O Raja Yoga Não-dualista de Shankara

Shankara foi um dos maiores Yoguis dos quais se tem conhecimento. Além disso, escreveu famosos comentários sobre textos sagrados da tradição de sabedoria indiana. Este texto apresenta os 15 membros do Raja Yoga de Shankara.
Esta é uma tradução resumida e adaptada do texto de David Frawley disponível em: https://vedanet.com/2012/06/13/the-fifteenfold-non-dualistic-raja-yoga-of-shankaracharya/

O original em inglês do qual alguns trechos foram traduzidos está disponível neste link.

shankar

Shankara, o Grande Yogi

Shankaracharya, ou o Professor Shankara, é um ds maiores mestres espirituais da história da Índia. Shankara tem sido chamado de o maior filósofo da Índia, senão de todos os tempos e do mundo. Seus ensinamentos são altamente racionais, claros e concisos, assim como profundamente místicos, desenrolando todos os mistérios do Self, de Deus, do universo, do Absoluto e da imortalidade. A maior parte do que hoje é chamado de Advaita (não-dualístico) Vedanta reflete a marca de sues insights. Ele é o principal professor da tradição Advaita Vedanta.

Shankara é o principal professor de Jnana Yoga ou “Yoga do Conhecimento”, que é frequentemente reconhecido como o elevado caminho yogui. Mesmo Patanjali afirma que a libertação ou Auto-Realização é obtida pelo conhecimento, não por qualquer outro meio e faz do Yoga um meio para alcançar aquele conhecimento mais elevado.

Contudo, muitas pessoas tendem a esquecer que Shankara foi um grande Raja Yogui também, um dos maiores de todos os tempos. Shankara discute todos os principais aspectos do Raja Yoga em seus diferentes livros e mostra que ele conhecia os segredos dos chakras, dos mantras, do pranayama, da concentração e da meditação, assim como as complexidades do Nirvikalpa Samadhi, o estado Yogui mais elevado.

O Raja Yoga Não-dual de Shankara

Shankara ensinou um Raja Yoga de 15 membros em seu curto trabalho Aparokshanubhuti. Aparoksha refere-se ao conhecimento obtido pela percepção direta na própria consciência, que está além da razão e da percepção sensorial. Anubhuti é a experiência disso de momento a momento como a base da próprio ser.

O Yoga de 15 membros de Shankara combina Raja Yoga e Jnana Yoga ao invés das práticas físicas de Hatha Yoga. Este Raja Yoga de 15 membros é bastante avançado, mesmo para Yogis avançados. Não deve haver nenhuma pessoa no mundo, muito menso no ocidente, que possa segui-lo diretamente sem já ter passado por um treinamento considerável e práticas de apoio preliminares. Não estamos recomendando que o aluno convencional de Yoga entre no Raja Yoga de Shankara como sua prática primária, mas use-a para ver grandes profundidades do Yoga que permanecem bastante além do que o Yoga moderno se tornou, particularmente em suas abordagens comerciais e de exercícios. Shankara tira as principais práticas externas e técnicas de Yoga e substitui por seus modos de meditação do conhecimento do Self  ou a realização da não-dualidade.

A importância de Vichara ou Questionamento

O Jnana Yoga ou Yoga do Conhecimento é baseado em pensamento profundo, observação e questionamento (vichara). Esta é também a base do Raja Yoga de Shankara, sem o qual não é possível entendê-lo. Shankara afirma:

  • Sem questionamento (vichara) não há conhecimento, que não é obtido por nenhum outro meio, assim como um objeto é revelado apenas pela luz e não por outra coisa.
  • Tudo surge da ignorância e é dissolvido pelo conhecimento. Os diferentes pensamentos são os criadores de tudo isso. Este questionamento é desse tipo.

Mesmo a meditação não pode nos trazer Auto-realização a menos que esteja aliada a um questionamento profundo ou vichara, uma meditação do Self, ao invés de outros objetos ou ideias. Por outro lado, sem a meditação profunda, vichara ou questionamento também não é suficiente, pois pode permanecer apenas em nível conceitual. Em relação a isso, Shankara ensina seu Raja Yoga de 15 membros para ajudar na realização do conhecimento gerado por vichara ou questionamento, e como um nível mais profundo de questionamento. Claramente, o papel do conhecimento e vichara não tiveram o lugar central apropriado na maior parte do Yoga moderno. Shankara nos ensina como trazê-lo de volta.

O Raja Yoga de 15 membros de Shankara

Os 15 membros são:

  1. Yama
  2. Niyama
  3. Renúncia
  4. Não-falar (Mauna)
  5. Lugar
  6. Tempo
  7. Ásana
  8. Mulabhanda
  9. Equilíbrio do corpo
  10. Fixação do olhar
  11. Pranayama
  12. Pratyahara
  13. Dharana
  14. Atma-Dhyana
  15. Samadhi

Shankara evita a longa descrição de Yamas e Niyamas encontrada em outros textos de Yoga. Ele enfatiza a necessidade de ver tudo como Brahman ou Deus como o meio primário de Yama ou auto-controle. Ele também simplifica os Niyamas promovendo um grande reconhecimento da consciência de unidade e da harmonia de sentimentos que surgem deles.

Mauna é geralmente referido como não falar, que é uma observação importante em muitos caminhos de Yoga. Aqui, Shankara esclarece seu significado mais elevado como uma prática interna de lidar com a realidade além da fala e da mente. Habitar na mais elevada realidade é o Mauna real, não apenas refrear a comunicação verbal. É um estado de consciência além do som, do qual não há base para falar de nada mais como real.

Aqui Shankara define Ásana não como uma postura para sentar ou qualquer outra postura física mas como habitar na contemplação contínua da Suprema Realidade.

Aqui, Mulabhanda consiste em manter-se naquele Brahman que é a raiz de todos os seres e a raiz da mente através da qual a mente é naturalmente controlada.

Para aqueles que ainda não estão maduros em sua vida espiritual ou sadhana, as práticas mais comuns de Hatha Yoga também devem ser incluídas. Isto inclui quase todo mundo. Portanto, Shankara deixa claro que ele não está rejeitando essas práticas mas simplesmente adicionando dimensões mais elevadas. Ele também termina enfatizando a necessidade de devoção como um fundamento para o conhecimento, que de outra forma pode permanecer seco e apenas conceitual.

 

 

Os três centros do ser humano (uma visão tântrica)

Este texto trata dos 3 centros energéticos humanos segundo uma visão tântrica.

Quando o ser humano nasce, seu centro energético principal está localizado na região do abdomen próximo ao umbigo. Podemos interpretar isto de várias formas, uma delas é o fato de que um bebê no ventre da mãe está fisicamente conectado à sua mãe pelo cordão umbilical.

Esse centro energético umbilical é bastante enfatizado na cultura japonesa, ficou famoso devido a uma prática executada por samurais em que por motivo de honra um samurai esfaqueia a si mesmo enfiando a faca no hara (tandem) que é justamente a região do primeiro centro energético.

O primeiro centro energético está associado com dependência tanto física quanto psicológica, mas também está associado com os aspectos de intuição, criatividade, êxtase e apreciação da existência. Podemos dizer que o primeiro centro energético seria um ponto de contato do ser humano com a espiritualidade.

Após o nascimento, a criança ainda dependente passa a receber carinho e cuidados de seus pais (na maioria das vezes isso deveria acontecer). Assim, o segundo centro energético localizado na região do peito/busto passa a ser fortalecido. A pessoa passa a agir levado principalmente por emoções.

Com o passar do tempo, a família, a escola e outras instituições passam a exercer determinados tipos de controle educacional no ser humano fazendo com que ele passe a agir de modo cada vez mais racional, se afastando das emoções, intuições e criatividade. É neste momento que os problemas começam a surgir, pois os dois primeiros centros são enfraquecidos e o terceiro centro (localizado na região da testa) passa a ser fortalecido.

A pessoa que possui o terceiro centro energético muito mais fortalecido do que os outros dois é muito racional. Quer racionalizar tudo, inclusive atos que deveriam ser naturais e prazerosos como a alimentação e a sexualidade. A partir do momento em que a pessoa pensa em tudo nos mínimos detalhes, por exemplo, conta a duração para fazer as atividades que seriam prazerosas, a vida começa a perder o sentido e a pessoa se afasta da espiritualidade.

Um dos possíveis motivos pelos quais as pessoas procuram atividades que parecem irracionais mas que dão prazer e satisfação seria essa necessidade latente de entrar em contato com o primeiro centro energético.

A tradição indiana desenvolveu uma metodologia chamada de Yoga que permite a energização adequada dos centros energéticos humanos. O problema é que mesmo essa prática milenar tem sido deturpada por pessoas que, mesmo tendo boas intenções, misturam os conceitos milenares com uma grande carga de bobagens modernas e invenções desconectadas com a espiritualidade.

Ashtavakra Gita

Ashtavakra foi um grande sábio indiano. Parte de seus ensinamentos estão contidos na Ashtavakra Gita. Cujo capítulo 1 está traduzido a seguir:

Ashtavakra Gita – Capítulo 1

O velho rei Janaka perguntou ao jovem Ashtavakra – Como o conhecimento (ज्ञान – Jñāna) é obtido, como a liberação (मुक्ति – Mukta) é alcançada e como o não-apego (वैराग्य – Vairagya) é alcançado. Por favor, diga-me tudo isso. ||1||

O senhor Ashtavakra respondeu – Se você deseja obter a liberação (मुक्ति – Mukta), desista das paixões (desejos por objetos dos sentidos) como se fossem veneno. Pratique o perdão, a simplicidade (त्याग – Tyaga), a compaixão, o contentamento (संतोष – Saṃtoṣa) e a verdade (सत्य – Satya) como se fossem néctar. ||2||

Você não é terra (पृथ्वी – Prthivi), nem água (जल – Jala), nem fogo (अग्नि – Agni), nem ar (वायु – Vayu), nem espaço (आकाश – Akasha). Para libertar-se (मुक्ति – Mukta), conheça a testemunha (साक्षी – Sākśī) de tudo isso como o ĀTMĀ (आत्मा ĀtmĀ) consciente (चैतन्यरूप – Chaitanya Rupa).||3||

Se você desligar-se do corpo (शरीर – Sharira) e repousar na consciência, você ficará contente (सुख – Sukha), em paz (शांति – Śanti) e livre da prisão ( बंधन मुक्त – Bandhana Mukta) imediatamente. ||4||

Você não pertence a “Brahmana” (ब्राह्मण) ou a qualquer outra casta, você não pertence ao “Celibato” (ब्रह्मचर्य – Brahmacharya) ou a qualquer outro estágio, nem você é qualquer coisa que os olhos possam ver. Você é desligado, sem forma e testemunha (साक्षी) de tudo – então, seja feliz (सुखी – Sukhi). ||5||

A integridade (धर्म – Dharma), a não-integridade (अधर्म – Adharma), o prazer (सुख – Sukha) e o sofrimento (दुःख – Duhkha) estão conectados com a mente (मस्तिष्क – Mastishka) e não com aquele você que está em tudo (सर्वव्यापक – Sarvavyapaka). Você não é nem o feitor nem o colhedor dos frutos das ações, então você está sempre livre (मुक्त). ||6||

Você é a testemunha solitária de tudo que é, sempre livre (मुक्त). Seu único cativeiro (बंधन – Bandhana) é entender o observador como sendo outra pessoa. ||7||

O ego (अहंकार – Ahamkara) envenena-o para acreditar: “Sou eu quem faz”. Acredite “Eu não faço nada”. Beba deste néctar e seja feliz (सुखी). ||8||

A resolução “Eu sou único, puro conhecimento (ज्ञान)” consome como o fogo mesmo a ignorância (अज्ञान) mais densa. Esteja além dos desapontamentos e seja feliz. ||9||

Sinta o êxtase (विश्व), a felicidade suprema (आनंद) em que este mundo parece irreal como uma cobra numa corda, saiba disso e mova-se feliz (सुख). ||10||

Se você pensa que é livre (मुक्त) você é livre. Se você pensa que está preso (बंधा), está preso. É como foi bem dito: você torna-se o que pensa. ||11||

O ĀTMĀ (आत्मा) é a testemunha (साक्षी), que tudo permeia, infinita, única, livre, inerte, neutra, sem associações (असंग) e em paz. Apenas devido à ilusão ele parece mundano (सांसारिक).||12||

Medite (भावना) na consciência imutável e não-dual (अद्वैत) do ĀTMĀ (आत्मा). Seja livre da ilusão do “Eu” e pense neste mundo externo como parte de você. ||13||

Oh filho, você se habituou a pensar “Eu sou o corpo” desde muito tempo. Experimente a si mesmo e por essa espada do conhecimento (ज्ञान) corte aquela amarra (बंधन) e seja feliz (सुखी). ||14||

Você é livre (असंग), inativo, auto-luminoso, puro. Tentar manter-se em paz pela meditação é sua prisão (बंधन) ||15||

Você permeou este universo inteiro; realmente, você o permeou. Você é puro conhecimento, não se torne atormentado (ग्रस्त – Grasta). ||16||

Você é sem desejo, imutável, sólido e morada da calma, de inteligência incomensurável. Esteja em paz e não deseje nada, apenas consciência. ||17||

Saiba que a forma é irreal (असत्य) e apenas o sem-forma é permanente. Uma vez que você conhece isso, você não nascerá novamente. ||18||

Assim como a forma (रूप) existe dentro de um espelho e fora dele, O ĀTMĀ Supremo (परमात्मा) existe dentro e fora do corpo. ||19||

Assim como o espaço (आकाश) existe dentro e fora de uma jarra, o eterno ĀTMĀ Supremo (परमात्मा) existe em tudo. ||20||

O vídeo abaixo conta um episódio famoso da vida de Ashtavakra

Os efeitos ayurvédicos da prática de ásanas – David Frawley e Sandra Kozak

Este texto foi traduzido do inglês disponível em: https://vedanet.com/2012/06/13/the-ayurvedic-effects-of-asana-practice . Por favor, se utilizar esta tradução mencione o site www.cienciacontemplativa.com.br .

O texto em inglês é parte do livro “Yoga for your type”.

Introdução

De acordo com a filosofia do Yoga, o corpo físico é uma manifestação da consciência. Ele é uma cristalização dos padrões cármicos (comportamentais) criados pela mente. A chave para trabalhar com o corpo, portanto, é entender a consciência que está por trás dele, muito da qual reside fora de nosso senso ordinário. Isso requer que pratiquemos ásanas cientes não apenas das “tecnicalidades” das posturas mas também dos estados emocionais mentais que eles criam dentro de nós.

O Ayurveda compartilha essa teoria de Yoga. Ele vê o corpo como uma manifestação dos doshas, que não são meramente físicos mas também fatores de consciência prânicos e psicológicos. Não podemos olhar para o impatcto “dôshico” dos ásanas puramente sobre o nível físico mas também considerar seus efeitos psicológicos.

O Yoga vê os ásanas não meramente como posturas estáticas mas como condições de energia, que por sua vez são manifestações de consciência. A energia e a atenção que pomos numa postura é tão importante quanto a postura em si mesma. Podemos ver isso na vida ordinária em que como nos sentimos em um nível psicológico determina como nos movemos no nível físico. Padrões de longo prazo de sentimento e energia determinam a forma e o ritmo do corpo.

O Ásana como Estrutura Física

No nível mais básico, um ásana é uma postura física, um tipo de gesto corporal. Na prática de ásana pomos o corpo em uma posição que tem um resultado e uma mensagem específicos dependendo da forma que ele deixa o corpo. Cada ásana tem seu próprio efeito estrutural. As posturas sentadas fornecem estabilidade na espinha. Algumas delas criam flexibilidade nas costas e pernas. Como a maioria das posturas sentadas criam estimulação parassimpática, elas criam uma influência calmante e prazerosa. As posturas em pé aumentam a força geral e os níveis de energia. As posturas de flexão das costas tendem a excitar-nos (estimulação simpática), aumentam a extensão da coluna e criam força nos músculos elevadores do tronco. As posturas de relaxamento liberam e acalmam as energias criadas em cada prática de ásana. Todos os ásanas, sejam em grupos ou individualmente, têm suas próprias propriedades energéticas dependendo do que eles fazem com o corpo. Como uma casa eles possuem sua própria arquitetura.

Ásanas como energia prânica

O corpo físico é um veículo para as energias internas que são definidas por meio do Prana. Os ásanas são veículos por meio dos quais o Prana é dirigido. Um ásana não é meramente uma estrutura física mas uma condição de energia. Os ásanas expressam uma qualidade de energia e mesmo posturas relaxantes podem conter por trás delas uma condição dinâmica da mente e do Prana.

Esse fato dá a todos os ásanas uma certa neutralidade em seus efeitos energéticos, assim como um veículo em si mesmo é neutro, com o objetivo de sua viagem dependendo do motorista. Os ásanas são como um carro com Prana como a força motora. Não é apenas uma questão de ter o veículo certo mas também de movê-lo da forma correta. O impulso prânico por trás do ásana é tão importante quanto o próprio ásana.

Isso significa que dependendo de quanto Prana dirigimos, o mesmo ásana pode levar-nos para lugares diferentes. Por exemplo, uma postura sentada feita com pranayama forte pode ter um efeito muito energizante, enquanto com respiração normal ela pode aquietar-nos ou mesmo nos por pra dormir. A energética prânica de um ásana depende de vários fatores incluindo quão rápido fazemos a postura, o grau de força que usamos e, acima de tudo, como respiramos durante o ásana. De fato, o objetivo da prática de ásana é acalmar o corpo de modo que possamos trabalhar nosso Prana. O Prana se manifesta quando o corpo está quieto. Essa é a importância das posturas sentadas para a cura interna.

Ásana como pensamento e intenção

O ásana não é apenas estrutura e energia mas também reflete pensamento e intenção. Podemos chamar os ásanas de uma forma de exercício “pensativo” (thoughtful) ou “ciente” (mindful). Os efeitos do mesmo ásana variam dependendo de se nossa mente está clara ou turva e de se nossas emoções estão calmas ou turbulentas. Podemos executar um ásana com precisão técnica mas nosso estado mental determinará quão libertador o ásana realmente é para nossa consciência.

Nosso estado mental é refletido em nossa respiração. Quando amente está calma, a respiração está calma. Quando a mente está conturbada, a respiração está perturbada. Então, a energética prânica e mental vão juntas. Enquanto podemos mudar os efeitos prânicos de um ásana por meio da repiração, também podemos mudar os efeitos mentais de um ásana por meio de concentração e meditação. Um ásana deveria ser um tipo de meditação na forma e no movimento. Portanto, sempre deveríamos por nossas mentes em um espaço sagrado de silêncio, observação e desapego enquanto praticamos Yoga.

Se a nossa consciência não estiver engajada durante o ásana, então nossa prática permanece em um nível superficial. O Prana segue a energia da atenção. A postura corporal é um resultado disso. O tipo de postura que uma pessoa tem reflete como ela põe sua atenção na vida, o que ela faz mais comumente. É por isso que tantos de nós estamos com as costas curvas hoje em dia. Nossa principal postura é sentar à mesa, no carro ou em um sofá! Isso põe nossa energia fora de nós mesmos e então nossa energia interna afunda ou colapsa.

Em resumo, portanto, o efeito estrutural do ásana é o primeiro fator. O modo com energizamos o ásana por meio de Prana é o segundo fator. Isso inclui como nos movemos pelo ásana e como respiramos nele. Nosso estado mental é o terceiro fator. A principal regra em uma prática de ásana é manter a mente calma, introspectiva e atenta de modo que não percamos o foco na prática. Todos esses fatores estão interrelacionados. O dosha frequentemente contém a chave para o estado estrutural, prânico e emocional de uma pessoa.

Efeitos Ayurvédicos dos Ásanas

Cada ásana possui um efeito particular relativo aos três doshas. Da mesma forma que o Ayurveda classifica as comidas de acordo com seus efeitos dôshicos em boas ou más para Vata, Pitta e Kapha, dependendo dos gostos e dos elementos que compõem cada comida. Podemos olhar para os diferentes ásanas de acordo com sua habilidade estrutural para aumentar ou diminuir os doshas.

Contudo, essa equação dôshica dos ásanas não deveria ser tomada rigidamente por que o efeito prânico de um ásana pode superar seu efeito estrutural como mencionado anteriormente. A forma do ásana não seu principal fator. Pelo uso da respiração podemos modificar ou mesmo mudar os efeitos dôshicos do ásana. Também devemos lembrar da importância do pensamento e da intenção na prática de ásanas. Considerando o ásana, o Prana e a mente, podemos alterar um ásana particular ou ajustar a prática inteira em direção a um resultado dôshico particular. Combinando ásanas específicos, pranayama e meditação um equilíbrio interno completo pode ser criado e sustentado.

A aplicação dôshica dos ásanas é dupla:

  • De acordo com a constituição do indivíduo definida por seu tipo dôshico em Vata, Pitta e Kapha e suas misturas.
  • Relativa ao impacto do ásana nos doshas como funções fisiológicas gerais. Cada dosha tem seus lugares e ações no corpo que ásanas afetarão dependendo de sua orientação.

Aplicação Constitucional

Os tipos Vata têm diferentes estruturas corporais e movem-se de modo diferente dos tipos Pitta e Kapha. De modo similar, Pittas e Kaphas têm seus próprios movimentos particulares e posturas que assumem como parte da assinatura dôshica em seus corpos e mentes. Essa diferença entre os doshas é refletida no pulso de cada tipo.

  • Os tipos Vata possuem pulso com movimento semelhante a uma cobra. Eles movem-se de modo semelhante a uma cobra e como uma descarga de eletricidade, com movimentos rápidos, abruptos, imprevisíveis e irregulares. Sua energia interna e pensamentos têm a mesma velocidade, brilho, imprevisibilidade e descontinuidade.
  • Os tipos Pitta têm um pulso semelhante a uma rã que é nervoso, apertado ou delimitado por natureza. Eles movem-se como pulos de rã e movimento contínuo até alcançarem seu objetivo particular. Seu movimento é como fogo quando salta quando você alimenta-o com mais combustível. Eles agem com foco e determinação, indo passo-a-passo. Sua energia interna e pensamentos têm o mesmo movimento  e fluxo determinado e limitado.
  • Os tipos Kapha têm um pulso como um cisne que é amplo e fluído. Eles movem-se com a lentidão de um cisne, imponentes e elegantes, tomando seu tempo de forma ondulante. Sua energia flui como um rio serpentenado lentamente, em seu tempo pelo caminho, certos de seu objetivo final. Assim, quando Kapha se acumula, seu movimento se assemelha a água fluindo por um pântano, com resistência e levando a estagnação. Sua energia interna e pensamentos têm o mesmo movimento aquoso e possível inércia.

Cada tipo dôshico tem sua própria estrutura particular e energética de vida que estende-se para a prática de ásana. A prática de ásana deve considerar o dosha da pessoa para realmente ser efetivo.

  • A energia Vata é impulsiva e errática, como o vento que sopra forte mas não dura. Mas se nos opusermos a ele, ele fugirá ou quebrará. O Vata deve ser gentilmente refreado e apoiado, aterrado e estabilizado. Deve ser harmonizado e continuado de um modo consistente e determinado.
  • A energia Pitta é focada e penetrante e pode cortar e ferir. Pode ser gentilmente relaxada e difusa. É como um feixe que fere os olhos e é estreito em seu campo de iluminação mas, quando expandido, pode ser uma força iluminante.
  • A energia Kapha é resistente e complacente. Deve ser movida e estimulada por graus, como o gelo que deve ser derretido vagarosamente até que possa fluir suavemente. Devemos energizar consistentemente e estimular o tipo Kapha para ação posterior.

Contudo, se um ásana não pode ser bom para um tipo dôshico particular não significa que ele nunca deve praticá-lo. Significa que ele deveria praticá-lo de um modo que previna quaisquer desequilíbrios em potencial. Por exemplo, as flexões das costas. Realizadas de modo forçado ou rápido podem causar agravamento de Vata, com tensão severa ao sistema nervoso talvez mais do que qualquer ásana. Contudo, as flexões parciais suaves são ótimas para reduzir Vata que acumula-se na região superior das costas e ombros.

Cada família de ásanas como as posturas em pé, flexões para a frente, ou posturas invertidas possui benefícios gerais para o corpo como um todo e seu movimento potencial geral. Cada família de ásana exercita certos músculos e órgãos que, como parte da estrutura corporal inteira, não deveria ser negligenciada. Para enfrentar qualquer tendência em direção ao desequilíbrio, você deveria selecionar posturas dentro de cada família de ásana que fossem melhores para seu tipo corporal do que as outras dentro do mesmo grupo. Em geral, você deveria ter certeza de que todos os grupos musculares principais do corpo estão repreentados em sua prática pelo menos vários dias por semana.

De modo similar, se um ásana é bom para um dosha particular não significa que todas as pessoas daquele tipo dôshico deveriam praticá-lo. Isso significa que o ásana pode ser bom para elas se praticado do modo correto e se elas são fisicamente capazes de executá-lo. Cada ásana também tem seu grau de dificuldade que pode requerer certo aquecimento ou posturas preparatórias para abordá-lo de modo seguro. Por exemplo, a preparação correta para uma pose sobre a cabeça cria a musculatura de baços e ombros necessária para sustentar um equilíbrio de cabeça bom e seguro. Se uma pose sobre cabeça é boa para seu tipo dôshico não significa que você deveria simplesmente pular na postura ou pode fazê-lo sem possíveis efeitos colaterais.

Adicionalmente, os efeitos de ásanas diferentes variam de acordo com a sequência na qual são praticados. Isto significa que a prática de ásana deveria sempre ser vista como um todo – não meramente em termos dos ásanas separados que a compõem mas em termos do fluxo e do relacionamento entre todos os ásanas particulares realizados. A prática de ásanas (significando a sequência e o modo de realizar os ásanas assim como os ásanas específicos) deveria ser projetada para manter os doshas em equilíbrio relativo à constituição e condição dos indivíduos.

É útil ver uma sequência de ásanas como uma fórmula de ervas. Uma fórmula de ervas ayurvédica contém um número de ervas usado para vários propósitos que contribuem para o efeito geral da fórmula, preenchendo papéis específicos. O efeito geral dôshico da fórmula é determinado pela fórmula como um todo, não por uma erva única dentro da fórmula vista isoladamente. Combinando essas considerações com os fatores genéricos listado acima, para prescrever ásanas efetivamente os professores devem aprender a:

  • Mensurar o tipo ayurvédico e os desequilíbrios da pessoa;
  • Mensurar a condição estrutural da pessoa, incluindo sua postura, idade e condição física.
  • Mensurar a condição prânica, seu controle da respiração e dos sentidos, assim como sua vitalidade e entusiasmo.
  • Mensurar o estado mental da pessoa, sua atenção, vontade e motivação, assim como sua condição emocional.

O mesmo ásana deveria ser realizado de modo diferente relativo a se a pessoa é Vata, Pitta e Kapha. O mesmo ásana deveria ser realizado de modo diferente dependendo da idade, sexo e condição física da pessoa. Deveria variar dependendo de se a pessoa tem uma vitalidade forte ou fraca. Variações adicionais ocorreriam se a pessoa está sofrendo de raiva, luto, estresse ou depressão. Isso reflete quatro objetivos primários para uma prática ayurvédica de ásanas:

  1. Equilibrar os doshas.
  2. Melhorar a condição estrutural do corpo.
  3. Facilitar o movimento e o desenvolvimento do prana.
  4. Acalmar e energizar a mente.

Tipos Ayurvédicos de Corpo e Práticas de Ásanas

Para entender os potenciais dos ásanas para os diferentes tipos de pessoas gostaríamos de olhar para elas de acordo com os tipos dôshicos de corpo.

Tipo de Corpo Vata

Os tipos Vata possuem ossos finos e longos que são frequentemente fracos ou frágeis. Possuem baixo peso corporal e desenvolvimento muscular pobre, mas uma boa quantidade de velocidade e flexibilidade. Sua estrutura óssea torna-os bons em flexões e alongamentos, particularmente dos braços e pernas, quando são jovens. À medida que envelhecem, contudo, a qualidade seca de Vata aumenta e causa-lhes perda de mobilidade se não se exercitarem regularmente.

Uma prática de ásana suave, lenta e equilibrada para ambos os lados do corpo é o exercício ideal para os tipos Vata. Os Vatas têm necessidade predominantemente de ásanas por que os ásanas aliviam o Vata acumulado nas costas e nos ossos, onde ele se aloja. A doença de Vata começa com uma acumulação do movimento do ar para baixo (Apana Vayu), no cólon, que é transferido para os ossos, onde causa problemas de ossos e juntas, que libera tensões nervosas e equilibra o sistema.

O Potencial Negativo de Vata

Os tipos Vata sofrem comumente de rigidez devido à secura e deficiência nos tecidos. Seu baixo peso corporal não permite o “estofamento” adequado das juntas e nervos ou uma hidratação adequada dos tecidos. Eles são mais propensos a machucados por que eles gostam de realizar movimentos repentinos e abruptos, assim como gostam de práticas extremas.

O Potencial Positivo de Vata

Os tipos Vata gostam de movimentos e exercícios. Eles preferem ser ativos e expressivos tanto com o corpo quanto com a mente e gostam de fazer coisas novas. O ásana é algo que eles fazem facilmente e crescem acostumados como parte de sua atividade natural. É um modo calmante deles exercitarem-se.

Vata Bloqueado e Deficiente

Há duas condições básicas de Vata, que são chamadas de Vata bloqueado e Vata deficiente. O Vata bloqueado apresenta uma energia estagnada em algum lugar do corpo, junto com dor ou desconforto mas um peso corporal normal. O Vata deficiente exibe baixa energia, baixo peso corporal e hipersensitividade, frequentemente sem qualquer dor aguda. O Vata bloqueado requer movimento orientado ou ásanas pránicos para liberá-lo. O Vata deficiente requer uma abordagem construtiva e gentil, evitando muito esforço. O Vata bloqueado é mais comum em pessoas jovens que possuem energia adequada mas ela está bloqueada, enquanto o Vata deficiente é mais comum em pessoas mais velhas cuja qualidade dos tecidos está em declínio.

O Tipo de Corpo Pitta

Os tipos Pitta têm um corpo médio com um, geralmente, bom desenvolvimento dos músculos e “soltura” das juntas, que lhes dá uma boa quantidade de flexibilidade. Eles bons na prática de ásana mas não podem fazer muitas das posturas exóticas que os Vatas podem por causa dos ossos mais curtos que geralmente possuem. Os Pittas se beneficiam da prática de ásanas para esfriar a cabeça, esfriar o sangue, acalmar o coração e aleviar a tensão. Por exemplo, os Pittas tendem a ter hipertensão por causa de seu temperamento impetuoso que os mantém sempre querendo ter sucesso ou vencer.

Potencial Negativo de Pitta

Os tipos Pitta tendem a ser “esquentadinhos” e irritáveis devido ao excesso de calor. Eles podem perder a paciência para começar a prática ou para permanecer nela por um tempo. Por outro lado, uma vez envolvidos eles podem exagerar nas posturas e serem agressivos ou militantes em suas práticas. Um Pitta que foi muito longe em sua prática se sentirá mais irritável ou mesmo mais bravo após terminá-la. Os Pittas tenderão a ficar com posturas que podem fazer bem e ignorar aquelas que podem ajudar-lhes a se desenvolverem mais.

Potencial Positivo de Pitta

Os Pittas têm o melhor foco e determinação dos tipos dôshicos. Eles facilmente entram numa disciplina consistente e prática determinada uma vez que eles que tenham começado e tenham sido orientados corretamente. Eles são os mais ordenados e consistentes dos tipos. Eles apenas têm que descobrir o caminho certo para por suas energias.

O Tipo de Corpo Kapha

Os Kaphas são tipicamente curtos e musculosos, ganham peso com facilidade. Com seus ossos curtos e finos carecem de flexibilidade e não podem executar posturas que requeiram flexibilidade como a postura de lótus. Os tipos Kapha necessitam de movimento e estimulação para enfrentar sua tendência de complacência e inércia. Eles são bons em manter uma prática por longos períodos de tempo, uma vez que tenham começado.

Potencial Negativo de Kapha

Os Kaphas tendem a ter sobrepeso, que limita seus movimentos e os torna sedentários. Eles geralmente têm congestão nos pulmões que leva a dificuldade para respirar. Eles carecem de esforço positivo e acham difícil mudar sem algum tipo de estímulo externo. Eles precisam estar constantemente incentivados a fazer mais ou pararão logo o esforço.

Potencial Positivo de Kapha

Os Kaphas são estáveis e consistentes no que fazem. Uma vez que tenham começado algo fazem-no com fé. Eles permanecem emocionalmente calmos e equilibrados em suas práticas independentemente dos resultados. Eles vêem a vida com amor e o trabalho como serviço.

O Modo Ayurvédico de Executar Ásanas

O Ayurveda não olha para os ásanas como formas fixas que por si mesmos diminuem ou aumentam os doshas. Ele os vê como veículos para a energia que podem ser usados para ajudar a equilibrar os doshas, se usados corretamente. O mesmo é verdade para a visão do ayurveda para a comida. Enquanto comidas individuais têm seus efeitos específicos para aumentar ou diminuir os doshas, como preparamos a comida, como as “remediamos” com pimenta, como as combinamos, ou como as cozinhamos para misturar qualidades de comidas em um todo harmonioso, é tão particular quanto as próprias comidas.

Enquanto o Ayurveda diz que as comidas de certos sabores são mais prováveis de aumentar ou diminuir doshas específicos, ele também diz que necessitamos em algum grau de todos os sabores. Assim também precisamos fazer todos os tipos principais de ásanas em algum nível. Cada pessoa precisa de uma faixa completa de exercícios para lidar com a escala completa de movimento no corpo.

Sua prática geral de ásana deveria ser como uma refeição. Cada refeição deveria conter algum nível de todos os seis sabores (doce, azedo, salgado, pungente, amargo e adstringente) e alguma quantidade de todos os tipos de nutrientes necessários para o corpo (amidos, açúcares, proteínas, óleos, vitaminas e minerais) mas com ajustes para as necessidades individuais da constituição de cada um. Assim também a prática de ásana deveria conter todos os tipos de ásanas necessários para exercitar e relaxar o corpo inteiro ajustados aos fatores constitucionais individuais. Deveria incluir posturas sentado, de pé, pronadas, expansivas, de contração e movimentos de subida e descida, mas de um modo e numa sequência que nos mantenha em equilíbrio e considere nossa estrutura energética individual e condições mentais.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Vata

Geral: mantenha sua energia firme, equilibrada e consistente; modere e sustente seu entusiasmo.

Corpo: matenha seu corpo calmo, centrado e relaxado; faça o ásana devagar, gentilmente e sem uso indevido ou repentino de força, evite movimentos abruptos.

Prana: mantenha a respiração profunda, calma e forte, enfatizando a inalação.

Mente: mantenha a mente calma e concentrada, aterrada no momento presente.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Pitta

Geral: mantenha sua energia fria, aberta e receptiva, como a lua crescente.

Corpo: mantenha o corpo frio e relaxado; execute os ásanas em modo de entrega para remover o calor e a tensão.

Prana: mantenha a respiração fria, relaxada e difusa; exale pela boca para aliviar o calor quando necessário.

Mente: mantenha a mente receptiva, desapegada e alerta mas não afiada ou crítica.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Kapha

Geral: se aqueça apropriadamente e então execute o ásana com esforço, velocidade e determinação.

Corpo: mantenha o corpo leve e movendo-se, aquecido e seco.

Prana: mantenha o Prana se movendo para cima e circulando; tome fôlego, respirações rápidas se necessário para manter a energia.

Mente: mantenha a mente entusiástica, desperta e focada como uma chama.

