Retiro de Yoga e Meditação em Abril de 2018

Informações sobre o retiro de Yoga e Meditação que ocorrerá em abril de 2018.

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As inscrições serão realizadas via formulário digital no seguinte endereço: https://tinyurl.com/yaglk956

ANTES DE PREENCHER E SUBMETER ESTE FORMULÁRIO VOCÊ DEVE:
1) Enviar e-mail perguntando se ainda há vagas para shri.yoga.devi.pb@gmail.com ou entrar em contato por mensagem inbox pela página no Facebook: https://www.facebook.com/shriyogadevipb ;
2) Fazer o pagamento da inscrição no valor de 350 reais via transferência bancária para a conta enviada no passo anterior; O valor total pode ser dividido em duas parcelas, a primeira no ato da inscrição (175 reais) e a segunda até um dia antes do início do retiro;
3) Enviar o recibo da transferência ou foto do mesmo anexado a este formulário. Caso seja pago em duas vezes, o segundo recibo deverá ser enviado para o e-mail shri.yoga.devi.pb@gmail.com ;

REGRAS SOBRE DESISTÊNCIA DO RETIRO
No caso de desistência, 30 dias ou mais antes do início do retiro, o valor que tiver sido pago antecipadamente será devolvido integralmente. No caso de desistência com menos de 30 dias antes do início do retiro, haverá devolução de 80% do valor pago. No caso de desistência do retiro no dia ou durante não haverá devolução do valor pago. Caso já tenha pago e desista, há a possibilidade de passar sua vaga para outra pessoa, mediante consulta prévia aos organizadores do retiro.

REGRAS SOBRE CANCELAMENTO DO RETIRO
Em caso de cancelamento do retiro por motivos de acidentes ou qualquer situação que impeça os professores de realizarem o retiro, o valor pago será devolvido integralmente sem ônus para os participantes do treinamento.

DATAS E HORÁRIOS DO RETIRO
O retiro terá início no dia 20 de abril no fim da tarde e encerramento no dia 22 de abril após o almoço.

O nome e a foto associados à sua Conta do Google serão registrados quando você fizer upload de arquivos e enviar este formulário.

Mais informações: https://www.facebook.com/events/1618263464862678

O diálogo entre Astavakra e Janaka, no Tripura Rahasya, sobre os estados de consciência

Este é o resumo do artigo publicado na Revista Religare sobre as relações entre o Capítulo 16 do Tripura Rahasya e o Yoga Sutra de Patanjali.

Resumo: Este artigo apresenta uma tradução de partes do capítulo 16 do Tripura Rahasya seguidas de discussões e análises tendo como base conceitos apresentados no Yoga Sutra de Patanjali. O capítulo 16 do Tripura Rahasya trata dentre outros fatores do conceito de indizível na tradição indiana e de métodos para alcançar o estado em que é possível acessar o indizível, ou aquilo que não pode ser explicado por palavras. Argumentamos que o Rāja-Yoga de Patañjali é uma metodologia adequada para experimentar esse estado.

O artigo completo pode ser lido no site da Revista Religare.

Livros Recomendados

Nesta página, há algumas sugestões de livros sobre Yoga e Meditação. Será atualizada com certa regularidade.

Última Atualização: 20 de dezembro de 2017

A Tradição do Yoga – Georg Feuerstein

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Ótimo livro para quem deseja ter uma visão geral do Yoga como tradição espiritual presente como prática em diversas religiões especialmente de origem indiana (ex., Hinduísmo, Budismo e Janinismo). Georg Feurstein foi um praticante-acadêmico, ele praticou Yoga desde a adolescência, teve contato com grandes mestres e posteriormente se dedicou à pesquisa e escrita acadêmica sobre temas relacionados ao Yoga e as tradições espirituais de origem indiana. Este livro apresenta o Yoga como ferramenta de desenvolvimento espiritual. Além disso, apresenta traduções de trechos de importantes textos tradicionais e explicações sobre os diversos ramos do Yoga: Hatha Yoga, Raja Yoga, Laya Yoga, Jnana Yoga, Karma Yoga, Bhakti Yoga, etc. Este livro vale a pena ser lido por todos os praticantes que encaram o yoga como caminho espiritual.

Viagem Interior – Caco de Paula, Jomar Morais, Karen Gimenez e Marcia Bindo

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Durante muitos anos a Revista Super Interessante publicou artigos sobre Yoga e Meditação. Os autores desse livro juntaram várias idéias presentes nos artigos da Super Interessante e construíram este livro, que antes havia sido publicado como quatro livros independentes. O livro é dividido em quatro partes: Yoga, Meditação, Buda e Dalai Lama. Cada parte contém, além de uma introdução ao tema, dicas de leitura e de sites para posterior aprofundamento nos temas. É um livro ótimo para quem está começando e não sabe nada sobre o assunto.

Yoga: Imortalidade e Liberdade – Mircea Eliade

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Este livro é de caráter mais acadêmico e de linguagem mais complexa para o leigo. Porém, seu conteúdo é de grande profundidade espiritual. Este livro apresenta as origens históricas do Yoga, como ele surgiu na sociedade indiana, quais os textos mais antigos que tratam do assunto, quais os principais conjuntos de práticas envolvidos, etc. O livro foi um dos resultados da pesquisa de doutorado do autor. Por se tratar de um livro que foi publicado há décadas e seu autor já faleceu, há uma versão digital no site Archive.

Tantra – Sexualidade e Espiritualidade

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Neste livro, Georg Feurstein apresenta as principais influências do Tantra na cultura indiana. A discussão do livro gira em torno, principalmente, do Tantra Kaula. O autor desmistifica vários mal-entendidos que existem no ocidente em torno do termo Tantra. O leitor não deve ler este livro buscando um guia de práticas, nem de posturas. Primeiro por que Tantra, não necessariamente, envolve sexo, segundo por que este livro não é um manual. O fato dele não ser um manual decorre de não ser possível ensinar/aprender adequadamente práticas de Yoga por meio da leitura de textos sem que a pessoa nunca tenha tido instruções de uma pessoa mais experiente.

Tantra Illuminated – Christopher Wallis

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Esta é uma obra enciclopédica sobre o Tantra, especialmente sobre o Tantra Não-Dual Shaiva (TNDS). O autor é praticante desde a adolescência, foi aluno de grandes mestres e posteriormente fez doutorado em Oxford em temas relacionados à tradução de textos escritos em sânscrito. Seu orientador de doutorado foi Alexis Sanderson um dos poucos ocidentais que foram alunos do último mestre da filosofia TNDS. O livro trata das origens históricas do Tantra, sua cosmologia e práticas. Além disso, apresenta as nove principais linhagens do Tantra. Provavelmente, é o melhor livro escrito sobre o tema nos dias de hoje.

O Despertar da Kundalini

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Neste livro, Gopi Krishna conta a sua trajetória no caminho da meditação. Ela conta como foi o despertar da Kundalini para ele, o estado doentio pelo qual ele passou, as dificuldades enfrentadas, o sofrimento e praticamente desejo de morte que teve devido ao despertar da energia da Kundalini sem que tivesse alguém para orientá-lo. Este livro deve ser lido por todas as pessoas que têm curiosidade sobre o tema, mas que às vezes não são criteriosas quanto às suas práticas nem quanto à busca por professores adequados.

Neurofisiologia da Meditação

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Este é um livro escrito para quem tem curiosidade de saber o que se passa na mente em termos de eletroquímica e biologia durante as práticas meditativas. O tema é apresentado de modo que um leitor que não tenha formação nas áreas de saúde ou ciências biológicas seja capaz de entender o que é apresentado. Um ponto fraco do livro são as referências exageradas a determinadas pessoas conhecidas na área de cura espiritual. De certa forma, essas referências fogem ao tema alvo do livro.

Autobiografia de um Yogue

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Este é um livro, no mínimo, divertido. O autor apresenta relatos de suas experiências com Yogues realizados. Dentre os relatos há casos de pessoas capazes de atravessar paredes, flutuar e se multiplicar. Deve ser lido com mente aberta.

Um caminho com coração – Jack Kornfield

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Jack Kornfield é um renomado professor americano de meditação budista. Passou mais de dez anos como monge budista na ásia, teve aulas com mestres como  Sri Nisargadatta Maharaj, Ajahn Chah e Kalu Rinpoche. Após seu treinamento na Ásia, voltou aos Estados Unidos e recebeu formação em Psicologia Clínica. Este livro, embora numa temática budista, é de extremo valor para qualquer pessoa que se dedica à meditação. Este livro apresenta várias dificuldades que podem surgir na vida de quem medita e como lidar adequadamente com elas.

Emergência Espiritual – Stanislav Grof e Christina Grof

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Os autores apresentam uma coletânea de textos de mestres renomados sobre as diversas transformações e dificuldades que as pessoas podem passar durante a caminhada espiritual. Apresenta também uma discussão polêmica sobre o fato de que, em nossa sociedade, a transformação espiritual pode ser encarada como doença mental e as pessoas que estão passando por transformações espirituais podem sofrer preconceitos e serem medicadas sem terem nenhuma doença física.

Ciência Contemplativa – Alan Wallace

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Antes que me perguntem, adianto a resposta: ALAN WALLACE NÃO É O CRIADOR DA CIÊNCIA CONTEMPLATIVA! Ninguém é o criador! A ciência contemplativa é um conjunto de práticas de engajamento psicofísicas que são capazes de transformar positivamente o ser humano trazendo-lhe saúde e proporcionando-lhe qualidade de vida. Tais práticas foram desenvolvidades, especialmente, em sociedades asiáticas em tradições como: Yoga, Budismo, Taoísmo, etc. Neste livro, o autor apresenta a visão geral da Ciência Contemplativa, apresenta, também, as críticas da Ciência moderna às experiências em primeira pessoa e discute respostas às críticas da Ciência Moderna. A principal crítica a este livro é a ausência de neutralidade, pois a parte teórico-filosófica é totalmente embasada no Budismo Tibetano. Porém, isso ocorre devido o autor ter passado mais de dez em treinamento por grandes mestres tibetanos.

O Yoga Tradicional de Patanjali – Roberto de A. Martins

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Provavelmente, o melhor livro sobre Raja-Yoga escrito no Brasil. O autor apresenta o Raja-Yoga de Patanjali por meio de um apanhado de textos históricos e tradicionais da cultura indiana, tais como Upanishads e Puranas. Ao final do livro há dois apêndices contendo as traduções do autor para os textos “Sankhya Karika” e “Yoga Sutra”. O autor é praticante de Raja-Yoga há mais de quarenta anos, além de ser um exímio pesquisador nas áreas de Yoga e Filosofia da Ciência.

Uma luz sobre o Hatha-Yoga

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Este é, provavelmente, o melhor livro sobre Hatha-Yoga. Apresenta o desenvolvimento histórico do Hatha-Yoga, os personagens principais envolvidos, as práticas existentes. Além disso, apresenta algo que pode surpreender os leitores: a grande quantidade de práticas de meditação existentes no Hatha-Yoga e conhecidas como Laya-Yoga. Este livro não é um manual de posturas. O autor é praticante de Raja-Yoga há mais de quarenta anos, além de ser um exímio pesquisador nas áreas de Yoga e Filosofia da Ciência.

Os Motivos Puros – Hareesh

No texto disponível em https://tantrikstudies.squarespace.com/blog/the-pure-motive , Hareesh apresenta antídotos para os motivos “não muito corretos” pelos quais buscamos o Yoga. Neste post, há um resumo dos motivos e antídotos.

Segundo Hareesh, os 3 motivos impuros que enfraquecem nossa prática e evitam que nosso objetivo seja alcançado são:

  1. Manter um visão de si mesmo como quebrado, danificado ou pecaminoso e fazer Yoga para “consertar” a si mesmo;
  2. Praticar Yoga (ou qualquer disciplina espiritual) para sentir-se bem, ter barato e/ou alcançar estados alterados de consciência;
  3. Praticar Yoga (ou qualquer disciplina espiritual) para obter poder sobre os outros, para “conseguir amigos e influenciar pessoas” ou para apoiar o ego por receber reconhecimento e admiração.

Os 3 motivos puros, que servem como antídoto para os impuros, segundo Hareesh são:

  1. Trilhar o caminho para conhecer a verdade de seu próprio ser, por amor de si mesmo e para o benefício de todos;
  2. Trilhar o caminho para descobrir sua divindade inata já existente, porque esse é o desejo natural do seu coração e para oferecer o fruto da descoberta a todos os seres;
  3. Trilhar o caminho com reverência e amor, simplesmente porque é sua natureza fazê-lo.

Tripura Rahasya 2.51-52: A importância da autoinvestigação

O Tripura Rahasya é um texto tântrico de extrema importância e muito elogiado por Ramana Maharshi. Abaixo temos a tradução de parte de um de seus versos. Esse verso trata de um dos métodos de autorrealização conhecido como Vichara e que é mencionado também no Yoga-Sutra de Patanjali.

O Tripura Rahasya é um texto tântrico de extrema importância e muito elogiado por Ramana Maharshi. Abaixo temos a tradução de parte de um de seus versos. Esse verso trata de um dos métodos de autorrealização conhecido como Vichara e que é mencionado também no Yoga-Sutra de Patanjali.

विचार: सर्वमूलं हि सोपानं  प्रथमं भवेत्  

Detalhes da tradução:

विचार: masculino, nominativo, singular, investigação
सर्व neutro, acusativo, singular, tudo, completo inteiro
मूलं neutro, acusativo, singular, raiz
हि indeclinável, pois, por causa de
सोपानं neutro, acusativo, singular, escada, degrau
प्रथमं neutro, acusativo, singular, o primeiro de todos
भवेत् verbo 3a pessoa singular, presente optativo raiz √भू , torna-se

Significado:

A investigação torna-se a raiz de tudo pois [é como] a primeira de todas as escadas [para a felicidade].

As palavras entre colchetes foram inseridas a partir do contexto em que o verso aparece.

Tradução: Eanes T. Pereira.

O Verdadeiro Vijñaana-Bhairava Pode, Por Favor, Levantar-se?

Esta postagem é uma tradução livre e resumida do texto original em inglês disponível no site de Christopher Wallis (Hareesh). O Vijñana-Bhairava Tantra é um dos textos mais importantes do Tantra indiano e um dos únicos que sobreviveram com uma tradição real de prática. Disponível em inglês em: http://tantrikstudies.squarespace.com/blog/2016/10/6/will-the-real-vijaana-bhairava-please-stand-up

Um dos mais fascinantes, estranhos, misteriosos, texto de prática convincente na história do Yoga é o Vijñana-bhairava-tantra, “A Escritura de Bhairava, aquele que é Consciência”. Bhairava é um nome próprio para o inspirador aspecto de Deus, e é o nome divino preferido pelos Shaiva Tântricos não-duas de mais de 1000 anos atrás.

O caráter não-usual do texto é sinalizado no próprio título pelo uso único do nome Vijnãna-bhairava, referindo-se àquele Bhairava que não é uma deidade visualizável com atributos específicos, mas sim é nada mais que o poder inspirador da própria Consciência (“Awareness”). O Vijñana-bhairava é entendido como a “deidade” que misticamente revelou as técnicas yoguis do Vijñana-bhairava-tantra (VBT). Esta postagem constitui-se de uma introdução para o texto de 1200 anos de idade, organizando a maior parte do que tenho dito sobre ele em um único lugar.

Uma Breve Introdução

De um corpus que antes enumerava centenas de textos escriturais, o VBT é a única escritura Tântrica revelada com uma tradição contínua de estudo até o presente (além dos Siddhāntāgamas que ainda são estudados no distante sul da Índia). Aqui, ‘escritura’ refere-se ao trabalho falado (ou sobre o qual alega-se ter sido falado) pelo próprio Śiva (īśvara uvāca) ou pela própria Śakti (devyuvāca). Em outras palavras, um escritura é diretamente revelada por Deus. (No Tantra Budista, diz-se que as escrituras são diretamente reveladas pelo Buddha ou por um Bodhisattva celestial). Já que virtualmente todas as outras escrituras Śaiva incluíam injunções ritualísticas complexas, a execução das quais era suportada por uma forte base institucional, seu estudo decaiu ao longo de séculos de conquista Mulçumana que destruiu aquela base institucional. Essa é a razão principal pela qual na Kashemira do século 20, dominada por Mulçumanos, o VBT é a única escritura revelada da Era Tântrica que ainda é estudada e copiada.

Abaixo eu ofereço uma discussão das características interessantes do VBT que fazem ela sobrassair-se na história do Yoga, sem contar do Yoga Tântrico. (Note na seção seguinte que eu usei as traduções de Singh para os versos que eu ainda não tenho uma tradução própria).

Uma Orientação sobre o Texto e suas Práticas

Um exame inicial do VBT rapidamente revela ao leitor que ele está aqui lidando com um texto cujas ideias e pressupostos sobre a natureza da prática yogui são, em alguns modos, radicalmente diferentes daqueles da tradição do Yoga clássico. O Yoga-sūtra de Patañjali, o texto prototípico do Yoga clássico estressa o desengajamento dos objetos dos sentidos externos (vairāgya) e uma interiorização tão completa que o acadêmico do Yoga, Mircea Eliade, em toda a sua seriedade, comparou o yogui clássico a um vegetal. Em contraste, o VBT (escrito apenas quatro séculos após o Yogasūtra) frequentemente enfatiza um engajamento dinâmico com o mundo externo, embora com uma mudança significativa na atenção ou percepção em relação à natureza do mundo.

No Yoga-sūtra 1.16, lemos: ‘A ausência de paixão é uma ausência total de desejo por qualquer coisa material…’, sugerindo o cultivo da indiferença extrema em direção ao mundo externo. O VBT, por outro lado, assegura uma perspectiva diferente, exemplificada nos seguintes versos:

Aonde quer que a mente vá, seja em direção ao externo ou em direção ao interno, em todo lugar há o estado de Śiva, por que o Divino é todo-pervasivo. (116) Onde e quando a consciência do Senhor onipresente é revelada através dos órgãos dos sentidos, o objeto de sentido [deveria ser contemplado como] tendo exatamente a mesma natureza [como aquela da consciência]…(117)

De fato, este texto vai tão longe ao ponto de recomendar a absorção nos estados internos surgindo como um resultado direto de desfrutar os prazeres dos sentidos, incluindo sexo, comida, bebida e música. (Ao contrário da crença popular, isto é uma grande raridade em textos Tântricos, pelo menos nos Śaiva). Isso é exemplificado no verso 73:

O yogui que saboreia a música e o som ao ponto de mesclar-se com eles torna-se preenchido com uma felicidade sem paralelos, alcança uma consciência elevada e experimenta unidade com o Divino.

Isto deve ser visto como um afastamento radical da tradição anterior vigorasamente ascética, que afirmava que o envolvimento com os objetos dos sentidos inevitavelmente puxava o praticante para longa da experiência do Self verdadeiro e dolorasamente emaranhava-o com as vicissitudes da vida mundana. Contudo, enquanto ilustrando esse contraste, deve-se enfatizar que o VBT claramente não está adovgando a auto-indugência simples (a qual, como nossa experiência verifica, não é caminho de plenitude). O verso 71, por exemplo, especifica que a pessoa deveria tornar-se absorvido no sentimento interno de deleite que surge do estímulo externo  e não nos próprios estímulos. Então, a energia do desejo, previamente vista como um veneno na sādhanā, é redirecionado em direção ao alcance da consciência expandida, como pelos termos do posterior Kulārṇava Tantra (2.63): “O que é chamado de pecado, torna-se um mérito quando feito por um propósito superior”. Deste modo, a tradição Tântrica assegura que o desejo por si mesmo não é um problema tanto quanto o apego à crença de que o desejo deveria ser satisfeito e à crença de que a satisfação do desejo é o caminho para a felicidade. Esta visão errada surge em conexão com a ideia de que os sentimentos de felicidade são causados por ou dependentes dos estímulos que ajudam a engatilhá-los. Este não é demonstravelmente o caso e, portanto, o problema essencial é de ignorância e não de desejo.

