indulgência sexual ou continência sexual.

O aspirante-a-buscador não tem necessidade de quaisquer poderes espirituais, artes ou ciências incluindo mas não limitadas a astrologia, numerologia, adivinhação, tarô ou leitura de runas, criação de mandalas, andar sobre fogo, cirurgia psíquica, escrita automática, canalização, poder da pirâmide, telepatia, clarividência, sonho lúcido, interpretação do sonho, ESP, levitação, bilocação, psicocinese ou visão remota. Além disso, truques ou façanhas tais como atirar flechas de cima de um cavalo, resistência ao frio, ser enterrado vivo, materializar cinzas ou jóias, caminhar sobre o fogo ou sobre vidro, deitar-se sobre vidro ou pregos, furar a face ou os braços, conjuração e truques de corda não tem serventia ou mérito no que diz respeito à Iluminação Espiritual discutida aqui.

A confrontação com demônios pessoais, o enfrentamento de medos profundos e o desmantelamento passo-a-passo da identidade pessoal podem resultar em elevação temporária do pulso, alta pressão arterial, perda de equilíbrio, perda de apetite, perda de sono, sudorese, inchaço ou desmaio. A perturbação emocional que acompanha a descoberta de que quem você pensava que era é simplesmente um personagem ficcional em um drama encenado pode resultar temporariamente em desamparo, raiva, hostilidade, ressentimento, desesperança, desânimo, desespero, depressão ou um consciência libertadora da insignificância da vida.

O aspirante-a-buscador está aqui advertido de que o estudo de culturas antigas ou viagens a terras distantes não traz nenhum benefício e que, para o propósito do entendimento e obtenção da Iluminação Espiritual discutida aqui, não há nenhum lugar melhor do que aqui e nenhum tempo melhor do que agora.

[Tudo o que foi dito acima pode ser resumido em uma frase: para dentro, não para fora! ~Christopher Wallis]

Mantras: usos e abusos

Usos e abusos dos mantras numa sociedade em que temos muita informação disponível.

Popularmente, um mantra ( मन्त्र ) é uma frase ou sílaba (bija-mantra) utilizada para orações ou meditações. Originalmente, um mantra é um “verso” dos Vedas. Com o desenvolvimento das tradições indianas conectadas aos Vedas, outros mantras foram revelados aos sábios. Mas um fato importante sobre a “obtenção” de mantras é que ou você é um sábio bastante realizado capaz de receber diretamente o mantra de Ishvara/Ishvari ou você precisa de um professor que te passe o mantra adequadamente.

É aí que começa a confusão. Primeiro, nos dias de hoje poucos são aqueles que dedicam sua vida integralmente ao Yoga ou ao autoconhecimento e praticam intensamente meditação, tapas, rituais e etc. Portanto, a probabilidade de existirem sábios por aí recebendo mantras por inspiração divina nos dias de hoje é bem baixa, embora não possamos excluir essa possibilidade. Segundo, com a popularização da Internet e do acesso à informação existe uma grande quantidade materiais dizendo que ensinam mantras. Esses materiais variam desde livros e vídeos no Youtube a cursos online. Então, já que é “tão fácil” ter acesso aos mantras hoje, por que não íriamos simplesmente ao Youtube, digitamos o objetivo para o qual queremos o mantra e o aprendemos? Por exemplo, suponha que alguém quer um mantra para arranjar um casamento. Ela poderia ir num dos oráculos dos tempos modernos e digitar “Mantra para arranjar marido”, escolher dentre os fundos musicais disponíveis e começar a repetir o mantra.

É claro que muitos de nós já tentamos acessar o conhecimento dos mantras pelo Google, mas pense bem, você realmente acha que um grande sábio conhecedor de mantras vai estar distribuindo mantras pelo Youtube? Não podemos negar a grande quantidade de trabalhos de qualidade sobre Yoga e Tradição Védica existente na Internet. Mas o fato de um professor explicar o significado de um mantra e cantar ele no Youtube para você ouvir não quer dizer que ele está te dando autorização para repetir o mantra. O fato dele estar explicando o mantra poderia ser apenas para fins de divulgação da tradição. Mas, como sempre, pense bem. Será que isso que está sendo recitado é realmente um mantra?

Uma coisa que tem acontecido muito nos dias de hoje é chamarmos qualquer frase recitada em uma língua estranha de mantra. Quando na verdade, o que está sendo recitado pode ser um cântico, um hino, um verso poético, etc.