Purusha/Prakriti no Cinema – Robocop 2014

Ative as legendas para PT-BR.
Dois conceitos fundamentais da filosofia indiana são Purusha e Prakriti. Geralmente, Purusha é traduzido como consciência e Prakriti como natureza. Há várias analogias empregadas para explicá-las. Podemos dizer que o ciborgue Robocop seria uma analogia moderna.

Chaves para uma vida de sucesso – Swami Rama

As chaves para a felicidade residem dentro de nós, mas nossa educação moderna não nos ensina como encontrá-las.

Todas as pessoas querem ter sucesso na vida, mas onde estão as chaves para o sucesso? Nós temos que sair e procurar as chaves ou já temos esses potenciais dentro de nós? Quando começamos a examinar a vida, podemos ver que ela está dividida em dois aspectos — a vida dentro e a vida fora; a vida interna e a vida externa – e podemos ver que esses aspectos são de igual importância. Mesmo se nós tivermos renunciado o mundo, ido para longe da civilização e vivermos fazendo nada mais que meditar, não podemos ignorar a vida externa. Nós ainda temos que ver que comemos, fazemos nossas abluções e realizamos nossas práticas a seu tempo. Então, a vida no mundo externo é tão importante quanto a vida no mundo interno. Mesmo uma pessoa que renunciou o mundo tem que entender a palavra relacionamento adequadamente, por que a própria vida é na verdade um relacionamento. O corpo está relacionado à respiração e a respiração está relacionada à mente. O corpo, a respiração, os sentidos e a mente todos funcionam juntos como uma unidade. Então, a vida virtualmente significa relacionamento e assim a arte de viver e ser requer um entendimento dos próprios relacionamentos com o mundo externo e com os próprios mundos internos.
Todos os seres humanos têm potenciais internos, mas muitas pessoas não estão cientes desses potenciais e não sabem como usá-los para ter uma vida de sucesso. Aqueles que não são felizes internamente podem nunca ser felizes externamente; aqueles que não são felizes dentro de si mesmas podem nunca fazer os outros felizes. Aqueles que não amam a si mesmos nunca podem amar os outros. Se não somos felizes, como poderemos ter uma vida de sucesso? O sucesso reside em nossa felicidade. As chaves para a felicidade residem dentro de nós, mas nossa educação moderna não nos ensina como encontrá-las. É útil ter algumas fórmulas para praticar na vida diária para dar-lhe mais sucesso. Eu não criei essas fórmulas; elas são derivadas de observações fundamentadas em experiência. Há cinco pontos a lembrar: primeiro, como tomar decisões a tempo; segundo, como estudar os padrões de hábitos pessoais; terceiro, como conduzir a nós mesmos no mundo externo; quarto, que atitude tomar; quinto, onde encontrar felicidade. Para alcançar o sucesso na vida, a pessoa deveria aprender e aplicar esses cinco pontos.

Tomando decisões a tempo
O primeiro ponto a entender é a filosofia e ciência da decisão – como tomar decisões a tempo. A pessoa de maior sucesso é que sabe como tomar decisões a tempo. Há muitas pessoas extraordinariamente brilhantes que entendem as coisas muito rapidamente, mas quando chega o momento de tomar uma decisão, quando uma oportunidade surge, elas se afastam e não são capazes de agir. Elas não sabem como decidir. Elas sabem que deveriam aprender a decidir a tempo, mas não o fazem. Elas sempre dizem Bem, eu sei disso. Eu entendo a importância, mas eu não tomo uma atitude a tempo. Embora elas possam pensar corretamente e precisamente entenderem a situação, elas repentinamente perdem a confiança. Este é um mundo de competição; outra pessoa está sempre tentando obter a mesma coisa que nós. Então, se não decidirmos a tempo, outra pessoa obterá o que queremos. O tempo é valioso no mundo externo. Um bambu jovem pode ser facilmente dobrado, mas se tentarmos dobrar um bambu maduro, ele se quebrará. Isso é o que temos que fazer hoje, não devemos postergar para amanhã, mas também não devemos tomar decisões na pressa.
Podemos ter um contratempo se tomarmos uma decisão incorreta, mas nossos erros nos ensinarão. Muitas pessoas evitam tomar decisões durante toda a vida, assim sua faculdade mental decisória, a faculdade de discriminação, torna-se enferrujada e morre. Tais pessoas tornam-se totalmente dependente dos outros. Quando estudamos as quatro funções da mente – buddhi, a faculdade de decisão; ego, o princípio de identidade; chitta, o depósito de impressões; e manas, o importador e exportador de sensações e experiências – então tornamo-nos cientes do poder da vontade. O poder de vontade é aquela coisa dentro de nós que vai em frente e diz Faça isso. Será útil para você. O treinamento das funções internas nos ajuda a entender a faculdade mental de decisão, sem a qual não pode ter sucesso.
Devemos entender nossas capacidades e potenciais e assim devemos nos expressar no mundo externo com total confiança, agir sem quaisquer reservas. Assim, há três passos para realizar uma ação: primeiro, formar uma opinião dentro de nós mesmos; segundo, epxressar nossa opinião aos outros; e terceiro, executar nossa opinião em ação.

Entendendo os padrões de hábitos
A coisa principal que alguém deveria aprender na vida – e isso não é ensinado em casa ou nas escolas – é a auto-análise. Nós deveríamos aprender a nos analisar. Se nós realmente queremos entender nós mesmos, podemos analisar nossa personalidade entendendo nossos hábitos. Isso não é difícil. Deveríamos simplesmente tentar estar conscientemente cientes de toda ação que realizamos e entender que nossas ações são virtualmente nossos pensamentos. Sem pensamento não pode haver ação. Os padrões de hábitos e pensamentos são revelados através do comportamento.
Há um ramo da psicologia chamado behaviorismo que é fundamentado nesse conceito. Mas alguém deveria entender que o comportamento externo apenas não pode revelar tudo sobre uma pessoa. A risada, por exemplo, não pode ser analisada comportamentalmente. Se estiver prester a rir, você também rirá comigo simplesmente por que eu estava rindo mas sem entender por que. Sua risada é por pura reação. Assim, você deveria rir uma segunda vez, desta vez de você mesmo por que você não entendeu por que estava rindo e mesmo assim riu. Você também deveria rir uma terceira vez por que finalmente entendeu de que eu estava rindo e você agora também acha isso engraçado. Todas as três vezes que você riu pareceria o mesmo para os outros, mas a cada tempo teve um motivo diferente. Assim, estados internos não podem ser entendidos apenas por meio da análise de comportamento. Apenas uma pequena parte de alguém e dos outros pode ser entendida através da observação do comportamento. Mas conhecer nossos padrões de hábitos pode nos ajudar a analisar e entender nossa personalidade.
O que é a personalidade? A palavra personalidade vem da raiz persona, que signifca máscara. Nossa personalidade é uma máscara que vestimos. Nós não temos que vestir uma máscara quando estamos sozinhos; nós usamos uma máscara para nos expressar para os outros. Nossa personalidade é um personagem e esse personagem é composto de certos hábitos. Cada um de nós tem numerosos hábitos; então quando queremos entender nossa personalidade, devemos entender nossos padrões de hábitos. Um padrão de hábito é um pensamento consciente ou ação que alguém repete repetidamente. Isso cria um entalhe na mente inconsciente e forma um hábito inconsciente. Os hábitos inconscientes são mais fortes do que os hábitos conscientes. Todos os padrões de hábitos são auto-criados. Quando sentamos e tentamos entender qual de nossos hábitos controla nossa vida, vemos que há muitos hábitos profundamente enraizados dentro de nós. Nós deveríamos aprender a estudá-los. Uma vez que nos tornamos cientes dos pensamentos perigosos e emoções que têm criado ranhuras profundas na mente, podemos começar a mudá-los criando novas ranhuras. Então, a mente parará de fluir para as ranhuras antigas e começará a fluir para as novas. Deste modo podemos mudar nossos hábitos.

Você também deveria aprender a executar suas intenções. Por exemplo, muitas pessoas têm intenções muito boas para fazer algo ótimo para seus vizinhos e elas pensam sobre isso o tempo todo, mas então esses pensamentos nunca são executados, eles nunca são permitidos de se tornarem ações. Nós temos muitos pensamentos que nunca foram executados e é por isso que somos miseráveis. Se aprendermos a selecionar esses pensamentos que são utéis e então nos permitirmos executá-los, isso trará realização e a vida será feliz. Criamos miséria para nós mesmos quando não trazemos nossos bons pensamentos em ação. Um dos escritores franceses tem explicado esse conselho lindamente: Todos os pensamentos bons que não são trazidos à ação são traição ou aborto. Os bons pensamentos são aqueles que ajudam os outros e que também nos ajudam. Os maus pensamentos são aqueles que obstruem nosso progresso e criam barreiras para os outros.
Os hábitos profundamente estabelecidos podem te impeder de fazer aquilo que você sabe que seria bom pra você fazer. Você torna-se desamparado por causa das obsessões e vícios que são causados por seus hábitos. Você pode continuar num hábito que você sabe que não é bom – que não é bom para sua saúde nem útil e que não deveria ser feito – por que o hábito se tornou tão profundamente enraizado que você é impotente para mudar seu comportamento. A sociedade não ajuda você a mudar seus maus hábitos e há poucos lugares onde você pode obter ajuda. Muitas pessoas que estão na penitenciária sabem que o que elas fizeram é um crime, mas a força do hábito as levou a agir inapropriadamente. Suas faculdades de discriminação dentro das funções – seu entendiemnto d que é certo e do que não é certo – mas seus hábitos profundamente estabelecidos as têm motivado a fazer algo que não é bom, que não é aceitável. Na verdade, ninguém deveria ser considerado uma pessoa boa ou má. Na lei tradicional inglesa, quando alguém era punido, era-lhe dito: Não estamos punindo você por você mesmo. Estamos punindo você por seus maus hábitos.