Outra característica excepcional do Yoga clássico é sua doutrina fundamental de que o Self é alcançado por meio da cessação de todas as flutuações mental-emocionais (Yoga-sūtra 1.2). Nesta visão, os pensamentos, como estática de rádio, mascaram a pura, doce, simples melodia do Self interno e são, portanto, detritos mentais inúteis quando tenta-se realiza esse Self. Em rígido contraste, se formos identificar uma técnica como sendo o tema mais dominante e pervasivo do VBT, ela seria provavelmente a bhāvanā, um termo que abrange o ‘cultivo da atenção’, a ‘contemplação criativa’ e o ‘sentimento dentro do que é’. É uma versão da prática de bhāvanā, um construto-pensamento profundamente refinado (śuddha-vikalpa) deve ser mantido estável em consciência (awareness). Longe de obscurecer o estado de Self, isto permite que a mente relaxe e venha a repousar sobre a ideia nutritiva de que está em alinhamento com a verdadeira natureza da realidade até que ela se dissolva em um estado-sentimento puro correspondendo à verdade da ideia contemplada. Esta mudança marcante novamente indica a natureza revolucionária da perspectiva Tântrica. Os exemplo de bhāvanā são abundantes pelo texto. Nos versos de 63 a 65, o aspirante contempla seu corpo e o universo como a natureza da consciência alegre. No 109, ele contempla, “Já que eu tenho todos os atributos de Śiva, eu sou o mesmo que o Senhor mais elevado”. No verso 110, ele medita no pensamento (e busca atualizar a experiência correspondente): “as ondas-de-energia do universo têm surgido em suas várias formas de mim, Bhairava.” Essas contemplações criativas não são apenas uma inovação metodológica sobre a tradição anterior, mas também claramente afirmam uma diferença doutrinária: que é a não-dualidade sobre e contra a dualidade. A dualidade da tradição clássica anterior, de fato, não foi uma das diferenças entre a Consciência pura e única, mas uma distinção ontológica entre a Consciência e o mundo. Essa dualidade que o VBT negligencia alegremente, encoraja o aspirante a ver a Consciência Divina pulsando no mundo manifesto inteiro tanto quanto em seu mais profundo núcleo. Surpreendentemente, o VBT é um dos primeiros textos de práticas não-duais a aparecerem, além de exibir maturidade e sofisticação de pensamento, apesar de seu Sânscrito frequentemente simplista. Essa atitude não-dual culmina no dhāranā final, que confiantemente proclama que cognição e conhecido (o conhecimento e seu objeto, o observador e o que é visto, o ouvinte e o que é ouvido, etc) são únicos e o mesmo (v. 137).

Além disso, o VBT é uma dos primeiros textos a apresentar práticas de Kuṇḍalinī (veja os versos 28-31 e 35). Apesar do interesse generalizado em Kuṇḍalinī, ainda há pouco ou nenhum estudo de suas origens e dos primeiros usos do termo. Qualquer pessoa que tente fazer uma busca encontrará informação quase exclusivamente baseada em materais posteriores (pós-clássicos) e reinvenções modernas. (Por exemplo, O Yoga Kuṇḍalinī do Yogi Bhajan não tem nenhuma relação com nada que encontramos nos manuscritos Sânscritos). Devido ao declínio de interesse no estudo acadêmico da cultura convencional, temos literalmente dezenas de milhões de pessoas interessadas em algo que ainda não está bem entendido devido a uma total falta de estudos vigorosos sobre o assunto por alguém fluente tanto em Sânscrito quanto em Inglês.

Por fim, abaixo, temos uma classificação das categorias de práticas do VBT:

  • Respiração
  • Kuṇḍalinī
  • Dvādaśānta
  • Sentidos
  • Som e mantra
  • Vazio
  • Universo
  • Corpo
  • Coração/Centro
  • Prazer
  • Luz e Escuridão
  • Sono e Sonho
  • Prática com o corpo
  • Olhar
  • Equanimidade
  • Conhecimento/Insight
  • Sensações intensas e emoções
  • Aonde a mente vai
  • O “show mágico”
  • O Senhor supremo.
Esta é um resumo traduzido por Eanes T. Pereira. Caso utilize este texto em português por favor mencione a fonte.

Os três centros do ser humano (uma visão tântrica)

Este texto trata dos 3 centros energéticos humanos segundo uma visão tântrica.

Quando o ser humano nasce, seu centro energético principal está localizado na região do abdomen próximo ao umbigo. Podemos interpretar isto de várias formas, uma delas é o fato de que um bebê no ventre da mãe está fisicamente conectado à sua mãe pelo cordão umbilical.

Esse centro energético umbilical é bastante enfatizado na cultura japonesa, ficou famoso devido a uma prática executada por samurais em que por motivo de honra um samurai esfaqueia a si mesmo enfiando a faca no hara (tandem) que é justamente a região do primeiro centro energético.

O primeiro centro energético está associado com dependência tanto física quanto psicológica, mas também está associado com os aspectos de intuição, criatividade, êxtase e apreciação da existência. Podemos dizer que o primeiro centro energético seria um ponto de contato do ser humano com a espiritualidade.

Após o nascimento, a criança ainda dependente passa a receber carinho e cuidados de seus pais (na maioria das vezes isso deveria acontecer). Assim, o segundo centro energético localizado na região do peito/busto passa a ser fortalecido. A pessoa passa a agir levado principalmente por emoções.

Com o passar do tempo, a família, a escola e outras instituições passam a exercer determinados tipos de controle educacional no ser humano fazendo com que ele passe a agir de modo cada vez mais racional, se afastando das emoções, intuições e criatividade. É neste momento que os problemas começam a surgir, pois os dois primeiros centros são enfraquecidos e o terceiro centro (localizado na região da testa) passa a ser fortalecido.

A pessoa que possui o terceiro centro energético muito mais fortalecido do que os outros dois é muito racional. Quer racionalizar tudo, inclusive atos que deveriam ser naturais e prazerosos como a alimentação e a sexualidade. A partir do momento em que a pessoa pensa em tudo nos mínimos detalhes, por exemplo, conta a duração para fazer as atividades que seriam prazerosas, a vida começa a perder o sentido e a pessoa se afasta da espiritualidade.

Um dos possíveis motivos pelos quais as pessoas procuram atividades que parecem irracionais mas que dão prazer e satisfação seria essa necessidade latente de entrar em contato com o primeiro centro energético.

