Os Motivos Puros – Hareesh

No texto disponível em https://tantrikstudies.squarespace.com/blog/the-pure-motive , Hareesh apresenta antídotos para os motivos “não muito corretos” pelos quais buscamos o Yoga. Neste post, há um resumo dos motivos e antídotos.

Segundo Hareesh, os 3 motivos impuros que enfraquecem nossa prática e evitam que nosso objetivo seja alcançado são:

  1. Manter um visão de si mesmo como quebrado, danificado ou pecaminoso e fazer Yoga para “consertar” a si mesmo;
  2. Praticar Yoga (ou qualquer disciplina espiritual) para sentir-se bem, ter barato e/ou alcançar estados alterados de consciência;
  3. Praticar Yoga (ou qualquer disciplina espiritual) para obter poder sobre os outros, para “conseguir amigos e influenciar pessoas” ou para apoiar o ego por receber reconhecimento e admiração.

Os 3 motivos puros, que servem como antídoto para os impuros, segundo Hareesh são:

  1. Trilhar o caminho para conhecer a verdade de seu próprio ser, por amor de si mesmo e para o benefício de todos;
  2. Trilhar o caminho para descobrir sua divindade inata já existente, porque esse é o desejo natural do seu coração e para oferecer o fruto da descoberta a todos os seres;
  3. Trilhar o caminho com reverência e amor, simplesmente porque é sua natureza fazê-lo.

Yoga é Equanimidade – Bhagavadgītā – 2.48

समत्वं योग उच्यते

samatvam yoga ucyate

A equanimidade é chamada de Yoga

समत्वम् [samatvam] => सम + त्व

सम => palavra neutra, no singular, alguns significados: equanimidade, neutralidade, indiferença

त्व =>  sufixo secundário, significando a qualidade de “X”. Como está conectado a uma palavra neutra no acusativo, recebe o म् no fim da palavra. Esse म् é escrito como um ponto em cima त्व ficando त्वं, pois é seguido da semivogal य् .

योग [yoga] => palavra masculina, yoga

उच्यते [ucyate] -> verbo na terceira pessoa do singular da voz passiva no presente. Raiz: √वच् [vac] . Significado: é chamado/a de.

Vedanta com Jonas Masetti – João Pessoa – Novembro de 2017

O mestre de Vedanta Jonas Masetti estará em João Pessoa para ministrar palestra e Workshop.

A palestra da sexta-feira à noite será aberta ao público e o workshop do sábado será fechado para os inscritos no evento.

As vagas são limitadas reserve já a sua por mensagem inbox ou por e-mail: jonasnapb@gmail.com

 

Possíveis efeitos adversos causados pela meditação

Em outro texto publicado neste site, enfatizamos a necessidade de se praticar meditação em uma comunidade ou grupo de pessoas que tenham o mesmo objetivo que a gente. Melhor que isso, em que haja pessoas mais experientes que possam nos ajudar em dificuldades que a meditação possa trazer para nossas vidas. Além disso, naquele texto se enfatizou a necessidade de que a vida do praticante de meditação seja pautada em princípios éticos e morais.

Também já falamos sobre os meditantes intensivos novatos. Ou seja pessoas que nunca praticaram meditação e se submetem a um processo violento de meditação em alguns eventos de espiritualidade fast-food que duram mais de uma semana (isto é, pra quem não sair correndo e pulando o muro logo no primeiro dia). Algumas sugestões para pessoas que pretendem participar de retiros de meditação foram dadas aqui.

Na tabela abaixo, há uma lista de problemas que podem afetar as pessoas que praticam meditação. Os problemas decorrentes da prática intensiva de meditação não são recentes. Existem vários termos técnicos para se referir a tais problemas, por exemplo:

  • No Budismo Zen: Makyō;
  • No Yoga: produto do sukshma sharira em um estado instável;
  • No Budismo Tibetano: Nyam

Tradução realizada por: https://cienciacontemplativa.com.br/

Artigo de onde esta tabela foi traduzida/adaptada: Mindfulness Meditation Research: Issues of Participant Screening, Safety Procedures, and Researcher Training

Autores: M. Kathleen B. Lustyk; Neharika Chawla; Roger S. Nolan; G. Alan Marlatt

Link para o artigo: http://spu.edu/depts/spfc/happenings/documents/13_2009_Lustyketal_MM_safety_AMBM.pdf

Fonte e design do estudo Efeitos Adversos Categoria dos efeitos colaterais Tipo de Meditação Duração da Meditação / Descrição da Intensidade
Castillo: múltiplos estudos de caso Em todos os casos houve relatos de: despersonalização e desrealização. MH TM Práticas individuais (frequência diária/duração não relatada) e cursos residenciais extensos
Chan-Ob e Bonnyanarunthee: múltiplos estudos de caso Caso 1: relatos de sintomas psicóticos, incluindo: alucinações, medos de perseguição, insight e julgamento pobres, redução da ingestão alimentar, insônia relatada como completa perda de sono.
Caso 2: relatos de sintomas psicóticos, incluindo: alucinações, ilusões de grandeza, desordem do pensamento, perda de apetite, inabilidade para dormir.
MH, PH Tipo específico não relatado Caso 1: os sintomas foram relatados após um retiro de meditação intensiva de 7 dias onde foi sugerido que “…meditassem o tempo todo”

Caso 2: os sintomas foram relatados após 3 noites consecutivas de meditação andando pela noite.

French et al. : um caso de estudo Sentimentos de ansiedade, sentimentos de disforia, sentimentos de mania, incluindo euforia/grandiosidade, relatos de comportamento similares à psicose MH TM Prática individual (frequência diária/ a duração não foi relatada)
Jaseja: revisão Aumento da suscetibilidade à epileptogênese PH Vários métodos Este é um artigo teórico relatando EEG e efeitos neuroquímicos da meditação
Kennedy: múltiplos casos de estudo Caso 1: relatos de despersonalização e desrealização, incluindo: autoscopia, visão dupla, grandiosidade/exaltaçao.
Caso 2: relatos de despersonalização e desrealização, sentimentos de ansiedade.
MH MM Dois casos com práticas individuais. Caso 1: a meditação é descrita como treinamento da atenção e Yoga; Caso 2: prática de Arica (relatos de prática na maioria dos dias da semana por uma duração não-especificada)
Lazarus: sumário de múltiplos casos Sentimentos de depressão, incluindo: tentativa de suicídio seguindo um treinamento de um fim de semana de TM. Sentimentos de ansiedade, incluindo: tensão, agitação extrema. Relatos de despersonalização severa MH, PH TM O autor sumariza uma coleção de observações clínicas precipitadas por uma prática individual de TM (frequência diária/duração não relatada)
Persinger: um estudo de caso O EEG revelou mudanças nos lóbulos focais e temporais e mudanças elétricas similares a epilepsia após 19 minutos de TM PH TM Um veterano de 10 anos de ™ observado durante uma sessão de 30 minutos
Persinger: um estudo de revisão Sinais similares a epilepsia parciais significativamente mais complexos PH TM 1081 estudantes universitários pesquisados; 221 deles eram meditadores experientes
Sethi e Bharghava: múltiplos estudos de caso Caso 1: relatos de psicose, incluindo: ilusões de perseguição, alucinações auditivas.
Caso 2: relatos de ilusões religiosas.
MH, SH Tipo não relatado Caso 1: partiparam em 4 dias de meditação intensiva em isolamento
Caso 2: participaram em um retiro residencial de 6 dias.
Shapiro: análise secundária ou amostra de conveniência Sentimentos de depressão, incluindo: motivação diminuída para vida, negatividade aumentada.
Sentimentos de ansiedade, incluindo: pânico ou tensão.
Sentimentos de dissociação, incluindo: desorientação/confusão.
Sentimentos de vício em meditação, relatos de dor
MH, PH Vipassana Retiro residencial, de 2 semanas ou 3 meses de duração, com pratica formal ocorrendo pelo menos 10 horas por dia.
Vanderkooi: múltiplos casos de estudo Caso 1: relato de surto psicótico com: alucinações, ilusões religiosas.
Caso 2: relato de psicose, incluindo: alucinações, medo intenso e solidão.
Caso 3: relato de psicose, incluindo: alucinações, ilusões religiosas.
MH, SH Zen, TM, MM Três casos de psicose seguindo retiros residenciais. Caso 1: retiro Zen de 7 dias. Caso 2: retiro Theravada de 10 dias. Caso 3: retiro MM de fim de semana
Yorston: um caso de estudo Sentimentos de mania, incluindo: falar de mais, hiperatividade, distração, desinibição sexual. Relatos de sintomas psicóticos, incluindo: desordem do pensamento com fugas de ideias, ilusões de grandiosidade. Insônia envolvendo 5 dias de relatos de falta de sono MH Meditação do Yoga e do Zen (sesshin) O Yoga fo descrito como uma aula de fim de semana. O Sesshin foi descrito como um evento intensivo de fim de semana. O paciente também participou de um retiro Zen budista de 2 meses (a frequência/duração da prática diária não foi relatada)