Controlando os impulsos primitivos
Os padrões de hábitos são motivações muito fortes na vida; não deveríamos os ignorar. Nós não deveríamos criar um mecanismo de defesa e dizer: Bem, e daí se eu tiver esse hábito? Nós deveríamos aprender a estudar nossos padrões de hábitos e trabalhar com nossos hábitos para mudá-los. Há pouquíssimos padrões de hábitos básicos e eles surgem das quatro fontes: comida, sexo, sono e auto-preservação. Entendendo essas quatro fontes, podemos entender nossos padrões de hábitos e então podemos aprender a mudá-los e transformar nossa personalidade.

A comida é o primeiro impulso básico. Se um marido diz a sua esposa Não coma demais, ela pode dizer: Eu como demais por sua causa. Você não presta atenção em mim, então eu tenho que comer demais. Às vezes, quando o apetite sexual não é cuidado apropriadamente, as pessoas comem demais. Essa é a lei universal da compensação. Se nós mantemos uma dieta nutritiva, não teremos qualquer problema da fonte primitiva chamada comida. A comida passa pelo corpo e então afeta a mente, mas o sexo se origina na mente e então é expresso no corpo. Se nossa mente é equilibrada e alcançamos a maturidade emocional, então podemos lidar competentemente com o impulso do sexo. Pois é a mente, não o corpo, que lida com o sexo. O pobre corpo não pode lidar com a precipitação, a inundação, da mente e assim quase ninguém está feliz sexualmente. Para ter uma vida sexual equilibrada, a pessoa deveria entender que uma mente calma, tranquila, é muito útil.

O sono é outra fonte primitiva. Nos consideramos extremamente conhecedores e altamente avançados, mas não sabemos nada sobre como dormir. É muito importante entender a anatomia do sono. Se você quisesse ir dormir agora, você não poderia conseguir por que você precisa de muitas acomodações para criar uma atmosfera apropriada para o sono, mas os yoguis sabem como dormir voluntariamente, permanecer conscientes, e então acordarem no momento exato que ees tinham determinado que iriam. As pessoas vão dormir apenas por hábito, mas deveríamos aprender a treinar nossa vontade de modo que dormíssemos ou acordássemos em qualquer momento que quiséssemos. E quando dormíssemos, deveríamos estar conscientes. Isso é possível. Há métodos para dormir profundamente, registrando o que está ocorrendo ao redor e então acordor e lembrar-se. Os Yoguis sabem esses métodos e os têm demonstrado cientificamente. As pessoas não precisam dormir tanto quanto costumam. Podemos ir ao estado de sono por apenas duas horas e acordar totalmente revigorados. Isso tem sido observado por cientistas que têm feito pesquisas sobre a anatomia do sono. Se soubermos como dormir, pode dar descanso completo ao corpo e à mente consciente à qualquer instante.

A quarta fonte é a auto-preservação. O modo vem do impulso por auto-preservação e quando os medos são aprofundados eles criam fobias. As pessoas estão sempre tentando proteger a si mesmas; elas estão sempre com medo. É bom proteger-nos do mundo físico, mas não é bom nos proteger do mundo mental – isso é muito perigoso. As pessoas deveriam aprender a encarar seus medos internos e a entender por que estão com medo. As pessoas sempre querem evitar as coisas não prazerosas e assim nunca examinam seus medos. Isso é por que elas têm inumeráveis medos dentro delas. A maioria dos medos não são examinados e eles são imaginários; eles não são válidos. Meu marido não vem para casa. Talvez ele tenha tido um acidente. Talvez algo ruim tenha acontecido! Por que imaginar apenas o negativo; por que não imaginar o positivo também? Meu marido não veio para casa. Talvez ele tenha ganhado na loteria hoje. Talvez ele tenha se tornado milionário! As pessoas estão no hábito de criar medos imaginários e quando eles não se tornam verdade, elas os esquecem. Elas não voltam e analisam aqueles medos. Mesmo quando as pessoas sabem que seu medo é imaginário, o medo auto-criado ainda as torna miseráveis.

Mesmo quando as pessoas estão apaixonadas, estão com medo do amado. Talvez ela esteja com raiva. Talvez eu tenha feito algo errado e a tornado triste. As pessoas também estão sempre com medo de seus inimigos. As pessoas forma um hábito forte de estarem com medo de tudo. Mas quando elas aprendem a examinar seus medos, elas entendem que todos os medos são imaginários. Imaginário significa que há uma imagem dentro. Nós recebemos uma imagem de fora, de nosso relacionamento, e então criamos uma imagem dentro. nós temos milhões de imagens dentro de nós. Para ser livre de todos os medos, devemos aprender a encarar imagens amedrontadoras e examiná-las. Os medos são extremamente perigosos, mas são todos auto-criados. Aprender a viver livres dos medos que surgem do impulso de auto-preservação é muito importante.

Vivendo no mundo externo
Como alguém pode viver com sucesso no mundo externo? É muito difícil viver no mundo externo, colocar-se no mundo, lidar com os desejos de muitas pessoas, agradar a todos. Então é útil ter alguns princípios para aplicar às várias situações e circunstâncias que nos encontramos envolvidos. Assim, sozinhos é possível para nós termos sucesso. Nós temos numerosas experiências todos os dias – algumas agradáveis, algumas desagradáveis. Mas há uma categoria de experiência pela qual esperamos: o tipo de experiência que nos guia, que nos motiva a fazer algo útil para os outros e para nós mesmos. Mas tais experiências são muito raras.

Gastamos nosso tempo e energia. Mesmo o tempo e energia que pensamos que estamos investindo em prazer não estamos aproveitando, por que não sabemos realmente como aproveitar as coisas do mundo. Mas podemo aprender como fazer isso; todas as coisas do mundo podem ser aproveitadas. Os renunciantes dize, Seu mundo não tem nada. Não é um bom mundo. Todas as coisas são flutuantes, todas as coisas mudam. Todas as coisas são momentâneas e nada faz você feliz. Por que você está nesse mundo? Por que você não renuncia? Mas eles estão errados. Nós podemos viver no mundo e aprender a usar as coisas do mundo como meio. Como São Bernardo disse, Aprenda a usar as coisas do mundo mas ame apenas a Deus. As coisas do mundo não deveriam ser amadas. A natureza delas deveria ser entendida e elas deveriam se tornar meios, mas não deveriam ser amadas. Quando as usamos, tendemos a nos apegar a elas – isso não é saudável. Deveríamos amar a Deus e deveríamos aprender que todas as coisas do mundo são usadas apenas como meio de alcançar o centro do amor. O Senhor da vida é chamado de amor. Nós deveríamos aprender a amar nossas responsabilidades e a executar nossos deveres amavelmente, sem nenhum apego.

O estudantes ocidentais pensam que não é possível amar alguém sem apego. Mas talvez a palavra apego não seja entendida. O amor é diferente do apego. No amor nós damos – nós realizamos nossas atividades amavelmente – e isso é inteiramente diferente de apego. O apego não é autorizado. No apego nos tornamos de olhos vendados e egoístas. Em apego, esperamos todo o tempo e nunca estamos satisfeitos e então nos tornamos miseráveis. Não há uma única coisa que possamos dizer que realmente é nossa. Nós podemos ter coisas – e deveríamos aprender a olhá-las apropriadamente – mas não deveríamos tentar possui-las. Em apego, as pessoas ficam com medo. Isso é meu. O que acontecerá comigo se ele morrer. O que acontecerá comigo se ele for destruído? As pessoas permanecem constantemente sob a pressão do medo de perder o que elas têm ou de não ganharem o que querem. Todo o problema do medo surge dessas fontes.