A tradição indiana desenvolveu uma metodologia chamada de Yoga que permite a energização adequada dos centros energéticos humanos. O problema é que mesmo essa prática milenar tem sido deturpada por pessoas que, mesmo tendo boas intenções, misturam os conceitos milenares com uma grande carga de bobagens modernas e invenções desconectadas com a espiritualidade.

Os efeitos ayurvédicos da prática de ásanas – David Frawley e Sandra Kozak

Este texto foi traduzido do inglês disponível em: https://vedanet.com/2012/06/13/the-ayurvedic-effects-of-asana-practice . Por favor, se utilizar esta tradução mencione o site www.cienciacontemplativa.com.br .

O texto em inglês é parte do livro “Yoga for your type”.

Introdução

De acordo com a filosofia do Yoga, o corpo físico é uma manifestação da consciência. Ele é uma cristalização dos padrões cármicos (comportamentais) criados pela mente. A chave para trabalhar com o corpo, portanto, é entender a consciência que está por trás dele, muito da qual reside fora de nosso senso ordinário. Isso requer que pratiquemos ásanas cientes não apenas das “tecnicalidades” das posturas mas também dos estados emocionais mentais que eles criam dentro de nós.

O Ayurveda compartilha essa teoria de Yoga. Ele vê o corpo como uma manifestação dos doshas, que não são meramente físicos mas também fatores de consciência prânicos e psicológicos. Não podemos olhar para o impatcto “dôshico” dos ásanas puramente sobre o nível físico mas também considerar seus efeitos psicológicos.

O Yoga vê os ásanas não meramente como posturas estáticas mas como condições de energia, que por sua vez são manifestações de consciência. A energia e a atenção que pomos numa postura é tão importante quanto a postura em si mesma. Podemos ver isso na vida ordinária em que como nos sentimos em um nível psicológico determina como nos movemos no nível físico. Padrões de longo prazo de sentimento e energia determinam a forma e o ritmo do corpo.

O Ásana como Estrutura Física

No nível mais básico, um ásana é uma postura física, um tipo de gesto corporal. Na prática de ásana pomos o corpo em uma posição que tem um resultado e uma mensagem específicos dependendo da forma que ele deixa o corpo. Cada ásana tem seu próprio efeito estrutural. As posturas sentadas fornecem estabilidade na espinha. Algumas delas criam flexibilidade nas costas e pernas. Como a maioria das posturas sentadas criam estimulação parassimpática, elas criam uma influência calmante e prazerosa. As posturas em pé aumentam a força geral e os níveis de energia. As posturas de flexão das costas tendem a excitar-nos (estimulação simpática), aumentam a extensão da coluna e criam força nos músculos elevadores do tronco. As posturas de relaxamento liberam e acalmam as energias criadas em cada prática de ásana. Todos os ásanas, sejam em grupos ou individualmente, têm suas próprias propriedades energéticas dependendo do que eles fazem com o corpo. Como uma casa eles possuem sua própria arquitetura.

Ásanas como energia prânica

O corpo físico é um veículo para as energias internas que são definidas por meio do Prana. Os ásanas são veículos por meio dos quais o Prana é dirigido. Um ásana não é meramente uma estrutura física mas uma condição de energia. Os ásanas expressam uma qualidade de energia e mesmo posturas relaxantes podem conter por trás delas uma condição dinâmica da mente e do Prana.

Esse fato dá a todos os ásanas uma certa neutralidade em seus efeitos energéticos, assim como um veículo em si mesmo é neutro, com o objetivo de sua viagem dependendo do motorista. Os ásanas são como um carro com Prana como a força motora. Não é apenas uma questão de ter o veículo certo mas também de movê-lo da forma correta. O impulso prânico por trás do ásana é tão importante quanto o próprio ásana.

Isso significa que dependendo de quanto Prana dirigimos, o mesmo ásana pode levar-nos para lugares diferentes. Por exemplo, uma postura sentada feita com pranayama forte pode ter um efeito muito energizante, enquanto com respiração normal ela pode aquietar-nos ou mesmo nos por pra dormir. A energética prânica de um ásana depende de vários fatores incluindo quão rápido fazemos a postura, o grau de força que usamos e, acima de tudo, como respiramos durante o ásana. De fato, o objetivo da prática de ásana é acalmar o corpo de modo que possamos trabalhar nosso Prana. O Prana se manifesta quando o corpo está quieto. Essa é a importância das posturas sentadas para a cura interna.

Ásana como pensamento e intenção

O ásana não é apenas estrutura e energia mas também reflete pensamento e intenção. Podemos chamar os ásanas de uma forma de exercício “pensativo” (thoughtful) ou “ciente” (mindful). Os efeitos do mesmo ásana variam dependendo de se nossa mente está clara ou turva e de se nossas emoções estão calmas ou turbulentas. Podemos executar um ásana com precisão técnica mas nosso estado mental determinará quão libertador o ásana realmente é para nossa consciência.

Nosso estado mental é refletido em nossa respiração. Quando amente está calma, a respiração está calma. Quando a mente está conturbada, a respiração está perturbada. Então, a energética prânica e mental vão juntas. Enquanto podemos mudar os efeitos prânicos de um ásana por meio da repiração, também podemos mudar os efeitos mentais de um ásana por meio de concentração e meditação. Um ásana deveria ser um tipo de meditação na forma e no movimento. Portanto, sempre deveríamos por nossas mentes em um espaço sagrado de silêncio, observação e desapego enquanto praticamos Yoga.

Se a nossa consciência não estiver engajada durante o ásana, então nossa prática permanece em um nível superficial. O Prana segue a energia da atenção. A postura corporal é um resultado disso. O tipo de postura que uma pessoa tem reflete como ela põe sua atenção na vida, o que ela faz mais comumente. É por isso que tantos de nós estamos com as costas curvas hoje em dia. Nossa principal postura é sentar à mesa, no carro ou em um sofá! Isso põe nossa energia fora de nós mesmos e então nossa energia interna afunda ou colapsa.

Em resumo, portanto, o efeito estrutural do ásana é o primeiro fator. O modo com energizamos o ásana por meio de Prana é o segundo fator. Isso inclui como nos movemos pelo ásana e como respiramos nele. Nosso estado mental é o terceiro fator. A principal regra em uma prática de ásana é manter a mente calma, introspectiva e atenta de modo que não percamos o foco na prática. Todos esses fatores estão interrelacionados. O dosha frequentemente contém a chave para o estado estrutural, prânico e emocional de uma pessoa.

Efeitos Ayurvédicos dos Ásanas

Cada ásana possui um efeito particular relativo aos três doshas. Da mesma forma que o Ayurveda classifica as comidas de acordo com seus efeitos dôshicos em boas ou más para Vata, Pitta e Kapha, dependendo dos gostos e dos elementos que compõem cada comida. Podemos olhar para os diferentes ásanas de acordo com sua habilidade estrutural para aumentar ou diminuir os doshas.

