Meditação em Tempos de Crise
Pequeno vídeo falando sobre meditação em tempos de crise.
Yoga – Meditação – Consciência – Autorrealização
Pequeno vídeo falando sobre meditação em tempos de crise.
Philip Roland Deslippe argumenta que o “Kundalini Yoga” foi uma montagem criada por Yogi Bhajan e derivada dos ensinamentos sobre Hatha Yoga de duas pessoas: Swami Dhirendra Brahmachari e o Maharaj Virsa Singh.
Este texto é um resumo adaptado do artigo From Maharaj to Mahan Tantric – The Construction of Yogi Bhajan’s Kundalini Yoga, publicado em 2013 por Philip Roland Deslippe. O artigo pode ser acessado neste link. Antes de apontar alguns trechos do artigo que me chamam a atenção eu gostaria de esclarecer três coisas:
Vamos ao artigo.
Logo no Abstract, Deslippe mostra a que veio e afirma que o objetivo do artigo é argumentar que o “Kundalini Yoga” foi uma montagem criada por Yogi Bhajan e derivada dos ensinamentos de duas pessoas: Swami Dhirendra Brahmachari e o Maharaj Virsa Singh.
Segundo Deslippe, nas aulas de Kundalini se canta o mantra “Ong Namo Guru Dev Namo” com a motivação de se conectar com a suposta tradição de mestres de Kundalini Yoga. Essa tradição teria como elo anterior a Yogi Bhajan o mestre Sant Hazara Singh. Porém, quando essa linhagem é investigada encontram-se registros históricos que relatam uma viagem que Yogi Bhajan fez com 84 de seus alunos para a Índia. Os relatos da viagem são, segundo Deslippe: revelação de professores abandonados e esquecidos, figuras inventadas e um processo de narração e criação de mitos nascidos de necessidade pragmática.
Um fato curioso é que quando Yogi Bhajan começou a ensinar Kundalini Yoga em Los Angeles ele não mencionava Sant Hazara Singh, ao invés disso ele se referia a Virsa Singh como seu professor. Mas embora a recitação do mantra “Naam of Ek Ong Kar Sat Nam Siri Wahe Guru” ensinado por Virsa Singh seja essencial para os alunos de Yogi Bhajan, os elementos típicos da prática não vieram de Maharaj Virsa Singh, mas sim do yogi hindu chamado Swami Dhirendra Brahmachari. O diretor do asharam, Vanmala Vachani, onde Yogi Bhajan teve aulas com Swami Dhirendra Brahmachari o descreve como alguém que frequentava as aulas mas que não era muito próximo do professor nem seu ajudante (acólito).
O Swami Dhirendra Bramachari era visto como um professor de Hatha Yoga, mas o principal texto que seguia era o Sukshma Vyayama, um texto que trata principalmente de práticas sutis para limpeza de nadis e sistemas glandulares. Percebe-se que grande parte do que é ensinado como Kundalini Yoga de Bhajan provém dos pranaymas e bandhas ensinados no Sukshma Vyayama.
Deslippe afirma que no início, os ensinamentos de Yogi Bhajan eram um mistura do que ele aprendeu com Swami Dhirendra Brahmachari e Maharaj Virsa Singh e mantras e cânticos derivados do Sikhismo. À medida que a mistura foi sendo transformada por Yogi Bhajan algumas coisas foram adaptadas para “os jovens americanos”. Por exemplo, Maharaj Virsa Singh não acreditava no Yoga como um caminho espiritual e seus seguidores não praticavam nenhuma forma de Yoga físico. De modo similar, os ensinamentos de Swami Dhirendra Brahmachari eram dados no contexto do código de conduta da Hatha Yoga Pradipika, o que incluia abstência sexual e não ingestão de cebola e alho. Além disso, havia serias desconexões entre o que Yogi Bhajan ensinava e o que ele clamava que seus professores lhe haviam ensinado.
Uma viagem que um grupo de alunos fez com Yogi Bhajan para a Índia acabou tendo uma série de mudanças de última hora e acabou se transformando numa viagem focada em Sikhismo sem que as pessoas tivessem sido avisadas antes. A viagem para a Índia acabou com Yogi Bhajan sendo detido por defraudar um homem chamado Amarjit Singh e o grupo voando do país após serem parados no aeroporto. Após retornarem da viagem fracassada, Yogi Bhajan anunciou que tinha recebido o “manto” de “Mahan Tantric”. Após a viagem da década de 1970 todas as influênciasque Yoga Bhajan clamava ter em relação à linhagem tornaram-se inacessíveis, as figuras de Guru Ram Das e Sant Hazara Singh tornaram-se centrais e qualquer referência a Maharaj Virsa Singh eram dirigidas às figuras centrais ou ao próprio Yogi Bhajan.
Apesar da figura de Sant Hazara Singh ter se tornado central, parece improvável que tal pessoa tenha existido sem que existisse alguma documentação sobre ela em algum lugar.
O aspecto mais significativo da histórica escondida sobre a Kundalini Yoga de Yogi Bhajan é o problema epistemológico da fundação do entendimento da 3HO sobre o que é Kundalini Yoga e sua própria linhagem. Uma dimensão do papel de Yogi Bhajan como filtro de conhecimento nos anos iniciais da 3HO eram as barreiras de linguagem, cultura e experiência pessoal.
A data do solstício de inverno/verão foi escolhida para comemorar o dia internacional do Yoga.
Se fôssemos procurar um significado para Yoga no dicionário, provavelmente, a palavra com maior probabilidade de ser escolhida seria união. No entanto, o Yoga não pode ser definido com uma palavra devido a ampla variedade de manifestações do Yoga no mundo. Com certeza, a maioria das pessoas definem os fenômenos e objetos de acordo com o que vem ou experienciam com seus órgãos dos sentidos. Assim, provavelmente, se falarmos de Yoga para alguém, essa pessoa trará à sua mente os ásanas ou posturas físicas do Yoga como sendo uma representação válida do que é Yoga.
Podemos dizer que o Yoga é um fenômeno espiritual presente em formas variadas na maior parte das religiões do mundo. Porém, foi no seio da tradição indiana que o Yoga atingiu o auge de seu esplendor. O Yoga é uma atividade prática, isso não podemos negar. Mesmo que tal prática seja feita apenas com a mente, no caso da meditação, ou com a fala, no caso de mantras e cânticos.
O Yoga pode ser entendido como uma abordagem prática que leva o praticante a conhecer a si mesmo, a se conectar com a realidade à sua volta e com a natureza. Pensando nesse aspecto de conexão com a natureza, o dia internacional do Yoga foi criado. Pois ele é comemorado no dia do solstício de inverno no hemisfério sul (ou de verão no hemisfério norte). Outro fator que explica a conexão do Yoga com os fenômenos naturais é a cultura de onde ele provém. Na Índia, se observa o calendário lunar. Muitas datas importantes são comemoradas de acordo com as fases da lua e com a posição dos astros.
Esse esforço de se sintonizar com os fenômenos da natureza pode nos ajudar em nosso processo de expansão e de conexão com as forças da natureza. Aqui, vemos que o Yoga não é capaz de nos levar apenas “para dentro”, mas “para fora” também. Mas esse “para fora” é saudável, não é um para fora sintético como a tecnologia tem feito com nossa atenção.
Hoje, há uma guerra sendo travada pelos meios de comunicação para conquistar nossa atenção. Isso faz com que o nosso fluxo mental esteja o tempo todo sintonizado com a tela que está à nossa frente. Isso nos impede de prestar atenção em nossas necessidades internas, nos impede de pensar sobre problemas que precisamos resolver e impede, até mesmo, de irmos ao banheiro e tomar água com mais frequência. Ou o contrário, a tecnologia pode nos lançar num ciclo de ansiedade enorme devido à grande quantidade de informação que “devemos” consumir e que nunca dá tempo, pois sempre há mais seriados e canais online para ver do que o tempo que temos disponível.
Atualmente, o Yoga pode ser a válvula de escape que precisamos para nos observarmos, para ouvirmos as necessidades do nosso corpo e de nossa mente, para entrar em contato com a natureza em práticas que ocorrem em parques. O Yoga pode ser a desculpa que você estava precisando para desligar o celular (por que, afinal de contas, ele poderia tocar durante a meditação).
Diante do exposto, podemos perceber que união é uma palavra muito simples para representar o Yoga. Pois, dependendo do contexto, o Yoga pode representar até desunião. Desunião da sua atenção com a tela do computador, por exemplo. Yoga pode representar a capacidade de realizar uma tarefa habilidosamente e com dedicação. Portanto, você não precisa praticar “Yoga” para praticar Yoga.
Comunicação não-violenta nos relacionamentos.
Num mundo em que todos correm contra o relógio para terem alto desempenho, sentar em silêncio é um ato de rebeldia.
Vamos começar observando dois fatores importantes que ocorreram para o ser humano ao longo da história: i) a quantidade de horas anuais de trabalho tem diminuido de 1950 até os dias de hoje; ii) a produtividade laboral aumentou de 1950 até os dias de hoje. Isso pode ser visualizado nos gráficos das Figuras 1 e 2.
Observando o gráfico da Figura 1, percebemos que ao longo dos últimos 70 anos a quantidade de horas anuais de trabalho por trabalhador vem diminuindo gradativamente. Para o caso do Brasil, se considerarmos hoje aproximadamente um total de 1750 horas por ano de trabalho e em 1950 um total de 2000 horas de trabalho por ano, podemos dizer que o trabalhador brasileiro, em média, trabalha cerca de 87,5% em horas por ano do que trabalhava em 1950. Parece estranho, mas a sensação que alguns de nós temos é a de que nunca trabalhamos tanto quanto atualmente. Essa sensação de sobrecarga pode vir dois fatores: i) não sabemos como era a rotina de trabalho das pessoas em 1950; ii) a produtividade do trabalho aumentou. Vamos focar nossa atenção no fator ii). Se a produtividade do trabalho aumentou, conforme mostra o gráfico da Figura 2, quer dizer que temos tempo sobrando para fazer outras coisas.
Como pode ser visto no gráfico da Figura 2, a produtividade laboral teve um crescimento enorme, não tão grande em outros mas ainda expressivo, em alguns países nos últimos. Esse crescimento está associado a várias coisas e uma delas é o desenvolvimento tecnológico. Por enquanto, vamos pensar um pouco em como esse aumento de produtividade tem afetado a sociedade. Uma pessoa ser produtiva quer dizer que ela consegue “fazer as coisas mais rapidamente”. Daí sobraria tempo para se divertir ou estar com a família. No entanto, não raro, algumas pessoas arranjam outro trabalho ou outra ocupação para preencher o tempo livre. Assim, ela se torna ainda mais produtiva do que seus colegas que têm apenas um trabalho.
É aí que há um possível perigo. Segundo o filósofo Alemão, nascido na Coréia do Sul, Byung-chul Han, em seu livro A Sociedade do Cansaço, Editora Vozes, 2019, página 23, “A sociedade do Século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho”. Ele se refere à sociedade disciplinar, como aquela sociedade que foi exposta por Focault em que instituições como Escola, Igreja e Governo exerciam coerção disciplinar em seus membros. Hoje haveria uma suposta liberdade dessa coerção disciplinar, pois a coerção, segundo Han, agora é neuronal.
Você está sempre ansioso por que não terminou algum projeto no prazo, por que não levou seu filho no colégio exatamente no horário que havia planejado, por que não passou 1 hora por dia na academia todos os dias da semana. Como se isso não bastasse, a grande facilidade de acesso à informação e a meios de entretenimento multimídia têm competido também pelo controle da nossa capacidade de desempenho. Pois, sempre há um número maior de séries na Netflix do que você é capaz de assistir em maratonas de fim de semana.
Podemos dizer que a sociedade passou por pelo menos três eras em termos de medida de valor e riqueza: a era em que quem tinha recursos materiais era chamado de rico (terra, gado, etc); a era que ainda estamos vivendo, em que quem tem poder de processamento e manipulação da informação é rico; e a era em que quem domina a atenção das pessoas sobre a informação é que é rico. Sobre as duas últimas eras mencionadas, basta olharmos para o ranking das empresas mais ricas do mundo e veremos que no top 10 estão empresas de tecnologia da informação tais como: Google, Apple, Facebook e Microsoft. Todas essas empresas têm pelo menos um aspecto em comum: exploram ferramentas para capturar a sua atenção. Por que hoje o valor de um software é medido de acordo com quanto tempo ele é capaz de manter a sua atenção nele. Como no mundo capitalista os fins justificam os meios, tais empresas têm explorado o conhecimento de como os mecanismos de vícios em drogas funcionam para criar softwares que provocam vícios semelhantes ao vício em drogas. E lá se vai nossa saúde mental e paz de espírito.
É incrível como o vírus do alto desempenho está impregnado na sociedade contemporânea. Alguém poderia achar que a meditação e o Yoga seriam um uma ilha paradisíaca que poderíamos visitar para não naufragar nesse mar de lágrimas do alto desempenho. Mas como o grande escritor Eduardo Pinheiro (Padma Dorje) já deixou claro seu texto o Zen Canalha de Steve Jobs , mesmo a meditação está sendo usada com o objetivo de alto desempenho e por isso essas abordagens que usam meditação para aumentar a produtividade dos funcionários está sendo chamada pejorativamente de McMindfulness.
Então, o que nos resta é meditar pelo simples prazer de sentar em silêncio. Sabendo que num mundo em que todo mundo está correndo contra o relógio, sentar em silêncio é um ato de rebeldia.
Infelizmente, devido à pressa do mundo moderno, o treinamento de professores de Yoga teve que sofrer mudanças e aos poucos algumas escolas foram reduzindo as exigências para formação de professores de modo que, pasmem, não seria de admirar se fosse possível você receber certificado de professor de Yoga sem nunca ter feito um ásana no curso de formação.
Antes de mais nada: Yoga não é ásana! Yoga não é ginástica! Yoga não é exercício físico! Mas: Yoga tem ásana! Yoga tem ginástica! Yoga tem exercício físico!
O Yoga pode ser definido de várias formas, a definição clássica de Patanjali diz que “Yoga é a cessação das atividades da mente”. Na Bhagavad Gita há várias outras definições, por exemplo: “Yoga é ação habilidosa”. Observe que em nenhuma das duas definições se diz que Yoga é ginástica. Porém, deve-se deixar bem claro que o Yogui deve ter uma boa capacidade física e que há várias técnicas yóguicas (por exemplo, ásanas e kriyas) que trabalham a capacidade física do yogui.
Antes de entrarmos no tema principal, vale a pena diferenciar dois aspectos importantes do yoga:
Infelizmente, devido à pressa do mundo moderno, o treinamento de professores de Yoga teve que sofrer mudanças e aos poucos algumas escolas foram reduzindo as exigências para formação de professores de modo que, pasmem, não seria de admirar se fosse possível você receber certificado de professor de Yoga sem nunca ter feito um ásana no curso de formação.
O conhecimento tradicional aos poucos vai se adaptando às mudanças impostas pelo tempo e às características culturais das novas sociedades por onde vai se disseminando. Isso não poderia ser diferente para o Yoga. Hoje é fácil encontrar milhares de vídeos na Internet “ensinando” sequências de ásanas ou tutoriais com imagens detalhando as posturas. Ótimo! Excelente! Que maravilha que esse conhecimento está sendo divulgado!
Porém, deveríamos nos questionar: para quem esse conhecimento é adequado? Outro fator que devemos nos lembrar é: o que quer dizer transmissão tradicional de conhecimento? Em primeiro lugar, o fato do conhecimento está sendo transmitido virtualmente pela Internet ou por livros não quer dizer que ele não esteja sendo transmitido de modo tradicional. Nas tradições yóguicas, duas perguntas fundamentais para checar o “pedigree” de alguém que pretende ser professor são:
Existem pessoas que sabendo da importância dessas duas perguntas, se matriculam em algum curso com um professor famoso passam alguns meses e desistem. Depois usam o nome daquele professor dizendo “Comecei os estudos com o professor XXX em 20YY”. Mas será que terminou os estudos?
Agora, diante dessas duas perguntas voltemos à situação de alguém que pretende ser professor de Yoga estudando de modo autodidata por livros e vídeos online. Perceba que há pelo menos um erro nessa situação: como alguém pode se autointitular autodidata se estuda o trabalho de outros professores ou vê vídeos de outros professores? Claro que essa pessoa não é autodidata. Uma característica básica de um autodidata é ele ser capaz de intuir o conhecimento sem o auxílio de um professor. Algo raro nos dias de hoje, em que tudo se copia.
Agora, voltemos para a situação daquele que quer ser professor de Yoga. Uma coisa muito comum em estúdios de Yoga é perceber como há uma grande quantidade de pessoas com problemas de coordenação motora (e não precisa ser idoso, há muitos jovens descordenados por aí) e até mesmo com leve dislexia a ponto de não saber diferenciar o que é esquerda do que é direita. Imagine uma pessoa que nunca na vida teve uma aula de Yoga presencial tentando aprender isso por vídeos ou por imagens. Todas as pessoas que já foram a uma aula de Yoga decente sabem que uma das tarefas fundamentais de qualquer professor de Yoga é ajustar a postura do aluno, indicar pra ele o lado correto do corpo, indicar a região do corpo onde ele deve sentir melhor a ação do ásana, etc. Quando começamos a considerar todos esses aspectos, talvez torne-se impossível conceber a possibilidade de alguém que nunca praticou Yoga se tornar um professor por meio de um curso 100% online. Não precisa ser um gênio para perceber isso. Além disso, que argumentos um professor formado virtualmente terá para convencer pessoas a serem seus alunos, quando essas mesmas pessoas podem aprender Yoga vendo vídeos online. Seria, no mínimo, hilária essa tentativa de convencimento.
Isso não quer dizer que o conhecimento de Yoga não possa ser transmitido online. É aqui que voltamos a duas definições dadas anteriormente. O Yoga-darshana pode ser transmitido quase que completamente de modo virtual e pode ser aprendido em grande parte por meio de livros e vídeos. No entanto, para que o conhecimento seja transmitido de modo íntegro, será necessário um contato mínimo com o mestre. Só a interação com o professor, o esclarecimento de dúvidas e a interação com colegas de jornada poderá aparar as pontas finais no processo de autoconhecimento. Em termos de sadhana, uma vez que as técnicas tenham sido aprendidas adequadamente, grande parte do processo será solitário. Mas nunca deve-se desprezar a possibilidade de receber uns ajustes num ásana que, por força do hábito, passamos a fazer com alguma incorreção.
Nada melhor do que a Internet, para vermos o que as pessoas estão falando sobre essas possibilidades de aprender Yoga. Vejamos o resumo de algumas respostas a uma pergunta feita no Reddit sobre Yoga-Online versus Yoga-Presencial:
Em suma, se você não tem experiência com Yoga não tem tente praticar sozinho em casa, procure o auxílio de alguém mais experiente. Se você já pratica há alguns anos, pode tentar incrementar a sua prática vendo alguns vídeos e pedindo alguma orientação ao seu professor sobre a prática em casa. Mas a prática presencial é insubstituível. E não esqueça de investigar com quem seu professor aprendeu, como e onde. Você poderá se surpreender (ou se decepcionar).