A maioria das pessoas não está ciente de que elas estão numa viagem. Elas têm o hábito de colecionar lixo inútil e ele cria problemas para elas. As pessoas deveriam aprender a entender que as necessidades são diferentes do que queremos e desejamos. Se necessitamos de algo, nós deveríamos tê-lo, mas não deveríamos querer inutilmente ter coisas desnecessárias. Estudando as vidas de grandes pessoas, encontramos que elas compartilhavam uma característica que as fizeram ter sucesso: elas não pegavam o que não necessitavam. Uma vez, quando Buddha estava indo, como era comum, de porta em porta com sua tigela de esmolas pedindo, uma dona de casa gritou com ele, Você é tão saudável, tão forte e tão bonito. Você era um príncipe! Por que você renunciou seu lar e começou a nos causar problemas? Todo dia você vem com sua tigela de esmolas. Isso se tornou demais para nós. Ela estava com muita raiva por que a cidade inteira estava cheia de renunciantes e havia poucos donos de casa; era um problema para os donos de casa alimentar todos os monges. Ela ficou tão zangada que ela pegou um pouco de sujeira e tentou dar-lhe. Ele sorriu e disse, Mãe, eu não necessito disso. Ele começou a ir em seu caminho, mas um de seus díscipulos ficou com raiva e falou para a mulher, Eu vou matar você por ter se comportado assim com meu senhor! O Buddha voltou-se pra ele e disse, Você não é meu discípulo. Você não aprendeu nada comigo. Se alguém quer te dar algo indesejável, não pegue. Se alguém diz que você é mau, não aceite tal sugestão negativa. Nós deveríamos aprender a entender esse ponto e então poderemos passar pelo processo da vida intactos.

Mas ao invés de permanecer inafetadas, as pessoas permitem que seus valores culturais torne-as dependentes de sugestões externas. Nós somos soprados por sugestões o tempo todo e o poder da sugestão é imenso. Se dez pessoas dizem que parecemos doentes, começamos a nos sentir doentes. Se alguém diz Você é uma pessoa feia, seu dia inteiro estará arruinado. Mas se alguém diz Oh, você parece lindo, então você diz Você fez meu dia valer a pena. Você já é lindo, mas se ninguém te aprecia, você não acredita na sua beleza. Você deveria aprender a apreciar e admirar a si mesmo; você deveria aprender a entender e entrar em contato com a beleza que está dentro de você o tempo todo. Você já é lindo como está! Você não precisa dos outros para te dizer que você é lindo. Você não deveria se tornar dependente das opiniões dos outros; você não deveria tentar conhecer a si mesmo por meio dos outros.

Há uma característica muito perigosa nessa cultura: as pessoas se tornam dependentes umas das outras. As pessoas vivem de sugestões; elas são seduzidas por qualquer um que fale. As pessoas têm o hábito de sempre querer e esperar a atenção dos outros e isso é muito perigoso por que a vida se torna totalmente dependente dos outros. Essa é a pior característica que eu tenho visto na cultura ocidental. As esposas resmungam de seus maridos e seus maridos criticam suas esposas por que eles esperam muito uns dos outros. Quando as pessoas se tornam dependentes de seus relacionamentos, quando elas esperam demais de seus relacionamentos, elas são obrigadas a sofrer.

Quando uma garota vai para a escola, o pensamento que constantemente vive em sua mente é que ela encontrará um bom garoto, casará e será feliz. Mas não nenhum bíblia no mundo que diz que casar fará alguém feliz. O casamento não faz ninguém feliz; é apenas um meio para a felicidade na vida e, se isso for entendido, é muito bom. Mas se alguém espera demais e acha que o casamento é a resposta para todas as questões vitais da vida, então essa pessoa encontrará apenas desapontamento. As pessoas crescem com expectativas irreais sobre o casamento e a filosofia do casamento não é ensinada. Qual é o propósito do casamento? Qual é a filosofia de permanecer solteiro? Se uma pessoa não sabe como usar seu tempo positivamente e se ela não tem nenhuma filosofia de vida, então ela se torna pervertida. Aqueles que não estão casados não são felizes e aqueles que estão casados também não estão felizes. O casamento é como uma fortaleza: aqueles que estão dentro não podem sair e aqueles que estão fora estão querendo entrar. Então eu não vi ninguém que esteja feliz. Isso não significa que as pessoas não deveriam casar; a instituição do casamento é muito necessária. Se ela se desfaz, toda a sociedade se desfaz. Isso é uma grande disciplina para a sociedade humana.
Desenvolvendo a atitude apropriada
Qual deveria ser nossa atitude no mundo? Deveria ser que os relacionamentos e todas as coisas do mundo são meios. O mundo nunca deu a iluminação a ninguém, mas ao mesmo tempo é impossível para alguém alcançar a iluminação se não viver no mundo. Que inutilidade! O mundo não dá iluminação e temos que viver no mundo. Portanto, vamos entender que o mundo seria um meio para a iluminação. Há dois modos de usar o mundo para esse propósito: primeiro, você pode ter a atitude que não irá permitir que o mundo te perturbe, tanto que você pode assim obter a iluminação; e segundo, você pode ter a atitude que você pode usar o mundo para te ajudar, tanto que você pode obter a iluminação. Ambas as atitudes deveriam ser aplicadas. Alguém deveria ter as mesmas atitudes com os relacionamentos: Vou me comportar de tal modo com minha esposa e filhos que elas não irão perturbar minha paz interior; Eu me comportarei de tal modo que eles se tornarão utéis para mim e que eles também crescerão.

Você deveria primeiro ter a atitude de aconteça o que acontecer você não será perturbado. De outro modo, quando você consegue alguma coisa, você se torna emocional e desequilibrado e, quando você não obtém alguma coisa, você se torna deprimido e desorganizado. Isso significa que você não tem a atitude apropriada por trás de seu pensamento e comportamento. Grandes líderes como Moisés e Jesus tinham que encarar muitos problemas sérios, mas eles tinham a atitude apropriada. Essa atitude pode ser construída apenas quando você considera todos os relacionamentos no mundo externo e todos os objetos do mundo simplesmente como meios e não como fins. Assim não importa se hoje você espera que alguma coisa se torna seu meio e amanhã você veja que não era. Quando sua atitude em direção ao mundo externo é que todas as coisas do mundo são meios e não perturbações, então você pode encontrar felicidade.

Onde está a felicidade?

Se a felicidade fosse algo externo, os americanos já a teriam. Os americanos têm muitas coisas, mas não são felizes. Muitas pessoas são muito boas com as outras, mas não boas consigo mesmas. Elas têm um modo mecânico de se comportar bem com os outros, mas não sabem como serem felizes consigo mesmas. Elas estão criando um grande conflito, uma divisão de personalidade, por fingir expressar uma felicidade que não está lá. A felicidade não está no mundo externo; não é obtida por meio de objetos. As pessoas gastam sua vida inteira querendo ter isto e tendo aquilo; elas amam os objetos e não podem amar sem objetos. Mas o dia que você aprende a amar sem um objeto, esse será o dia de maior felicidade. Quando alguém aprende a amar a Deus, isso é amor sem um objeto. Deus não é um objeto; Deus está além de todos os objetos. Então, o amor sem um objeto é amor a Deus.

A felicidade reside dentro de você e você deveria aprender a usar todas as coisas e aplicar todos os meios para alcançar a felicidade. Essa felicidade interna está numa forma dormente; você tem que desdobrar-se para experienciá-la. Portanto, você deveria aprender a estar quieto, de modo que a parte divina em você possa revelar-se. Esteja quieto e saiba que eu sou Deus. Que grande promessa! Este é o maior aforismo. Muitos cristãos e Judeus pensam que não há meditação na bíblia, mas esta única sentença revela a completa filosofia da meditação.

Todo ser humano deveria aprender a ser calmo e quieto e ver Deus nos outros. Assim você pode se desapegar da parte não divina e você estará amando a parte divina. Você um brilho de Deus. Eu deveria amar você por que eu deveria amar Deus em você. É bom amar as pessoas por que todo mundo é um templo de Deus. As pessoas não amam as paredes de um templo; seu amor é dirigido para aquilo que habita o templo. Então quem quer que você ame, ame a Deus nessa pessoa.

Eu rezo para a divindade dentro de você.

Etapas do caminho tântrico – uma introdução

Este texto traz uma breve introdução ao Tantra Yoga e delinea as três principais etapas do caminho.

Pode-se dizer que o Tantra é uma variação de Yoga. Neste caso, considerando-se como Yoga um método ou conjunto de técnicas que devem ser praticadas para alcançar a libertação espiritual. Um dos significados da palavra Tantra é teia ou rede e essa é uma das tradições de sabedoria indiana extremamente conectada com a ideia de sucessão mestre discípulo. Tantra também é o nome que se dá aos textos que transmitem os conhecimentos desta tradição.

Termos bastante conhecidos no momento do Yoga que tiveram origem ou que são muito enfatizados no Tantra são: chakras, kundalini e corpo sutil. Um fato desconhecido de grande parte dos praticantes é que as supostas “ginásticas de alongamento” ensinadas por aí como sendo Hatha Yoga ou alguma de suas variações tem origem tântrica. Pois o Hatha Yoga é um das “modalidades” tântricas mais conhecidas.

Vale ressaltar que não se pode separar o Tantra de outras tradições indianas como o Rāja Yoga, o Samkhya e o Vedanta. Pois, por eles terem tido origem no mesmo berço cultural e por suas ideias principais terem sido colhidas dos Vedas eles compartilham de conceitos comuns. Um desses conceitos são os cinco elementos densos ou Mahābhūta: espaço, ar, fogo, água e terra. Esse conceito é descrito e comentado em vários textos de várias tradições indianas, dentre eles: Yoga Sūtra de Patañjali, Samkhya Karikā e Bhagavad Gitā. Além disso, os cinco elementos são essenciais para várias práticas meditativas tântricas.