Alguns fatores que devemos considerar se quisermos realmente aprender mantras do modo tido como tradicional:

  • Mantras ou cânticos da tradição védica são recitados em sânscrito;
  • No sânscrito existem sons que não fazem parte da língua portuguesa;
  • Tradicionalmente, a pronúncia correta do mantra é de extrema importância. Até por que há palavras em que a diferença entre uma vogal curta e uma vogal longa mudam o significado pretendido. Por exemplo: bala com o primeiro a curto significa força, bAla com o primeiro a longo significa criança ou garoto.
  • Tradicionalmente, um mantra que não tenha sido ativado por um praticante sério é considerado “morto”. Portanto, se você vai num “manual de mantras” e seleciona um que você quer e o repete, provavelmente estará perdendo seu tempo. O pior é que depois vai sair falando que mantra não funciona.
  • Não sabemos qual mantra é melhor para nós, apenas uma pessoa qualificada pode indicar e te passar um mantra.
  • Não é por que você acabou de aprender um mantra de seu professor que você já vai falar ele pros outros ou ensiná-lo a outras pessoas.
  • Por fim, toda tradição merece respeito. Um dos motivos pelos quais as tradições espirituais indianas se perpetuaram por milênios foi o respeito que os praticantes tinham por ela. Portanto, se você sai por aí balbuciando frases sem sentido pra você e que você não tem certeza se está falando corretamente e que foi você que escolheu em algum livro ou no Youtube, deveria repensar seu conceito de respeito por uma tradição.

Obs.: Tudo que foi exposto acima não exclui a possibilidade de acesso a mantras por inspiração divina.

Um pequeno guia de estudos sobre Raja Yoga

Este post apresenta uma pequena lista de textos e livros para aqueles interessados em iniciar os estudos em Raja Yoga.

O Raja Yoga é a metodologia de prática yogui cujo texto mais importante é o Yoga Sutra de Patanjali. Dito de outra forma, a prática yogui fundamentada no Yoga Sutra é chamada de Raja Yoga. O termo Raja pode ser traduzido como real ou régio. Neste sentido, o Raja Yoga é considerado por seus adeptos a metodologia de Yoga mais importante.

Alguns aspectos peculiares sobre o Raja Yoga são:

  1. Não se tem conhecimento de uma tradição mestre-discípulo que tenha se perpetuado por séculos como sendo a tradição do Raja Yoga. Porém, pode-se dizer que as práticas que compõem a metodologia do Raja Yoga são práticas tradicionais, algumas delas encontradas há milênios na tradição espiritual indiana.
  2. O texto autoritativo do Raja Yoga é um sutra. Um sutra é um texto que se propõe a ser criptográfico por definição. É propositalmente impossível um principiante ler um sutra e entender alguma coisa dele. Os sutras são escritos de modo muito resumido, são um tipo de texto para servir de guia para um professor que já estudou/praticou o tema e está usando apenas uma lista de tópicos mais importantes pra ensinar um assunto.
  3. Alguns autores modernos tem apontado para o fato de que os oito “membros” do Yoga não são práticas que devem ser seguidas numa sequência e, não necessariamente, todos os oito “membros” devem ser praticados para se dizer que a prática é de Raja Yoga. Na verdade, diz-se que esses oito componentes são auxiliares à prática de Yoga.
  4. Estudiosos acadêmicos apontam veementemente que a base filosófica do Raja Yoga é o Samkhya. Assim, recomenda-se o estudo de textos como o Samkhya Karika de Ishvara Krishna.
  5. Para o Raja Yoga, Yoga é Samadhi.

Dito isso, podemos afirmar que seria falso determinado professor dizer que faz parte de uma tradição de Raja Yoga que foi transmitida ininterruptamente de mestre a discípulo e que se estende há séculos ou milênios. Mas pode-se dizer que determinado professor faz parte de uma tradição centenária/milenar de sabedoria indiana em que se ensina, dentre outras coisas, Raja Yoga.

A ausência do fator linhagem pode parecer à primeira vista um ponto negativo, mas na verdade é um ponto forte do Raja Yoga. Pois isso dá liberdade ao praticante de exercer de modo flexível sua prática. No entanto, exceto por graça divina, ninguém aprende algo sozinho. Todos nós precisamos ouvir de alguém ou ler algo que alguém escreveu para aprendermos qualquer coisa. Mas neste ponto, temos mais um fator positivo. Um professor autêntico de Raja Yoga procura desde o início desenvolver a habilidade de autonomia em seus alunos. O treinamento em Raja Yoga procura desenvolver no praticante a habilidade de “ouvir” a sabedoria interna (ou divina) que está o tempo todo a nos falar, mas que em nosso modo usual de vida não a ouvimos. Um professor autêntico de Raja Yoga não quer manter discípulos dependentes de si por tempo indefinido. Na verdade, uma das maiores alegrias do professor autêntico de Raja Yoga é ver seu aluno atuando independentemente, mas no caminho certo.

Existem centenas de traduções diferentes dos Yoga Sutras e uma quantidade ainda maior de livros explicando o que dizem ser Raja Yoga. O principal problema é que, devido ao fato de que os sutras são textos muito difíceis de interpretar, cada pessoa que interpreta o interpreta de uma perspectiva que “puxa a sardinha” para a brasa da sua tradição.

A seguir, apresento uma lista de textos que expõem traduções e explicações sobre o Raja Yoga. Alguns desses textos podem apresentar explicações um pouco divergentes mas todos são muito bons e seus autores são muito importantes para a tradição Yogue: