Yoga e Ciência 3.0: Neurônios, Músculos Esqueleto

Neste vídeo, é apresentada a visão geral das relações entre cérebro, corpo e Yoga. Além disso, a postura Virabhadrasana 1 é analisada antomicamente.

Neste vídeo, é apresentada a visão geral das relações entre cérebro, corpo e Yoga. Entenda:

  • O que são os neurônios e as sinapses;
  • O que são neurotransmissores;
  • Os efeitos da gravidade nos músculos e esqueleto e o que o Yoga tem a ver com isso;
  • Análise anatômica da postura Virabhadrasana 1.

 

Yoga e Ciência: O Método Científico

Neste vídeo, uma abordagem genérica do método científico é apresentada bem como a análise de um artigo científico recente na área de ciência contemplativa.

Neste vídeo, uma visão geral do método científico é apresentada, detalhando os passos principais de uma abordagem genérica do método. Além disso, na parte final do vídeo, um artigo científico recente que avalia os efeitos de práticas contemplativas em seres humanos é analisado a partir da perspectiva do que foi descrito no vídeo.

Os passos principais do método científico mencionados no artigo são: observação do mundo, levantamento de hipóteses, coleta de dados, teste de hipóteses, refinamento das hipóteses e desenvolvimento de teorias.

Para facilitar o entendimento do método, é apresentado um exemplo do dia-a-dia: o exemplo da torradeira. Esse exemplo foi proposto no site Khan Academy e foi adaptado para os propósitos desta série de vídeos.

O artigo que é analisado no fim do vídeo avalia os efeitos de Yoga e meditação nos níveis de estresse dos participantes de um treinamento de 3 meses de duração.

Nova Série de Vídeos Elucida as Conexões entre Yoga e Ciência

Neste vídeo apresentamos os conceitos básicos de Yoga, tanto da perspectiva oriental quanto ocidental. A partir deste vídeo, o leitor poderá perceber o quão amplo é o oceano de conhecimentos do Yoga. Além disso, algumas perguntas são respondidas: O que é Yoga? Pra que Yoga? Como o Yoga atua?

Podemos dizer que, de modo geral, as diversas metodologias yogui têm sido estudadas no ocidente sob o tema de pesquisa chamado de Ciência Contemplativa. Este é o tema principal desta página.

Com o intuito de se conectar ainda mais com o tema de Ciência Contemplativa, a partir desta semana, estaremos produzindo uma série de vídeos sobre Yoga e Ciência. O objetivo desta série de vídeos é buscar na literatura científica explicações para os efeitos psicofisiológicos provocados pela prática de Yoga e apresentar tais explicações de modo suave. Além disso, serão abordados temas sobre Qualidade de Vida e Yoga.

Ao longo dos vídeos iremos elucidar alguns termos técnicos relacionados ao Yoga e à biologia e psicologia. O objetivo não é dar aulas desses assuntos mas esclarecê-los minimamente para tornar possível traçar as conexões entre Ciência e Yoga.

Neste primeiro vídeo, uma das chaves de sucesso do Yoga na redução do stress é explicada utilizando o conceito introduzido por Eanes: “Engenharia Reversa do Yoga”.

Vamos nessa?

 

Estudo sugere melhoria em fatores anti-inflamatórios em praticantes de Yoga, Meditação e Terapias Mente-Corpo

Esta é uma tradução resumida do abstract do artigo original em inglês disponível na Revista Frontiers in Human Neuroscience.

Um estudo realizado por B. Rael Cahne colegas (Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Universidade do Sudeste da Californa) indicam melhorias em fatores anti-inflamatórios. Os resultados foram obtidos usando os indicadores de BDNF (Brain Derived Neurotrophic Factor), níveis de cortisol salivares e citoquinas pro e anti-inflamatórias.

Os dados foram coletados de 38 pessoas, com idade média de 34,8 anos, que participaram de um retiro de Yoga e Meditação com duração de 3 meses. Os participantes foram avaliados antes e depois do retiro. Os autores tem como hipótese que os itens avaliados indicam padrões de mudança na integração mente-corpo e no bem-estar.

Os níveis elevados de BDNF observados são um mediador potencial entre as práticas meditativas e a saúde cerebral. A taxa aumentada de CAR (Cortisol Awakening Response), provavelmente, é um reflexo do aumento da excitação dinâmica fisiológica e do relacionamento entre as mudanças pro e anti-inflamatórias de citoquinas para ajudar o funcionamento saudável do sistema imunológico.

A principal atividade meditativa dos participantes foi a prática chamada de Samyama. Essa prática faz parte do Yoga Clássico de Patañjali e é composta de três estados: Dharana, Dhyana e Samadhi.

Esta é uma tradução livre e adaptada do texto original em inglês. Caso a utilize, por favor mencione a fonte.

O Verdadeiro Vijñaana-Bhairava Pode, Por Favor, Levantar-se?