Yoga e Ciência 3.0: Neurônios, Músculos Esqueleto

Neste vídeo, é apresentada a visão geral das relações entre cérebro, corpo e Yoga. Além disso, a postura Virabhadrasana 1 é analisada antomicamente.

Neste vídeo, é apresentada a visão geral das relações entre cérebro, corpo e Yoga. Entenda:

  • O que são os neurônios e as sinapses;
  • O que são neurotransmissores;
  • Os efeitos da gravidade nos músculos e esqueleto e o que o Yoga tem a ver com isso;
  • Análise anatômica da postura Virabhadrasana 1.

 

Yoga e Ciência: O Método Científico

Neste vídeo, uma abordagem genérica do método científico é apresentada bem como a análise de um artigo científico recente na área de ciência contemplativa.

Neste vídeo, uma visão geral do método científico é apresentada, detalhando os passos principais de uma abordagem genérica do método. Além disso, na parte final do vídeo, um artigo científico recente que avalia os efeitos de práticas contemplativas em seres humanos é analisado a partir da perspectiva do que foi descrito no vídeo.

Os passos principais do método científico mencionados no artigo são: observação do mundo, levantamento de hipóteses, coleta de dados, teste de hipóteses, refinamento das hipóteses e desenvolvimento de teorias.

Para facilitar o entendimento do método, é apresentado um exemplo do dia-a-dia: o exemplo da torradeira. Esse exemplo foi proposto no site Khan Academy e foi adaptado para os propósitos desta série de vídeos.

O artigo que é analisado no fim do vídeo avalia os efeitos de Yoga e meditação nos níveis de estresse dos participantes de um treinamento de 3 meses de duração.

Nova Série de Vídeos Elucida as Conexões entre Yoga e Ciência

Neste vídeo apresentamos os conceitos básicos de Yoga, tanto da perspectiva oriental quanto ocidental. A partir deste vídeo, o leitor poderá perceber o quão amplo é o oceano de conhecimentos do Yoga. Além disso, algumas perguntas são respondidas: O que é Yoga? Pra que Yoga? Como o Yoga atua?

Podemos dizer que, de modo geral, as diversas metodologias yogui têm sido estudadas no ocidente sob o tema de pesquisa chamado de Ciência Contemplativa. Este é o tema principal desta página.

Com o intuito de se conectar ainda mais com o tema de Ciência Contemplativa, a partir desta semana, estaremos produzindo uma série de vídeos sobre Yoga e Ciência. O objetivo desta série de vídeos é buscar na literatura científica explicações para os efeitos psicofisiológicos provocados pela prática de Yoga e apresentar tais explicações de modo suave. Além disso, serão abordados temas sobre Qualidade de Vida e Yoga.

Ao longo dos vídeos iremos elucidar alguns termos técnicos relacionados ao Yoga e à biologia e psicologia. O objetivo não é dar aulas desses assuntos mas esclarecê-los minimamente para tornar possível traçar as conexões entre Ciência e Yoga.

Neste primeiro vídeo, uma das chaves de sucesso do Yoga na redução do stress é explicada utilizando o conceito introduzido por Eanes: “Engenharia Reversa do Yoga”.