O evento ocorrerá de 12 a 14 de abril de 2019 em Lagoa Seca, nas proximidades de Campina Grande. Mais informações: https://www.cienciacontemplativa.com.br/eventos/
Este post apresenta uma pequena lista de textos e livros para aqueles interessados em iniciar os estudos em Raja Yoga.
O Raja Yoga é a metodologia de prática yogui cujo texto mais importante é o Yoga Sutra de Patanjali. Dito de outra forma, a prática yogui fundamentada no Yoga Sutra é chamada de Raja Yoga. O termo Raja pode ser traduzido como real ou régio. Neste sentido, o Raja Yoga é considerado por seus adeptos a metodologia de Yoga mais importante.
Alguns aspectos peculiares sobre o Raja Yoga são:
Dito isso, podemos afirmar que seria falso determinado professor dizer que faz parte de uma tradição de Raja Yoga que foi transmitida ininterruptamente de mestre a discípulo e que se estende há séculos ou milênios. Mas pode-se dizer que determinado professor faz parte de uma tradição centenária/milenar de sabedoria indiana em que se ensina, dentre outras coisas, Raja Yoga.
A ausência do fator linhagem pode parecer à primeira vista um ponto negativo, mas na verdade é um ponto forte do Raja Yoga. Pois isso dá liberdade ao praticante de exercer de modo flexível sua prática. No entanto, exceto por graça divina, ninguém aprende algo sozinho. Todos nós precisamos ouvir de alguém ou ler algo que alguém escreveu para aprendermos qualquer coisa. Mas neste ponto, temos mais um fator positivo. Um professor autêntico de Raja Yoga procura desde o início desenvolver a habilidade de autonomia em seus alunos. O treinamento em Raja Yoga procura desenvolver no praticante a habilidade de “ouvir” a sabedoria interna (ou divina) que está o tempo todo a nos falar, mas que em nosso modo usual de vida não a ouvimos. Um professor autêntico de Raja Yoga não quer manter discípulos dependentes de si por tempo indefinido. Na verdade, uma das maiores alegrias do professor autêntico de Raja Yoga é ver seu aluno atuando independentemente, mas no caminho certo.
Existem centenas de traduções diferentes dos Yoga Sutras e uma quantidade ainda maior de livros explicando o que dizem ser Raja Yoga. O principal problema é que, devido ao fato de que os sutras são textos muito difíceis de interpretar, cada pessoa que interpreta o interpreta de uma perspectiva que “puxa a sardinha” para a brasa da sua tradição.
A seguir, apresento uma lista de textos que expõem traduções e explicações sobre o Raja Yoga. Alguns desses textos podem apresentar explicações um pouco divergentes mas todos são muito bons e seus autores são muito importantes para a tradição Yogue:
Muitas pessoas pensam que a grande quantidade de posturas do Yoga moderno é invenção dos novos “professores”, mas o estudo de alguns manuscritos recém-descobertos aponta para o fato de que na Índia pré-invasão britânica já havia a prática de uma grande variedade de ásanas.
Vários autores já apontaram o fato de que textos clássicos de Yoga mencionam apenas algumas dezenas de ásanas. Enquanto o Yoga Sutra de Patanjali se restringe a dizer que ásana é uma postura firme e agradável, o Yoga Bhasya de Vyasa ao Yoga Sutra menciona apenas 12 ásanas:
Além de serem poucos, grande parte dos ásanas mencionados são sentados e muitos autores dizem que o único propósito do ásana é habilitar o corpo a conseguir passar um bom tempo sentado em meditação.
Atualmente, quando se fala em Yoga as pessoas pensam principalmente em posturas físicas. Alguns leigos ainda associam yoga/ásanas com Hatha Yoga. Porém, mesmos textos clássicos de Hatha Yoga como Śivasamhitá (menciona apenas 6 ásanas), Hathapradípiká (menciona apenas 15 ásanas) e Gherandasamhitá falam de poucos ásanas. A Gherandasamhitá é a que menciona a maior quantidade de ásanas, mas são apenas trinta e dois.