Esta postagem é uma tradução livre e resumida do texto original em inglês disponível no site de Christopher Wallis (Hareesh). O Vijñana-Bhairava Tantra é um dos textos mais importantes do Tantra indiano e um dos únicos que sobreviveram com uma tradição real de prática. Disponível em inglês em: http://tantrikstudies.squarespace.com/blog/2016/10/6/will-the-real-vijaana-bhairava-please-stand-up

Um dos mais fascinantes, estranhos, misteriosos, texto de prática convincente na história do Yoga é o Vijñana-bhairava-tantra, “A Escritura de Bhairava, aquele que é Consciência”. Bhairava é um nome próprio para o inspirador aspecto de Deus, e é o nome divino preferido pelos Shaiva Tântricos não-duas de mais de 1000 anos atrás.

O caráter não-usual do texto é sinalizado no próprio título pelo uso único do nome Vijnãna-bhairava, referindo-se àquele Bhairava que não é uma deidade visualizável com atributos específicos, mas sim é nada mais que o poder inspirador da própria Consciência (“Awareness”). O Vijñana-bhairava é entendido como a “deidade” que misticamente revelou as técnicas yoguis do Vijñana-bhairava-tantra (VBT). Esta postagem constitui-se de uma introdução para o texto de 1200 anos de idade, organizando a maior parte do que tenho dito sobre ele em um único lugar.

Uma Breve Introdução

De um corpus que antes enumerava centenas de textos escriturais, o VBT é a única escritura Tântrica revelada com uma tradição contínua de estudo até o presente (além dos Siddhāntāgamas que ainda são estudados no distante sul da Índia). Aqui, ‘escritura’ refere-se ao trabalho falado (ou sobre o qual alega-se ter sido falado) pelo próprio Śiva (īśvara uvāca) ou pela própria Śakti (devyuvāca). Em outras palavras, um escritura é diretamente revelada por Deus. (No Tantra Budista, diz-se que as escrituras são diretamente reveladas pelo Buddha ou por um Bodhisattva celestial). Já que virtualmente todas as outras escrituras Śaiva incluíam injunções ritualísticas complexas, a execução das quais era suportada por uma forte base institucional, seu estudo decaiu ao longo de séculos de conquista Mulçumana que destruiu aquela base institucional. Essa é a razão principal pela qual na Kashemira do século 20, dominada por Mulçumanos, o VBT é a única escritura revelada da Era Tântrica que ainda é estudada e copiada.

Abaixo eu ofereço uma discussão das características interessantes do VBT que fazem ela sobrassair-se na história do Yoga, sem contar do Yoga Tântrico. (Note na seção seguinte que eu usei as traduções de Singh para os versos que eu ainda não tenho uma tradução própria).

Uma Orientação sobre o Texto e suas Práticas

Um exame inicial do VBT rapidamente revela ao leitor que ele está aqui lidando com um texto cujas ideias e pressupostos sobre a natureza da prática yogui são, em alguns modos, radicalmente diferentes daqueles da tradição do Yoga clássico. O Yoga-sūtra de Patañjali, o texto prototípico do Yoga clássico estressa o desengajamento dos objetos dos sentidos externos (vairāgya) e uma interiorização tão completa que o acadêmico do Yoga, Mircea Eliade, em toda a sua seriedade, comparou o yogui clássico a um vegetal. Em contraste, o VBT (escrito apenas quatro séculos após o Yogasūtra) frequentemente enfatiza um engajamento dinâmico com o mundo externo, embora com uma mudança significativa na atenção ou percepção em relação à natureza do mundo.

No Yoga-sūtra 1.16, lemos: ‘A ausência de paixão é uma ausência total de desejo por qualquer coisa material…’, sugerindo o cultivo da indiferença extrema em direção ao mundo externo. O VBT, por outro lado, assegura uma perspectiva diferente, exemplificada nos seguintes versos:

Aonde quer que a mente vá, seja em direção ao externo ou em direção ao interno, em todo lugar há o estado de Śiva, por que o Divino é todo-pervasivo. (116) Onde e quando a consciência do Senhor onipresente é revelada através dos órgãos dos sentidos, o objeto de sentido [deveria ser contemplado como] tendo exatamente a mesma natureza [como aquela da consciência]…(117)

De fato, este texto vai tão longe ao ponto de recomendar a absorção nos estados internos surgindo como um resultado direto de desfrutar os prazeres dos sentidos, incluindo sexo, comida, bebida e música. (Ao contrário da crença popular, isto é uma grande raridade em textos Tântricos, pelo menos nos Śaiva). Isso é exemplificado no verso 73:

O yogui que saboreia a música e o som ao ponto de mesclar-se com eles torna-se preenchido com uma felicidade sem paralelos, alcança uma consciência elevada e experimenta unidade com o Divino.