Vamos nessa?

 

Estudo sugere melhoria em fatores anti-inflamatórios em praticantes de Yoga, Meditação e Terapias Mente-Corpo

Esta é uma tradução resumida do abstract do artigo original em inglês disponível na Revista Frontiers in Human Neuroscience.

Um estudo realizado por B. Rael Cahne colegas (Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Universidade do Sudeste da Californa) indicam melhorias em fatores anti-inflamatórios. Os resultados foram obtidos usando os indicadores de BDNF (Brain Derived Neurotrophic Factor), níveis de cortisol salivares e citoquinas pro e anti-inflamatórias.

Os dados foram coletados de 38 pessoas, com idade média de 34,8 anos, que participaram de um retiro de Yoga e Meditação com duração de 3 meses. Os participantes foram avaliados antes e depois do retiro. Os autores tem como hipótese que os itens avaliados indicam padrões de mudança na integração mente-corpo e no bem-estar.

Os níveis elevados de BDNF observados são um mediador potencial entre as práticas meditativas e a saúde cerebral. A taxa aumentada de CAR (Cortisol Awakening Response), provavelmente, é um reflexo do aumento da excitação dinâmica fisiológica e do relacionamento entre as mudanças pro e anti-inflamatórias de citoquinas para ajudar o funcionamento saudável do sistema imunológico.

A principal atividade meditativa dos participantes foi a prática chamada de Samyama. Essa prática faz parte do Yoga Clássico de Patañjali e é composta de três estados: Dharana, Dhyana e Samadhi.

Esta é uma tradução livre e adaptada do texto original em inglês. Caso a utilize, por favor mencione a fonte.

O Verdadeiro Vijñaana-Bhairava Pode, Por Favor, Levantar-se?

Esta postagem é uma tradução livre e resumida do texto original em inglês disponível no site de Christopher Wallis (Hareesh). O Vijñana-Bhairava Tantra é um dos textos mais importantes do Tantra indiano e um dos únicos que sobreviveram com uma tradição real de prática. Disponível em inglês em: http://tantrikstudies.squarespace.com/blog/2016/10/6/will-the-real-vijaana-bhairava-please-stand-up

Um dos mais fascinantes, estranhos, misteriosos, texto de prática convincente na história do Yoga é o Vijñana-bhairava-tantra, “A Escritura de Bhairava, aquele que é Consciência”. Bhairava é um nome próprio para o inspirador aspecto de Deus, e é o nome divino preferido pelos Shaiva Tântricos não-duas de mais de 1000 anos atrás.

O caráter não-usual do texto é sinalizado no próprio título pelo uso único do nome Vijnãna-bhairava, referindo-se àquele Bhairava que não é uma deidade visualizável com atributos específicos, mas sim é nada mais que o poder inspirador da própria Consciência (“Awareness”). O Vijñana-bhairava é entendido como a “deidade” que misticamente revelou as técnicas yoguis do Vijñana-bhairava-tantra (VBT). Esta postagem constitui-se de uma introdução para o texto de 1200 anos de idade, organizando a maior parte do que tenho dito sobre ele em um único lugar.

Uma Breve Introdução

De um corpus que antes enumerava centenas de textos escriturais, o VBT é a única escritura Tântrica revelada com uma tradição contínua de estudo até o presente (além dos Siddhāntāgamas que ainda são estudados no distante sul da Índia). Aqui, ‘escritura’ refere-se ao trabalho falado (ou sobre o qual alega-se ter sido falado) pelo próprio Śiva (īśvara uvāca) ou pela própria Śakti (devyuvāca). Em outras palavras, um escritura é diretamente revelada por Deus. (No Tantra Budista, diz-se que as escrituras são diretamente reveladas pelo Buddha ou por um Bodhisattva celestial). Já que virtualmente todas as outras escrituras Śaiva incluíam injunções ritualísticas complexas, a execução das quais era suportada por uma forte base institucional, seu estudo decaiu ao longo de séculos de conquista Mulçumana que destruiu aquela base institucional. Essa é a razão principal pela qual na Kashemira do século 20, dominada por Mulçumanos, o VBT é a única escritura revelada da Era Tântrica que ainda é estudada e copiada.