Contudo, essa equação dôshica dos ásanas não deveria ser tomada rigidamente por que o efeito prânico de um ásana pode superar seu efeito estrutural como mencionado anteriormente. A forma do ásana não seu principal fator. Pelo uso da respiração podemos modificar ou mesmo mudar os efeitos dôshicos do ásana. Também devemos lembrar da importância do pensamento e da intenção na prática de ásanas. Considerando o ásana, o Prana e a mente, podemos alterar um ásana particular ou ajustar a prática inteira em direção a um resultado dôshico particular. Combinando ásanas específicos, pranayama e meditação um equilíbrio interno completo pode ser criado e sustentado.

A aplicação dôshica dos ásanas é dupla:

  • De acordo com a constituição do indivíduo definida por seu tipo dôshico em Vata, Pitta e Kapha e suas misturas.
  • Relativa ao impacto do ásana nos doshas como funções fisiológicas gerais. Cada dosha tem seus lugares e ações no corpo que ásanas afetarão dependendo de sua orientação.

Aplicação Constitucional

Os tipos Vata têm diferentes estruturas corporais e movem-se de modo diferente dos tipos Pitta e Kapha. De modo similar, Pittas e Kaphas têm seus próprios movimentos particulares e posturas que assumem como parte da assinatura dôshica em seus corpos e mentes. Essa diferença entre os doshas é refletida no pulso de cada tipo.

  • Os tipos Vata possuem pulso com movimento semelhante a uma cobra. Eles movem-se de modo semelhante a uma cobra e como uma descarga de eletricidade, com movimentos rápidos, abruptos, imprevisíveis e irregulares. Sua energia interna e pensamentos têm a mesma velocidade, brilho, imprevisibilidade e descontinuidade.
  • Os tipos Pitta têm um pulso semelhante a uma rã que é nervoso, apertado ou delimitado por natureza. Eles movem-se como pulos de rã e movimento contínuo até alcançarem seu objetivo particular. Seu movimento é como fogo quando salta quando você alimenta-o com mais combustível. Eles agem com foco e determinação, indo passo-a-passo. Sua energia interna e pensamentos têm o mesmo movimento  e fluxo determinado e limitado.
  • Os tipos Kapha têm um pulso como um cisne que é amplo e fluído. Eles movem-se com a lentidão de um cisne, imponentes e elegantes, tomando seu tempo de forma ondulante. Sua energia flui como um rio serpentenado lentamente, em seu tempo pelo caminho, certos de seu objetivo final. Assim, quando Kapha se acumula, seu movimento se assemelha a água fluindo por um pântano, com resistência e levando a estagnação. Sua energia interna e pensamentos têm o mesmo movimento aquoso e possível inércia.

Cada tipo dôshico tem sua própria estrutura particular e energética de vida que estende-se para a prática de ásana. A prática de ásana deve considerar o dosha da pessoa para realmente ser efetivo.

  • A energia Vata é impulsiva e errática, como o vento que sopra forte mas não dura. Mas se nos opusermos a ele, ele fugirá ou quebrará. O Vata deve ser gentilmente refreado e apoiado, aterrado e estabilizado. Deve ser harmonizado e continuado de um modo consistente e determinado.
  • A energia Pitta é focada e penetrante e pode cortar e ferir. Pode ser gentilmente relaxada e difusa. É como um feixe que fere os olhos e é estreito em seu campo de iluminação mas, quando expandido, pode ser uma força iluminante.
  • A energia Kapha é resistente e complacente. Deve ser movida e estimulada por graus, como o gelo que deve ser derretido vagarosamente até que possa fluir suavemente. Devemos energizar consistentemente e estimular o tipo Kapha para ação posterior.

Contudo, se um ásana não pode ser bom para um tipo dôshico particular não significa que ele nunca deve praticá-lo. Significa que ele deveria praticá-lo de um modo que previna quaisquer desequilíbrios em potencial. Por exemplo, as flexões das costas. Realizadas de modo forçado ou rápido podem causar agravamento de Vata, com tensão severa ao sistema nervoso talvez mais do que qualquer ásana. Contudo, as flexões parciais suaves são ótimas para reduzir Vata que acumula-se na região superior das costas e ombros.

Cada família de ásanas como as posturas em pé, flexões para a frente, ou posturas invertidas possui benefícios gerais para o corpo como um todo e seu movimento potencial geral. Cada família de ásana exercita certos músculos e órgãos que, como parte da estrutura corporal inteira, não deveria ser negligenciada. Para enfrentar qualquer tendência em direção ao desequilíbrio, você deveria selecionar posturas dentro de cada família de ásana que fossem melhores para seu tipo corporal do que as outras dentro do mesmo grupo. Em geral, você deveria ter certeza de que todos os grupos musculares principais do corpo estão repreentados em sua prática pelo menos vários dias por semana.

De modo similar, se um ásana é bom para um dosha particular não significa que todas as pessoas daquele tipo dôshico deveriam praticá-lo. Isso significa que o ásana pode ser bom para elas se praticado do modo correto e se elas são fisicamente capazes de executá-lo. Cada ásana também tem seu grau de dificuldade que pode requerer certo aquecimento ou posturas preparatórias para abordá-lo de modo seguro. Por exemplo, a preparação correta para uma pose sobre a cabeça cria a musculatura de baços e ombros necessária para sustentar um equilíbrio de cabeça bom e seguro. Se uma pose sobre cabeça é boa para seu tipo dôshico não significa que você deveria simplesmente pular na postura ou pode fazê-lo sem possíveis efeitos colaterais.

Adicionalmente, os efeitos de ásanas diferentes variam de acordo com a sequência na qual são praticados. Isto significa que a prática de ásana deveria sempre ser vista como um todo – não meramente em termos dos ásanas separados que a compõem mas em termos do fluxo e do relacionamento entre todos os ásanas particulares realizados. A prática de ásanas (significando a sequência e o modo de realizar os ásanas assim como os ásanas específicos) deveria ser projetada para manter os doshas em equilíbrio relativo à constituição e condição dos indivíduos.

É útil ver uma sequência de ásanas como uma fórmula de ervas. Uma fórmula de ervas ayurvédica contém um número de ervas usado para vários propósitos que contribuem para o efeito geral da fórmula, preenchendo papéis específicos. O efeito geral dôshico da fórmula é determinado pela fórmula como um todo, não por uma erva única dentro da fórmula vista isoladamente. Combinando essas considerações com os fatores genéricos listado acima, para prescrever ásanas efetivamente os professores devem aprender a:

  • Mensurar o tipo ayurvédico e os desequilíbrios da pessoa;
  • Mensurar a condição estrutural da pessoa, incluindo sua postura, idade e condição física.
  • Mensurar a condição prânica, seu controle da respiração e dos sentidos, assim como sua vitalidade e entusiasmo.
  • Mensurar o estado mental da pessoa, sua atenção, vontade e motivação, assim como sua condição emocional.