Isto deve ser visto como um afastamento radical da tradição anterior vigorasamente ascética, que afirmava que o envolvimento com os objetos dos sentidos inevitavelmente puxava o praticante para longa da experiência do Self verdadeiro e dolorasamente emaranhava-o com as vicissitudes da vida mundana. Contudo, enquanto ilustrando esse contraste, deve-se enfatizar que o VBT claramente não está adovgando a auto-indugência simples (a qual, como nossa experiência verifica, não é caminho de plenitude). O verso 71, por exemplo, especifica que a pessoa deveria tornar-se absorvido no sentimento interno de deleite que surge do estímulo externo  e não nos próprios estímulos. Então, a energia do desejo, previamente vista como um veneno na sādhanā, é redirecionado em direção ao alcance da consciência expandida, como pelos termos do posterior Kulārṇava Tantra (2.63): “O que é chamado de pecado, torna-se um mérito quando feito por um propósito superior”. Deste modo, a tradição Tântrica assegura que o desejo por si mesmo não é um problema tanto quanto o apego à crença de que o desejo deveria ser satisfeito e à crença de que a satisfação do desejo é o caminho para a felicidade. Esta visão errada surge em conexão com a ideia de que os sentimentos de felicidade são causados por ou dependentes dos estímulos que ajudam a engatilhá-los. Este não é demonstravelmente o caso e, portanto, o problema essencial é de ignorância e não de desejo.

Outra característica excepcional do Yoga clássico é sua doutrina fundamental de que o Self é alcançado por meio da cessação de todas as flutuações mental-emocionais (Yoga-sūtra 1.2). Nesta visão, os pensamentos, como estática de rádio, mascaram a pura, doce, simples melodia do Self interno e são, portanto, detritos mentais inúteis quando tenta-se realiza esse Self. Em rígido contraste, se formos identificar uma técnica como sendo o tema mais dominante e pervasivo do VBT, ela seria provavelmente a bhāvanā, um termo que abrange o ‘cultivo da atenção’, a ‘contemplação criativa’ e o ‘sentimento dentro do que é’. É uma versão da prática de bhāvanā, um construto-pensamento profundamente refinado (śuddha-vikalpa) deve ser mantido estável em consciência (awareness). Longe de obscurecer o estado de Self, isto permite que a mente relaxe e venha a repousar sobre a ideia nutritiva de que está em alinhamento com a verdadeira natureza da realidade até que ela se dissolva em um estado-sentimento puro correspondendo à verdade da ideia contemplada. Esta mudança marcante novamente indica a natureza revolucionária da perspectiva Tântrica. Os exemplo de bhāvanā são abundantes pelo texto. Nos versos de 63 a 65, o aspirante contempla seu corpo e o universo como a natureza da consciência alegre. No 109, ele contempla, “Já que eu tenho todos os atributos de Śiva, eu sou o mesmo que o Senhor mais elevado”. No verso 110, ele medita no pensamento (e busca atualizar a experiência correspondente): “as ondas-de-energia do universo têm surgido em suas várias formas de mim, Bhairava.” Essas contemplações criativas não são apenas uma inovação metodológica sobre a tradição anterior, mas também claramente afirmam uma diferença doutrinária: que é a não-dualidade sobre e contra a dualidade. A dualidade da tradição clássica anterior, de fato, não foi uma das diferenças entre a Consciência pura e única, mas uma distinção ontológica entre a Consciência e o mundo. Essa dualidade que o VBT negligencia alegremente, encoraja o aspirante a ver a Consciência Divina pulsando no mundo manifesto inteiro tanto quanto em seu mais profundo núcleo. Surpreendentemente, o VBT é um dos primeiros textos de práticas não-duais a aparecerem, além de exibir maturidade e sofisticação de pensamento, apesar de seu Sânscrito frequentemente simplista. Essa atitude não-dual culmina no dhāranā final, que confiantemente proclama que cognição e conhecido (o conhecimento e seu objeto, o observador e o que é visto, o ouvinte e o que é ouvido, etc) são únicos e o mesmo (v. 137).

Além disso, o VBT é uma dos primeiros textos a apresentar práticas de Kuṇḍalinī (veja os versos 28-31 e 35). Apesar do interesse generalizado em Kuṇḍalinī, ainda há pouco ou nenhum estudo de suas origens e dos primeiros usos do termo. Qualquer pessoa que tente fazer uma busca encontrará informação quase exclusivamente baseada em materais posteriores (pós-clássicos) e reinvenções modernas. (Por exemplo, O Yoga Kuṇḍalinī do Yogi Bhajan não tem nenhuma relação com nada que encontramos nos manuscritos Sânscritos). Devido ao declínio de interesse no estudo acadêmico da cultura convencional, temos literalmente dezenas de milhões de pessoas interessadas em algo que ainda não está bem entendido devido a uma total falta de estudos vigorosos sobre o assunto por alguém fluente tanto em Sânscrito quanto em Inglês.