Abaixo eu ofereço uma discussão das características interessantes do VBT que fazem ela sobrassair-se na história do Yoga, sem contar do Yoga Tântrico. (Note na seção seguinte que eu usei as traduções de Singh para os versos que eu ainda não tenho uma tradução própria).

Uma Orientação sobre o Texto e suas Práticas

Um exame inicial do VBT rapidamente revela ao leitor que ele está aqui lidando com um texto cujas ideias e pressupostos sobre a natureza da prática yogui são, em alguns modos, radicalmente diferentes daqueles da tradição do Yoga clássico. O Yoga-sūtra de Patañjali, o texto prototípico do Yoga clássico estressa o desengajamento dos objetos dos sentidos externos (vairāgya) e uma interiorização tão completa que o acadêmico do Yoga, Mircea Eliade, em toda a sua seriedade, comparou o yogui clássico a um vegetal. Em contraste, o VBT (escrito apenas quatro séculos após o Yogasūtra) frequentemente enfatiza um engajamento dinâmico com o mundo externo, embora com uma mudança significativa na atenção ou percepção em relação à natureza do mundo.

No Yoga-sūtra 1.16, lemos: ‘A ausência de paixão é uma ausência total de desejo por qualquer coisa material…’, sugerindo o cultivo da indiferença extrema em direção ao mundo externo. O VBT, por outro lado, assegura uma perspectiva diferente, exemplificada nos seguintes versos:

Aonde quer que a mente vá, seja em direção ao externo ou em direção ao interno, em todo lugar há o estado de Śiva, por que o Divino é todo-pervasivo. (116) Onde e quando a consciência do Senhor onipresente é revelada através dos órgãos dos sentidos, o objeto de sentido [deveria ser contemplado como] tendo exatamente a mesma natureza [como aquela da consciência]…(117)

De fato, este texto vai tão longe ao ponto de recomendar a absorção nos estados internos surgindo como um resultado direto de desfrutar os prazeres dos sentidos, incluindo sexo, comida, bebida e música. (Ao contrário da crença popular, isto é uma grande raridade em textos Tântricos, pelo menos nos Śaiva). Isso é exemplificado no verso 73:

O yogui que saboreia a música e o som ao ponto de mesclar-se com eles torna-se preenchido com uma felicidade sem paralelos, alcança uma consciência elevada e experimenta unidade com o Divino.

Isto deve ser visto como um afastamento radical da tradição anterior vigorasamente ascética, que afirmava que o envolvimento com os objetos dos sentidos inevitavelmente puxava o praticante para longa da experiência do Self verdadeiro e dolorasamente emaranhava-o com as vicissitudes da vida mundana. Contudo, enquanto ilustrando esse contraste, deve-se enfatizar que o VBT claramente não está adovgando a auto-indugência simples (a qual, como nossa experiência verifica, não é caminho de plenitude). O verso 71, por exemplo, especifica que a pessoa deveria tornar-se absorvido no sentimento interno de deleite que surge do estímulo externo  e não nos próprios estímulos. Então, a energia do desejo, previamente vista como um veneno na sādhanā, é redirecionado em direção ao alcance da consciência expandida, como pelos termos do posterior Kulārṇava Tantra (2.63): “O que é chamado de pecado, torna-se um mérito quando feito por um propósito superior”. Deste modo, a tradição Tântrica assegura que o desejo por si mesmo não é um problema tanto quanto o apego à crença de que o desejo deveria ser satisfeito e à crença de que a satisfação do desejo é o caminho para a felicidade. Esta visão errada surge em conexão com a ideia de que os sentimentos de felicidade são causados por ou dependentes dos estímulos que ajudam a engatilhá-los. Este não é demonstravelmente o caso e, portanto, o problema essencial é de ignorância e não de desejo.