O mesmo ásana deveria ser realizado de modo diferente relativo a se a pessoa é Vata, Pitta e Kapha. O mesmo ásana deveria ser realizado de modo diferente dependendo da idade, sexo e condição física da pessoa. Deveria variar dependendo de se a pessoa tem uma vitalidade forte ou fraca. Variações adicionais ocorreriam se a pessoa está sofrendo de raiva, luto, estresse ou depressão. Isso reflete quatro objetivos primários para uma prática ayurvédica de ásanas:

  1. Equilibrar os doshas.
  2. Melhorar a condição estrutural do corpo.
  3. Facilitar o movimento e o desenvolvimento do prana.
  4. Acalmar e energizar a mente.

Tipos Ayurvédicos de Corpo e Práticas de Ásanas

Para entender os potenciais dos ásanas para os diferentes tipos de pessoas gostaríamos de olhar para elas de acordo com os tipos dôshicos de corpo.

Tipo de Corpo Vata

Os tipos Vata possuem ossos finos e longos que são frequentemente fracos ou frágeis. Possuem baixo peso corporal e desenvolvimento muscular pobre, mas uma boa quantidade de velocidade e flexibilidade. Sua estrutura óssea torna-os bons em flexões e alongamentos, particularmente dos braços e pernas, quando são jovens. À medida que envelhecem, contudo, a qualidade seca de Vata aumenta e causa-lhes perda de mobilidade se não se exercitarem regularmente.

Uma prática de ásana suave, lenta e equilibrada para ambos os lados do corpo é o exercício ideal para os tipos Vata. Os Vatas têm necessidade predominantemente de ásanas por que os ásanas aliviam o Vata acumulado nas costas e nos ossos, onde ele se aloja. A doença de Vata começa com uma acumulação do movimento do ar para baixo (Apana Vayu), no cólon, que é transferido para os ossos, onde causa problemas de ossos e juntas, que libera tensões nervosas e equilibra o sistema.

O Potencial Negativo de Vata

Os tipos Vata sofrem comumente de rigidez devido à secura e deficiência nos tecidos. Seu baixo peso corporal não permite o “estofamento” adequado das juntas e nervos ou uma hidratação adequada dos tecidos. Eles são mais propensos a machucados por que eles gostam de realizar movimentos repentinos e abruptos, assim como gostam de práticas extremas.

O Potencial Positivo de Vata

Os tipos Vata gostam de movimentos e exercícios. Eles preferem ser ativos e expressivos tanto com o corpo quanto com a mente e gostam de fazer coisas novas. O ásana é algo que eles fazem facilmente e crescem acostumados como parte de sua atividade natural. É um modo calmante deles exercitarem-se.

Vata Bloqueado e Deficiente

Há duas condições básicas de Vata, que são chamadas de Vata bloqueado e Vata deficiente. O Vata bloqueado apresenta uma energia estagnada em algum lugar do corpo, junto com dor ou desconforto mas um peso corporal normal. O Vata deficiente exibe baixa energia, baixo peso corporal e hipersensitividade, frequentemente sem qualquer dor aguda. O Vata bloqueado requer movimento orientado ou ásanas pránicos para liberá-lo. O Vata deficiente requer uma abordagem construtiva e gentil, evitando muito esforço. O Vata bloqueado é mais comum em pessoas jovens que possuem energia adequada mas ela está bloqueada, enquanto o Vata deficiente é mais comum em pessoas mais velhas cuja qualidade dos tecidos está em declínio.

O Tipo de Corpo Pitta

Os tipos Pitta têm um corpo médio com um, geralmente, bom desenvolvimento dos músculos e “soltura” das juntas, que lhes dá uma boa quantidade de flexibilidade. Eles bons na prática de ásana mas não podem fazer muitas das posturas exóticas que os Vatas podem por causa dos ossos mais curtos que geralmente possuem. Os Pittas se beneficiam da prática de ásanas para esfriar a cabeça, esfriar o sangue, acalmar o coração e aleviar a tensão. Por exemplo, os Pittas tendem a ter hipertensão por causa de seu temperamento impetuoso que os mantém sempre querendo ter sucesso ou vencer.

Potencial Negativo de Pitta

Os tipos Pitta tendem a ser “esquentadinhos” e irritáveis devido ao excesso de calor. Eles podem perder a paciência para começar a prática ou para permanecer nela por um tempo. Por outro lado, uma vez envolvidos eles podem exagerar nas posturas e serem agressivos ou militantes em suas práticas. Um Pitta que foi muito longe em sua prática se sentirá mais irritável ou mesmo mais bravo após terminá-la. Os Pittas tenderão a ficar com posturas que podem fazer bem e ignorar aquelas que podem ajudar-lhes a se desenvolverem mais.

Potencial Positivo de Pitta

Os Pittas têm o melhor foco e determinação dos tipos dôshicos. Eles facilmente entram numa disciplina consistente e prática determinada uma vez que eles que tenham começado e tenham sido orientados corretamente. Eles são os mais ordenados e consistentes dos tipos. Eles apenas têm que descobrir o caminho certo para por suas energias.

O Tipo de Corpo Kapha

Os Kaphas são tipicamente curtos e musculosos, ganham peso com facilidade. Com seus ossos curtos e finos carecem de flexibilidade e não podem executar posturas que requeiram flexibilidade como a postura de lótus. Os tipos Kapha necessitam de movimento e estimulação para enfrentar sua tendência de complacência e inércia. Eles são bons em manter uma prática por longos períodos de tempo, uma vez que tenham começado.

Potencial Negativo de Kapha

Os Kaphas tendem a ter sobrepeso, que limita seus movimentos e os torna sedentários. Eles geralmente têm congestão nos pulmões que leva a dificuldade para respirar. Eles carecem de esforço positivo e acham difícil mudar sem algum tipo de estímulo externo. Eles precisam estar constantemente incentivados a fazer mais ou pararão logo o esforço.

Potencial Positivo de Kapha

Os Kaphas são estáveis e consistentes no que fazem. Uma vez que tenham começado algo fazem-no com fé. Eles permanecem emocionalmente calmos e equilibrados em suas práticas independentemente dos resultados. Eles vêem a vida com amor e o trabalho como serviço.

O Modo Ayurvédico de Executar Ásanas

O Ayurveda não olha para os ásanas como formas fixas que por si mesmos diminuem ou aumentam os doshas. Ele os vê como veículos para a energia que podem ser usados para ajudar a equilibrar os doshas, se usados corretamente. O mesmo é verdade para a visão do ayurveda para a comida. Enquanto comidas individuais têm seus efeitos específicos para aumentar ou diminuir os doshas, como preparamos a comida, como as “remediamos” com pimenta, como as combinamos, ou como as cozinhamos para misturar qualidades de comidas em um todo harmonioso, é tão particular quanto as próprias comidas.