Por fim, abaixo, temos uma classificação das categorias de práticas do VBT:

  • Respiração
  • Kuṇḍalinī
  • Dvādaśānta
  • Sentidos
  • Som e mantra
  • Vazio
  • Universo
  • Corpo
  • Coração/Centro
  • Prazer
  • Luz e Escuridão
  • Sono e Sonho
  • Prática com o corpo
  • Olhar
  • Equanimidade
  • Conhecimento/Insight
  • Sensações intensas e emoções
  • Aonde a mente vai
  • O “show mágico”
  • O Senhor supremo.
Esta é um resumo traduzido por Eanes T. Pereira. Caso utilize este texto em português por favor mencione a fonte.

O Raja Yoga Não-dualista de Shankara

Shankara foi um dos maiores Yoguis dos quais se tem conhecimento. Além disso, escreveu famosos comentários sobre textos sagrados da tradição de sabedoria indiana. Este texto apresenta os 15 membros do Raja Yoga de Shankara.
Esta é uma tradução resumida e adaptada do texto de David Frawley disponível em: https://vedanet.com/2012/06/13/the-fifteenfold-non-dualistic-raja-yoga-of-shankaracharya/

O original em inglês do qual alguns trechos foram traduzidos está disponível neste link.

shankar

Shankara, o Grande Yogi

Shankaracharya, ou o Professor Shankara, é um ds maiores mestres espirituais da história da Índia. Shankara tem sido chamado de o maior filósofo da Índia, senão de todos os tempos e do mundo. Seus ensinamentos são altamente racionais, claros e concisos, assim como profundamente místicos, desenrolando todos os mistérios do Self, de Deus, do universo, do Absoluto e da imortalidade. A maior parte do que hoje é chamado de Advaita (não-dualístico) Vedanta reflete a marca de sues insights. Ele é o principal professor da tradição Advaita Vedanta.

Shankara é o principal professor de Jnana Yoga ou “Yoga do Conhecimento”, que é frequentemente reconhecido como o elevado caminho yogui. Mesmo Patanjali afirma que a libertação ou Auto-Realização é obtida pelo conhecimento, não por qualquer outro meio e faz do Yoga um meio para alcançar aquele conhecimento mais elevado.

Contudo, muitas pessoas tendem a esquecer que Shankara foi um grande Raja Yogui também, um dos maiores de todos os tempos. Shankara discute todos os principais aspectos do Raja Yoga em seus diferentes livros e mostra que ele conhecia os segredos dos chakras, dos mantras, do pranayama, da concentração e da meditação, assim como as complexidades do Nirvikalpa Samadhi, o estado Yogui mais elevado.

O Raja Yoga Não-dual de Shankara

Shankara ensinou um Raja Yoga de 15 membros em seu curto trabalho Aparokshanubhuti. Aparoksha refere-se ao conhecimento obtido pela percepção direta na própria consciência, que está além da razão e da percepção sensorial. Anubhuti é a experiência disso de momento a momento como a base da próprio ser.

O Yoga de 15 membros de Shankara combina Raja Yoga e Jnana Yoga ao invés das práticas físicas de Hatha Yoga. Este Raja Yoga de 15 membros é bastante avançado, mesmo para Yogis avançados. Não deve haver nenhuma pessoa no mundo, muito menso no ocidente, que possa segui-lo diretamente sem já ter passado por um treinamento considerável e práticas de apoio preliminares. Não estamos recomendando que o aluno convencional de Yoga entre no Raja Yoga de Shankara como sua prática primária, mas use-a para ver grandes profundidades do Yoga que permanecem bastante além do que o Yoga moderno se tornou, particularmente em suas abordagens comerciais e de exercícios. Shankara tira as principais práticas externas e técnicas de Yoga e substitui por seus modos de meditação do conhecimento do Self  ou a realização da não-dualidade.

A importância de Vichara ou Questionamento

O Jnana Yoga ou Yoga do Conhecimento é baseado em pensamento profundo, observação e questionamento (vichara). Esta é também a base do Raja Yoga de Shankara, sem o qual não é possível entendê-lo. Shankara afirma:

  • Sem questionamento (vichara) não há conhecimento, que não é obtido por nenhum outro meio, assim como um objeto é revelado apenas pela luz e não por outra coisa.
  • Tudo surge da ignorância e é dissolvido pelo conhecimento. Os diferentes pensamentos são os criadores de tudo isso. Este questionamento é desse tipo.

Mesmo a meditação não pode nos trazer Auto-realização a menos que esteja aliada a um questionamento profundo ou vichara, uma meditação do Self, ao invés de outros objetos ou ideias. Por outro lado, sem a meditação profunda, vichara ou questionamento também não é suficiente, pois pode permanecer apenas em nível conceitual. Em relação a isso, Shankara ensina seu Raja Yoga de 15 membros para ajudar na realização do conhecimento gerado por vichara ou questionamento, e como um nível mais profundo de questionamento. Claramente, o papel do conhecimento e vichara não tiveram o lugar central apropriado na maior parte do Yoga moderno. Shankara nos ensina como trazê-lo de volta.