Outra característica excepcional do Yoga clássico é sua doutrina fundamental de que o Self é alcançado por meio da cessação de todas as flutuações mental-emocionais (Yoga-sūtra 1.2). Nesta visão, os pensamentos, como estática de rádio, mascaram a pura, doce, simples melodia do Self interno e são, portanto, detritos mentais inúteis quando tenta-se realiza esse Self. Em rígido contraste, se formos identificar uma técnica como sendo o tema mais dominante e pervasivo do VBT, ela seria provavelmente a bhāvanā, um termo que abrange o ‘cultivo da atenção’, a ‘contemplação criativa’ e o ‘sentimento dentro do que é’. É uma versão da prática de bhāvanā, um construto-pensamento profundamente refinado (śuddha-vikalpa) deve ser mantido estável em consciência (awareness). Longe de obscurecer o estado de Self, isto permite que a mente relaxe e venha a repousar sobre a ideia nutritiva de que está em alinhamento com a verdadeira natureza da realidade até que ela se dissolva em um estado-sentimento puro correspondendo à verdade da ideia contemplada. Esta mudança marcante novamente indica a natureza revolucionária da perspectiva Tântrica. Os exemplo de bhāvanā são abundantes pelo texto. Nos versos de 63 a 65, o aspirante contempla seu corpo e o universo como a natureza da consciência alegre. No 109, ele contempla, “Já que eu tenho todos os atributos de Śiva, eu sou o mesmo que o Senhor mais elevado”. No verso 110, ele medita no pensamento (e busca atualizar a experiência correspondente): “as ondas-de-energia do universo têm surgido em suas várias formas de mim, Bhairava.” Essas contemplações criativas não são apenas uma inovação metodológica sobre a tradição anterior, mas também claramente afirmam uma diferença doutrinária: que é a não-dualidade sobre e contra a dualidade. A dualidade da tradição clássica anterior, de fato, não foi uma das diferenças entre a Consciência pura e única, mas uma distinção ontológica entre a Consciência e o mundo. Essa dualidade que o VBT negligencia alegremente, encoraja o aspirante a ver a Consciência Divina pulsando no mundo manifesto inteiro tanto quanto em seu mais profundo núcleo. Surpreendentemente, o VBT é um dos primeiros textos de práticas não-duais a aparecerem, além de exibir maturidade e sofisticação de pensamento, apesar de seu Sânscrito frequentemente simplista. Essa atitude não-dual culmina no dhāranā final, que confiantemente proclama que cognição e conhecido (o conhecimento e seu objeto, o observador e o que é visto, o ouvinte e o que é ouvido, etc) são únicos e o mesmo (v. 137).

Além disso, o VBT é uma dos primeiros textos a apresentar práticas de Kuṇḍalinī (veja os versos 28-31 e 35). Apesar do interesse generalizado em Kuṇḍalinī, ainda há pouco ou nenhum estudo de suas origens e dos primeiros usos do termo. Qualquer pessoa que tente fazer uma busca encontrará informação quase exclusivamente baseada em materais posteriores (pós-clássicos) e reinvenções modernas. (Por exemplo, O Yoga Kuṇḍalinī do Yogi Bhajan não tem nenhuma relação com nada que encontramos nos manuscritos Sânscritos). Devido ao declínio de interesse no estudo acadêmico da cultura convencional, temos literalmente dezenas de milhões de pessoas interessadas em algo que ainda não está bem entendido devido a uma total falta de estudos vigorosos sobre o assunto por alguém fluente tanto em Sânscrito quanto em Inglês.

Por fim, abaixo, temos uma classificação das categorias de práticas do VBT:

  • Respiração
  • Kuṇḍalinī
  • Dvādaśānta
  • Sentidos
  • Som e mantra
  • Vazio
  • Universo
  • Corpo
  • Coração/Centro
  • Prazer
  • Luz e Escuridão
  • Sono e Sonho
  • Prática com o corpo
  • Olhar
  • Equanimidade
  • Conhecimento/Insight
  • Sensações intensas e emoções
  • Aonde a mente vai
  • O “show mágico”
  • O Senhor supremo.
Esta é um resumo traduzido por Eanes T. Pereira. Caso utilize este texto em português por favor mencione a fonte.