Enquanto o Ayurveda diz que as comidas de certos sabores são mais prováveis de aumentar ou diminuir doshas específicos, ele também diz que necessitamos em algum grau de todos os sabores. Assim também precisamos fazer todos os tipos principais de ásanas em algum nível. Cada pessoa precisa de uma faixa completa de exercícios para lidar com a escala completa de movimento no corpo.

Sua prática geral de ásana deveria ser como uma refeição. Cada refeição deveria conter algum nível de todos os seis sabores (doce, azedo, salgado, pungente, amargo e adstringente) e alguma quantidade de todos os tipos de nutrientes necessários para o corpo (amidos, açúcares, proteínas, óleos, vitaminas e minerais) mas com ajustes para as necessidades individuais da constituição de cada um. Assim também a prática de ásana deveria conter todos os tipos de ásanas necessários para exercitar e relaxar o corpo inteiro ajustados aos fatores constitucionais individuais. Deveria incluir posturas sentado, de pé, pronadas, expansivas, de contração e movimentos de subida e descida, mas de um modo e numa sequência que nos mantenha em equilíbrio e considere nossa estrutura energética individual e condições mentais.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Vata

Geral: mantenha sua energia firme, equilibrada e consistente; modere e sustente seu entusiasmo.

Corpo: matenha seu corpo calmo, centrado e relaxado; faça o ásana devagar, gentilmente e sem uso indevido ou repentino de força, evite movimentos abruptos.

Prana: mantenha a respiração profunda, calma e forte, enfatizando a inalação.

Mente: mantenha a mente calma e concentrada, aterrada no momento presente.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Pitta

Geral: mantenha sua energia fria, aberta e receptiva, como a lua crescente.

Corpo: mantenha o corpo frio e relaxado; execute os ásanas em modo de entrega para remover o calor e a tensão.

Prana: mantenha a respiração fria, relaxada e difusa; exale pela boca para aliviar o calor quando necessário.

Mente: mantenha a mente receptiva, desapegada e alerta mas não afiada ou crítica.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Kapha

Geral: se aqueça apropriadamente e então execute o ásana com esforço, velocidade e determinação.

Corpo: mantenha o corpo leve e movendo-se, aquecido e seco.

Prana: mantenha o Prana se movendo para cima e circulando; tome fôlego, respirações rápidas se necessário para manter a energia.

Mente: mantenha a mente entusiástica, desperta e focada como uma chama.

Etapas do caminho tântrico – uma introdução

Este texto traz uma breve introdução ao Tantra Yoga e delinea as três principais etapas do caminho.

Pode-se dizer que o Tantra é uma variação de Yoga. Neste caso, considerando-se como Yoga um método ou conjunto de técnicas que devem ser praticadas para alcançar a libertação espiritual. Um dos significados da palavra Tantra é teia ou rede e essa é uma das tradições de sabedoria indiana extremamente conectada com a ideia de sucessão mestre discípulo. Tantra também é o nome que se dá aos textos que transmitem os conhecimentos desta tradição.

Termos bastante conhecidos no momento do Yoga que tiveram origem ou que são muito enfatizados no Tantra são: chakras, kundalini e corpo sutil. Um fato desconhecido de grande parte dos praticantes é que as supostas “ginásticas de alongamento” ensinadas por aí como sendo Hatha Yoga ou alguma de suas variações tem origem tântrica. Pois o Hatha Yoga é um das “modalidades” tântricas mais conhecidas.

Vale ressaltar que não se pode separar o Tantra de outras tradições indianas como o Rāja Yoga, o Samkhya e o Vedanta. Pois, por eles terem tido origem no mesmo berço cultural e por suas ideias principais terem sido colhidas dos Vedas eles compartilham de conceitos comuns. Um desses conceitos são os cinco elementos densos ou Mahābhūta: espaço, ar, fogo, água e terra. Esse conceito é descrito e comentado em vários textos de várias tradições indianas, dentre eles: Yoga Sūtra de Patañjali, Samkhya Karikā e Bhagavad Gitā. Além disso, os cinco elementos são essenciais para várias práticas meditativas tântricas.

Embora haja algumas semelhanças com outros caminhos de libertação espiritual, um fator importante no Tantra é que a libertação não é vista como uma “fuga do mundo”, mas sim como uma união com o mundo. A libertação seria realizar que não há bem ou mal e, portanto, tanto faz estar aqui como não estar, pois a realidade é perfeita. Neste sentido, o sofrimento de que tanto se fala nessas tradições seria uma não-aceitação (por ignorância) da realidade.

Um fator essencial da prática tântrica que a distingue de outras práticas é a ênfase na recitação de mantras. Por exemplo, no Rāja Yoga praticamente não há recitação de mantras. Na verdade, o único mantra mencionado no Yoga Sūtra é o Om. A recitação de mantras é tão importante para o Tantra que a maioria dos mestres dá um mantra para o aluno recitar por algum tempo depois que ele é iniciado (depois que recebe Diksha, no bom sentido, não no sentido avacalhado que estamos vendo recentemente). Esse tempo pode durar anos, dependendo do mantra e do objetivo. No Tantra, geralmente se fala em centenas de milhares, ou talvez, milhões de repetições de um mantra, acompanhado de várias outras práticas ritualísticas como Nyasa.

Após o mestre observar a evolução de seu díscipulo, pode iniciá-lo na segunda etapa do percurso: os yantras. Os yantras são imagens, desenhos ou pinturas que representam devas específicos. Dependendo da prática, do ritual, do deva e dos chakras que serão trabalhados, yantras diferentes são empregados. O Yantra de Sri Tripura Sundari é mostrado na imagem abaixo.

Yantra de Tripura Sundari
Yantra de Tripura Sundari

Após a realização do Yantra o díscipulo pode ser iniciado ao Chakra Puja. Aqui temos dois termos que geralmente aparecem separadamente. Chakra significa círculo ou vórtice e puja pode significar ritual. Neste caso, especificamente, o Chakra Puja trata-se de um ritual em que os adeptos formam um círculo e, em geral, o mestre fica no centro do círculo, para realizarem determinados rituais secretos. Pouquíssimos alunos alcançam a graça de poderem ser iniciados neste tipo de prática. Poucas pessoas no mundo já participaram. Esta seria a etapa final do caminho tântrico e, para praticá-la seria necessário que o candidato já tivesse alcançado um elevado grau de realização especialmente em relação ao não-apego e a não ser afetado por objetos que causam perturbação ou desejo na maioria das pessoas.