O Raja Yoga de 15 membros de Shankara

Os 15 membros são:

  1. Yama
  2. Niyama
  3. Renúncia
  4. Não-falar (Mauna)
  5. Lugar
  6. Tempo
  7. Ásana
  8. Mulabhanda
  9. Equilíbrio do corpo
  10. Fixação do olhar
  11. Pranayama
  12. Pratyahara
  13. Dharana
  14. Atma-Dhyana
  15. Samadhi

Shankara evita a longa descrição de Yamas e Niyamas encontrada em outros textos de Yoga. Ele enfatiza a necessidade de ver tudo como Brahman ou Deus como o meio primário de Yama ou auto-controle. Ele também simplifica os Niyamas promovendo um grande reconhecimento da consciência de unidade e da harmonia de sentimentos que surgem deles.

Mauna é geralmente referido como não falar, que é uma observação importante em muitos caminhos de Yoga. Aqui, Shankara esclarece seu significado mais elevado como uma prática interna de lidar com a realidade além da fala e da mente. Habitar na mais elevada realidade é o Mauna real, não apenas refrear a comunicação verbal. É um estado de consciência além do som, do qual não há base para falar de nada mais como real.

Aqui Shankara define Ásana não como uma postura para sentar ou qualquer outra postura física mas como habitar na contemplação contínua da Suprema Realidade.

Aqui, Mulabhanda consiste em manter-se naquele Brahman que é a raiz de todos os seres e a raiz da mente através da qual a mente é naturalmente controlada.

Para aqueles que ainda não estão maduros em sua vida espiritual ou sadhana, as práticas mais comuns de Hatha Yoga também devem ser incluídas. Isto inclui quase todo mundo. Portanto, Shankara deixa claro que ele não está rejeitando essas práticas mas simplesmente adicionando dimensões mais elevadas. Ele também termina enfatizando a necessidade de devoção como um fundamento para o conhecimento, que de outra forma pode permanecer seco e apenas conceitual.

 

 

Os três centros do ser humano (uma visão tântrica)

Este texto trata dos 3 centros energéticos humanos segundo uma visão tântrica.

Quando o ser humano nasce, seu centro energético principal está localizado na região do abdomen próximo ao umbigo. Podemos interpretar isto de várias formas, uma delas é o fato de que um bebê no ventre da mãe está fisicamente conectado à sua mãe pelo cordão umbilical.

Esse centro energético umbilical é bastante enfatizado na cultura japonesa, ficou famoso devido a uma prática executada por samurais em que por motivo de honra um samurai esfaqueia a si mesmo enfiando a faca no hara (tandem) que é justamente a região do primeiro centro energético.

O primeiro centro energético está associado com dependência tanto física quanto psicológica, mas também está associado com os aspectos de intuição, criatividade, êxtase e apreciação da existência. Podemos dizer que o primeiro centro energético seria um ponto de contato do ser humano com a espiritualidade.

Após o nascimento, a criança ainda dependente passa a receber carinho e cuidados de seus pais (na maioria das vezes isso deveria acontecer). Assim, o segundo centro energético localizado na região do peito/busto passa a ser fortalecido. A pessoa passa a agir levado principalmente por emoções.

Com o passar do tempo, a família, a escola e outras instituições passam a exercer determinados tipos de controle educacional no ser humano fazendo com que ele passe a agir de modo cada vez mais racional, se afastando das emoções, intuições e criatividade. É neste momento que os problemas começam a surgir, pois os dois primeiros centros são enfraquecidos e o terceiro centro (localizado na região da testa) passa a ser fortalecido.

A pessoa que possui o terceiro centro energético muito mais fortalecido do que os outros dois é muito racional. Quer racionalizar tudo, inclusive atos que deveriam ser naturais e prazerosos como a alimentação e a sexualidade. A partir do momento em que a pessoa pensa em tudo nos mínimos detalhes, por exemplo, conta a duração para fazer as atividades que seriam prazerosas, a vida começa a perder o sentido e a pessoa se afasta da espiritualidade.

Um dos possíveis motivos pelos quais as pessoas procuram atividades que parecem irracionais mas que dão prazer e satisfação seria essa necessidade latente de entrar em contato com o primeiro centro energético.

A tradição indiana desenvolveu uma metodologia chamada de Yoga que permite a energização adequada dos centros energéticos humanos. O problema é que mesmo essa prática milenar tem sido deturpada por pessoas que, mesmo tendo boas intenções, misturam os conceitos milenares com uma grande carga de bobagens modernas e invenções desconectadas com a espiritualidade.