Se formos a alguns sites que falam de Yoga, podemos encontrar até softwares que automatizam “a criação” de ásanas e de sequências. Por exemplo, o site Yoga Journal lista uma grande quantidade de ásanas e sugestões de sequências.
O que ainda está faltando na literatura especializada é um estudo que indique se essa proliferação de ásanas é simplesmente uma influência ocidental no Yoga ou se existe alguma conexão com as fontes tradicionais, ou se existem textos tradicionais que indiquem que eram feitas práticas em que a execução de uma grande quantidade de ásanas era importante.
Neste sentido, recentemente, Jason Birch publicou um capítulo intitulado “The Proliferation of Asana-s in Late-Medieval Yoga Texts”, no livro “Yoga in Transformation”. O capítulo de Jason Birch se fundamenta na descoberta de vários manuscritos de textos medievais de yoga que contém listas de mais de oitenta e quatro ásanas. Segundo o autor, esse número é canônico e é mencionado em vários textos de yoga. O que faltava, até o momento, eram textos que descrevessem esses ásanas, pois as menções aos oitenta e quatro eram apenas listas de nomes ou apenas menção ao número.
Jason Birch argumenta que, de fato, está claro que mais de oitenta e quatro ásanas eram praticados em algumas tradições do Hatha Yoga antes dos britânicos chegarem à Índia. O mais incrível, para quem achava que ásana era apenas para sentar e meditar, é que a maioria dos ásanas descritos nos textos recentemente descobertos não eram posturas sentadas, mas posturas complexas e que demandavam muito esforço físico, algumas envolvendo movimento repetitivo, controle da respiração e uso de cordas.
Além da grande variedade de ásanas descritos, os novos manuscritos descobertos apontam para o fato de que os ásanas eram executados não apenas como alongamentos ou exercícios físicos como alguns “professores de yoga” ensinam (ou como é ensinado em algumas academias de musculação). A execução de ásanas envolvia movimento cíclico da respiração entre o abdômen e a cabeça, por exemplo. Em alguns trechos desses manuscritos os ásanas são descritos como kriyás, que combinam técnicas elaboradas de pránáyáma com ásanas complexos.
Outra característica interessante que aparece em um dos novos manuscritos é a sequência de ásanas em que o praticante deve ser capaz de realizar ásanas fundamentais antes de seguir para ásanas mais complexos.
Segundo Jason Birch, a hipótese de Sjoman de que alguns ásanas derivam de sistemas indianos de artes marciais continua válida, mas a contribuição do novo manuscrito foi situar esses ásanas no Hatha Yoga. Além disso, o novo manuscrito deixa claro que hathayogis praticavam ásanas dinâmicos, antes da influência britânica.
Por fim, Jason Birch traça algumas hipóteses sobre a influência de textos derivados desses manuscritos nos sistemas de Yoga desenvolvidos pelos alunos de Krshnamácárya (Patabhi Jois, Iyengar, Desikachar, Kaustubh, etc). Os alunos da linhagem de Krshnamácárya mencionam um texto chamado Yoga Kurunta que Jason Birch diz não ter encontrado nenhuma cópia em bibliotecas da Índia. Mas pelos relatos dos alunos da linhagem há alguma influência dos novos manuscritos nesse suposto texto chamado Yoga Kurunta.
Finalmente, a origem da míriade de ásanas do Yoga moderno está começando a ficar clara.
Só nos resta agir.
न हि कश्चित्क्षणमपि जातु तिष्ठत्यकर्मकृत् कार्यते ह्यवश: कर्म सर्व: प्रकृतिजैर्गुणै:
na hi kaścitkṣaṇamapi jātu tiṣṭhatyakarmakṛt kāryate hyavaśa: karma sarva: prakṛtijairguṇai:
Pois mesmo quem não está agindo certamente não permanece mesmo por um momento, todos são, de fato, levados a agir independentemente pelas qualidades (guṇai:) nascidas de sua natureza (prakṛti).