Embora haja algumas semelhanças com outros caminhos de libertação espiritual, um fator importante no Tantra é que a libertação não é vista como uma “fuga do mundo”, mas sim como uma união com o mundo. A libertação seria realizar que não há bem ou mal e, portanto, tanto faz estar aqui como não estar, pois a realidade é perfeita. Neste sentido, o sofrimento de que tanto se fala nessas tradições seria uma não-aceitação (por ignorância) da realidade.

Um fator essencial da prática tântrica que a distingue de outras práticas é a ênfase na recitação de mantras. Por exemplo, no Rāja Yoga praticamente não há recitação de mantras. Na verdade, o único mantra mencionado no Yoga Sūtra é o Om. A recitação de mantras é tão importante para o Tantra que a maioria dos mestres dá um mantra para o aluno recitar por algum tempo depois que ele é iniciado (depois que recebe Diksha, no bom sentido, não no sentido avacalhado que estamos vendo recentemente). Esse tempo pode durar anos, dependendo do mantra e do objetivo. No Tantra, geralmente se fala em centenas de milhares, ou talvez, milhões de repetições de um mantra, acompanhado de várias outras práticas ritualísticas como Nyasa.

Após o mestre observar a evolução de seu díscipulo, pode iniciá-lo na segunda etapa do percurso: os yantras. Os yantras são imagens, desenhos ou pinturas que representam devas específicos. Dependendo da prática, do ritual, do deva e dos chakras que serão trabalhados, yantras diferentes são empregados. O Yantra de Sri Tripura Sundari é mostrado na imagem abaixo.

Yantra de Tripura Sundari
Yantra de Tripura Sundari

Após a realização do Yantra o díscipulo pode ser iniciado ao Chakra Puja. Aqui temos dois termos que geralmente aparecem separadamente. Chakra significa círculo ou vórtice e puja pode significar ritual. Neste caso, especificamente, o Chakra Puja trata-se de um ritual em que os adeptos formam um círculo e, em geral, o mestre fica no centro do círculo, para realizarem determinados rituais secretos. Pouquíssimos alunos alcançam a graça de poderem ser iniciados neste tipo de prática. Poucas pessoas no mundo já participaram. Esta seria a etapa final do caminho tântrico e, para praticá-la seria necessário que o candidato já tivesse alcançado um elevado grau de realização especialmente em relação ao não-apego e a não ser afetado por objetos que causam perturbação ou desejo na maioria das pessoas.

Uma crítica à meditação como remédio

Adaptações e comentários a partir do texto de W. S. Hickey sobre os problemas de se utilizar a meditação apenas como mais um remédio.

Nas últimas décadas temos assistido a “uma explosão” de pesquisas sobre meditação e seus efeitos na saúde humana. Essas pesquisas têm sido realizadas por profissionais de diversas áreas, tais como: medicina, psicologia, neurociência, psiquiatria, fisioterapia, etc. As técnicas de meditação abordadas são bastante variadas, desde técnicas de Raja-Yoga, passando por meditação transcendental, até o que está se popularizando como “Mindfulness” (Atenção Plena). Essa última técnica teve como um dos responsáveis por sua popularização o biólogo Jon Kabat-Zinn, criador da abordagem MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction). Outro grupo responsável pela intensificação desses estudos são os pesquisadores associados com o Instituo Mind and Life.

Se procurarmos artigos contendo palavras-chave relacionadas com meditação em plataformas de publicações científicas encontraremos milhares de artigos publicados nos últimos anos tentando demonstrar a eficácia de técnicas de Yoga e meditação para problemas que variam desde miopia até cardiopatias. Por exemplo, uma busca realizada no dia de publicação deste texto pela ocorrência das palavras meditation ou mindfulness nos abstracts de artigos publicados nos últimos 5 anos retornou as seguintes quantidades de artigos para as plataformas abaixo:

Embora exista uma grande variedade de abordagens de meditação utilizadas nos experimentos descritos nos artigos, a MBSR tem se destacado como a mais utilizada. W. S. Hickey critica essa abordagem em alguns aspectos:

  • Meditação budista sem Budismo. Hickey afirma que há dois pressupostos problemáticas nesse aspecto. Primeiro, a prática fundamental do Budismo é a meditação. Segundo, as ideias ou práticas religiosas Budistas e Hinduistas são universais e transcendem culturas e contextos históricos.
  • A MBSR separa as práticas yóguicas e meditativas de seu contexto ético e moral.
  • A MBSR reforça a ideia de que a prática individual é o aspecto mais importante para o bem-estar pessoal.

A primeira crítica vai de encontro a um hábito comum no ocidente, o refinamento (no mau sentido). Vejamos o que ocorreu com o Yoga, por exemplo. O Yoga, originalmente, é uma técnica milenar de transformação e libertação espiritual. Segundo sua filosofia, as técnicas visam libertar o praticante do sofrimento e dos ciclos de renascimento. O Yoga tradicional de Patanjali é formado por oito membros, sendo um deles a prática de ásanas ou posturas físicas. Segundo a filosofia indiana, os ásanas fornecem um modo de permitir a ativação de centros de energia sutil e o despertar de energias espirituais latentes no corpo sutil do ser humano. Porém, um dos efeitos colaterais dos ásanas é flexibilidade e saúde física. O que algumas pessoas fazem? Confundem o efeito colateral com o objetivo real. Essa confusão pode ser proposital ou por engano. Não é um problema sério alguém praticar ásanas do Yoga com o único objetivo de saúde física. O problema é reduzir o Yoga a isso.

Problema semelhante ocorre com práticas de meditação. Algumas pessoas, numa tentativa forçosa de popularização, desassociam totalmente as práticas de meditação do Yoga e do Budismo de aspectos espirituais. A meditação está se tornando uma ginástica cerebral. Algo pior que pode ocorrer é praticar técnicas específicas de meditação, que só fazem sentido no contexto do Yoga e do Budismo, associadas com práticas de outros caminhos espirituais que não possuem ou aceitam conceitos como: renascimento, karma, devas, etc.

Outro fator muito importante que está se perdendo com a transformação da meditação em ginástica mental é a necessidade de uma comunidade de prática que possui objetivos comuns respaldados em preceitos éticos que fazem sentido para aquele contexto. Por exemplo, no Budismo há o princípio dos três refúgios: Buda, Dharma e Sanga. Sendo que a Sanga, ou comunidade, é uma peça fundamental para apoiar as pessoas que têm dificuldades para se libertar de maus hábitos ou vícios. Um fato relacionado ao conceito de comunidade é o grande sucesso da metodologia dos A.A. em que o viciado se apóia em uma comunidade com a qual pode contar e possui alguém mais experiente dentro da comunidade para servir de tutor. Podemos nos questionar como, numa sociedade movida pela grande quantidade de informações e pela consequente tentativa de autodidatismo em tudo, alguém poderia obter os reais frutos da meditação praticando-a isolado de uma comunidade e de modo autodidata?

Assim como muitas pessoas acham que Yoga é ásana, muitas pessoas acham que Budismo é meditação. Isso não é verdade. Tanto no Yoga quanto no Budismo existem preceitos éticos que devem ser seguidos se o praticante desejar avançar em seu caminho espiritual. No caso do Yoga, há os Yamas e Nyiamas.

Yamas:

  • Ahiṃsā: não-violência;
  • Satya: verdade;
  • Asteya: não roubar;
  • Brahmacharya: contenção sexual, refrear os excessos da sexualidade;
  • Aparigraha: não ser avaro.

Nyiamas:

  • Śauca: pureza;
  • Santoṣa: contentamento;
  • Tapas: práticas acéticas;
  • Svādhyāya: auto-estudo;
  • Īśvarapraṇidhāna: devoção a Ishvara.

Um dos principais ensinamentos budistas se refere à observação do Nobre Caminho Óctuplo:

  • Visão correta;
  • Intenção correta;
  • Fala correta;
  • Ação correta;
  • Meio de vida correto;
  • Esforço correto;
  • Atenção correta;
  • Concentração correta;

Não irei discorrer sobre Yamas/Niyamas e Nobre Caminho Óctuplo neste texto. Estou listando-os aqui apenas para que o leitor perceba que esses caminhos são completos e autocontidos. Não se restrigem a ásanas ou à meditação e, consequentemente, são capazes de afetar positivamente toda a vida do praticante.

Enfim, podemos encarar essa “corrida maluca” para se popularizar a meditação como uma prática secular pela perspectiva positiva de que quem a praticar poderá trazer frutos positivos para a sua vida e para a sua saúde. Esses resultados positivos para a saúde já estão suficientemente comprovados para os órgãos de saúde pública brasileiros, de modo que o SUS já permite e sugere a utilização de práticas que eles chamam coletivamente de terapias alternativas. No entanto, só alcançarão os reais objetivos da meditação aqueles que a praticarem dentro de um contexto específico, seguindo todas as prescrições milenares e se beneficiando da orientação de pessoas mais experientes que fazem parte de uma comunidade que possui os mesmos objetivos de desenvolvimento espiritual.