Ashtavakra Gita

Ashtavakra foi um grande sábio indiano. Parte de seus ensinamentos estão contidos na Ashtavakra Gita. Cujo capítulo 1 está traduzido a seguir:

Ashtavakra Gita – Capítulo 1

O velho rei Janaka perguntou ao jovem Ashtavakra – Como o conhecimento (ज्ञान – Jñāna) é obtido, como a liberação (मुक्ति – Mukta) é alcançada e como o não-apego (वैराग्य – Vairagya) é alcançado. Por favor, diga-me tudo isso. ||1||

O senhor Ashtavakra respondeu – Se você deseja obter a liberação (मुक्ति – Mukta), desista das paixões (desejos por objetos dos sentidos) como se fossem veneno. Pratique o perdão, a simplicidade (त्याग – Tyaga), a compaixão, o contentamento (संतोष – Saṃtoṣa) e a verdade (सत्य – Satya) como se fossem néctar. ||2||

Você não é terra (पृथ्वी – Prthivi), nem água (जल – Jala), nem fogo (अग्नि – Agni), nem ar (वायु – Vayu), nem espaço (आकाश – Akasha). Para libertar-se (मुक्ति – Mukta), conheça a testemunha (साक्षी – Sākśī) de tudo isso como o ĀTMĀ (आत्मा ĀtmĀ) consciente (चैतन्यरूप – Chaitanya Rupa).||3||

Se você desligar-se do corpo (शरीर – Sharira) e repousar na consciência, você ficará contente (सुख – Sukha), em paz (शांति – Śanti) e livre da prisão ( बंधन मुक्त – Bandhana Mukta) imediatamente. ||4||

Você não pertence a “Brahmana” (ब्राह्मण) ou a qualquer outra casta, você não pertence ao “Celibato” (ब्रह्मचर्य – Brahmacharya) ou a qualquer outro estágio, nem você é qualquer coisa que os olhos possam ver. Você é desligado, sem forma e testemunha (साक्षी) de tudo – então, seja feliz (सुखी – Sukhi). ||5||

A integridade (धर्म – Dharma), a não-integridade (अधर्म – Adharma), o prazer (सुख – Sukha) e o sofrimento (दुःख – Duhkha) estão conectados com a mente (मस्तिष्क – Mastishka) e não com aquele você que está em tudo (सर्वव्यापक – Sarvavyapaka). Você não é nem o feitor nem o colhedor dos frutos das ações, então você está sempre livre (मुक्त). ||6||

Você é a testemunha solitária de tudo que é, sempre livre (मुक्त). Seu único cativeiro (बंधन – Bandhana) é entender o observador como sendo outra pessoa. ||7||

O ego (अहंकार – Ahamkara) envenena-o para acreditar: “Sou eu quem faz”. Acredite “Eu não faço nada”. Beba deste néctar e seja feliz (सुखी). ||8||

A resolução “Eu sou único, puro conhecimento (ज्ञान)” consome como o fogo mesmo a ignorância (अज्ञान) mais densa. Esteja além dos desapontamentos e seja feliz. ||9||

Sinta o êxtase (विश्व), a felicidade suprema (आनंद) em que este mundo parece irreal como uma cobra numa corda, saiba disso e mova-se feliz (सुख). ||10||

Se você pensa que é livre (मुक्त) você é livre. Se você pensa que está preso (बंधा), está preso. É como foi bem dito: você torna-se o que pensa. ||11||

O ĀTMĀ (आत्मा) é a testemunha (साक्षी), que tudo permeia, infinita, única, livre, inerte, neutra, sem associações (असंग) e em paz. Apenas devido à ilusão ele parece mundano (सांसारिक).||12||

Medite (भावना) na consciência imutável e não-dual (अद्वैत) do ĀTMĀ (आत्मा). Seja livre da ilusão do “Eu” e pense neste mundo externo como parte de você. ||13||

Oh filho, você se habituou a pensar “Eu sou o corpo” desde muito tempo. Experimente a si mesmo e por essa espada do conhecimento (ज्ञान) corte aquela amarra (बंधन) e seja feliz (सुखी). ||14||

Você é livre (असंग), inativo, auto-luminoso, puro. Tentar manter-se em paz pela meditação é sua prisão (बंधन) ||15||

Você permeou este universo inteiro; realmente, você o permeou. Você é puro conhecimento, não se torne atormentado (ग्रस्त – Grasta). ||16||

Você é sem desejo, imutável, sólido e morada da calma, de inteligência incomensurável. Esteja em paz e não deseje nada, apenas consciência. ||17||

Saiba que a forma é irreal (असत्य) e apenas o sem-forma é permanente. Uma vez que você conhece isso, você não nascerá novamente. ||18||

Assim como a forma (रूप) existe dentro de um espelho e fora dele, O ĀTMĀ Supremo (परमात्मा) existe dentro e fora do corpo. ||19||

Assim como o espaço (आकाश) existe dentro e fora de uma jarra, o eterno ĀTMĀ Supremo (परमात्मा) existe em tudo. ||20||

O vídeo abaixo conta um episódio famoso da vida de Ashtavakra

Os efeitos ayurvédicos da prática de ásanas – David Frawley e Sandra Kozak

Este texto foi traduzido do inglês disponível em: https://vedanet.com/2012/06/13/the-ayurvedic-effects-of-asana-practice . Por favor, se utilizar esta tradução mencione o site www.cienciacontemplativa.com.br .

O texto em inglês é parte do livro “Yoga for your type”.

Introdução

De acordo com a filosofia do Yoga, o corpo físico é uma manifestação da consciência. Ele é uma cristalização dos padrões cármicos (comportamentais) criados pela mente. A chave para trabalhar com o corpo, portanto, é entender a consciência que está por trás dele, muito da qual reside fora de nosso senso ordinário. Isso requer que pratiquemos ásanas cientes não apenas das “tecnicalidades” das posturas mas também dos estados emocionais mentais que eles criam dentro de nós.

O Ayurveda compartilha essa teoria de Yoga. Ele vê o corpo como uma manifestação dos doshas, que não são meramente físicos mas também fatores de consciência prânicos e psicológicos. Não podemos olhar para o impatcto “dôshico” dos ásanas puramente sobre o nível físico mas também considerar seus efeitos psicológicos.

O Yoga vê os ásanas não meramente como posturas estáticas mas como condições de energia, que por sua vez são manifestações de consciência. A energia e a atenção que pomos numa postura é tão importante quanto a postura em si mesma. Podemos ver isso na vida ordinária em que como nos sentimos em um nível psicológico determina como nos movemos no nível físico. Padrões de longo prazo de sentimento e energia determinam a forma e o ritmo do corpo.

O Ásana como Estrutura Física

No nível mais básico, um ásana é uma postura física, um tipo de gesto corporal. Na prática de ásana pomos o corpo em uma posição que tem um resultado e uma mensagem específicos dependendo da forma que ele deixa o corpo. Cada ásana tem seu próprio efeito estrutural. As posturas sentadas fornecem estabilidade na espinha. Algumas delas criam flexibilidade nas costas e pernas. Como a maioria das posturas sentadas criam estimulação parassimpática, elas criam uma influência calmante e prazerosa. As posturas em pé aumentam a força geral e os níveis de energia. As posturas de flexão das costas tendem a excitar-nos (estimulação simpática), aumentam a extensão da coluna e criam força nos músculos elevadores do tronco. As posturas de relaxamento liberam e acalmam as energias criadas em cada prática de ásana. Todos os ásanas, sejam em grupos ou individualmente, têm suas próprias propriedades energéticas dependendo do que eles fazem com o corpo. Como uma casa eles possuem sua própria arquitetura.

Ásanas como energia prânica

O corpo físico é um veículo para as energias internas que são definidas por meio do Prana. Os ásanas são veículos por meio dos quais o Prana é dirigido. Um ásana não é meramente uma estrutura física mas uma condição de energia. Os ásanas expressam uma qualidade de energia e mesmo posturas relaxantes podem conter por trás delas uma condição dinâmica da mente e do Prana.

Esse fato dá a todos os ásanas uma certa neutralidade em seus efeitos energéticos, assim como um veículo em si mesmo é neutro, com o objetivo de sua viagem dependendo do motorista. Os ásanas são como um carro com Prana como a força motora. Não é apenas uma questão de ter o veículo certo mas também de movê-lo da forma correta. O impulso prânico por trás do ásana é tão importante quanto o próprio ásana.

Isso significa que dependendo de quanto Prana dirigimos, o mesmo ásana pode levar-nos para lugares diferentes. Por exemplo, uma postura sentada feita com pranayama forte pode ter um efeito muito energizante, enquanto com respiração normal ela pode aquietar-nos ou mesmo nos por pra dormir. A energética prânica de um ásana depende de vários fatores incluindo quão rápido fazemos a postura, o grau de força que usamos e, acima de tudo, como respiramos durante o ásana. De fato, o objetivo da prática de ásana é acalmar o corpo de modo que possamos trabalhar nosso Prana. O Prana se manifesta quando o corpo está quieto. Essa é a importância das posturas sentadas para a cura interna.

Ásana como pensamento e intenção

O ásana não é apenas estrutura e energia mas também reflete pensamento e intenção. Podemos chamar os ásanas de uma forma de exercício “pensativo” (thoughtful) ou “ciente” (mindful). Os efeitos do mesmo ásana variam dependendo de se nossa mente está clara ou turva e de se nossas emoções estão calmas ou turbulentas. Podemos executar um ásana com precisão técnica mas nosso estado mental determinará quão libertador o ásana realmente é para nossa consciência.

Nosso estado mental é refletido em nossa respiração. Quando amente está calma, a respiração está calma. Quando a mente está conturbada, a respiração está perturbada. Então, a energética prânica e mental vão juntas. Enquanto podemos mudar os efeitos prânicos de um ásana por meio da repiração, também podemos mudar os efeitos mentais de um ásana por meio de concentração e meditação. Um ásana deveria ser um tipo de meditação na forma e no movimento. Portanto, sempre deveríamos por nossas mentes em um espaço sagrado de silêncio, observação e desapego enquanto praticamos Yoga.

Se a nossa consciência não estiver engajada durante o ásana, então nossa prática permanece em um nível superficial. O Prana segue a energia da atenção. A postura corporal é um resultado disso. O tipo de postura que uma pessoa tem reflete como ela põe sua atenção na vida, o que ela faz mais comumente. É por isso que tantos de nós estamos com as costas curvas hoje em dia. Nossa principal postura é sentar à mesa, no carro ou em um sofá! Isso põe nossa energia fora de nós mesmos e então nossa energia interna afunda ou colapsa.

Em resumo, portanto, o efeito estrutural do ásana é o primeiro fator. O modo com energizamos o ásana por meio de Prana é o segundo fator. Isso inclui como nos movemos pelo ásana e como respiramos nele. Nosso estado mental é o terceiro fator. A principal regra em uma prática de ásana é manter a mente calma, introspectiva e atenta de modo que não percamos o foco na prática. Todos esses fatores estão interrelacionados. O dosha frequentemente contém a chave para o estado estrutural, prânico e emocional de uma pessoa.

Efeitos Ayurvédicos dos Ásanas

Cada ásana possui um efeito particular relativo aos três doshas. Da mesma forma que o Ayurveda classifica as comidas de acordo com seus efeitos dôshicos em boas ou más para Vata, Pitta e Kapha, dependendo dos gostos e dos elementos que compõem cada comida. Podemos olhar para os diferentes ásanas de acordo com sua habilidade estrutural para aumentar ou diminuir os doshas.

Contudo, essa equação dôshica dos ásanas não deveria ser tomada rigidamente por que o efeito prânico de um ásana pode superar seu efeito estrutural como mencionado anteriormente. A forma do ásana não seu principal fator. Pelo uso da respiração podemos modificar ou mesmo mudar os efeitos dôshicos do ásana. Também devemos lembrar da importância do pensamento e da intenção na prática de ásanas. Considerando o ásana, o Prana e a mente, podemos alterar um ásana particular ou ajustar a prática inteira em direção a um resultado dôshico particular. Combinando ásanas específicos, pranayama e meditação um equilíbrio interno completo pode ser criado e sustentado.

A aplicação dôshica dos ásanas é dupla:

  • De acordo com a constituição do indivíduo definida por seu tipo dôshico em Vata, Pitta e Kapha e suas misturas.
  • Relativa ao impacto do ásana nos doshas como funções fisiológicas gerais. Cada dosha tem seus lugares e ações no corpo que ásanas afetarão dependendo de sua orientação.

Aplicação Constitucional

Os tipos Vata têm diferentes estruturas corporais e movem-se de modo diferente dos tipos Pitta e Kapha. De modo similar, Pittas e Kaphas têm seus próprios movimentos particulares e posturas que assumem como parte da assinatura dôshica em seus corpos e mentes. Essa diferença entre os doshas é refletida no pulso de cada tipo.

  • Os tipos Vata possuem pulso com movimento semelhante a uma cobra. Eles movem-se de modo semelhante a uma cobra e como uma descarga de eletricidade, com movimentos rápidos, abruptos, imprevisíveis e irregulares. Sua energia interna e pensamentos têm a mesma velocidade, brilho, imprevisibilidade e descontinuidade.
  • Os tipos Pitta têm um pulso semelhante a uma rã que é nervoso, apertado ou delimitado por natureza. Eles movem-se como pulos de rã e movimento contínuo até alcançarem seu objetivo particular. Seu movimento é como fogo quando salta quando você alimenta-o com mais combustível. Eles agem com foco e determinação, indo passo-a-passo. Sua energia interna e pensamentos têm o mesmo movimento  e fluxo determinado e limitado.
  • Os tipos Kapha têm um pulso como um cisne que é amplo e fluído. Eles movem-se com a lentidão de um cisne, imponentes e elegantes, tomando seu tempo de forma ondulante. Sua energia flui como um rio serpentenado lentamente, em seu tempo pelo caminho, certos de seu objetivo final. Assim, quando Kapha se acumula, seu movimento se assemelha a água fluindo por um pântano, com resistência e levando a estagnação. Sua energia interna e pensamentos têm o mesmo movimento aquoso e possível inércia.

Cada tipo dôshico tem sua própria estrutura particular e energética de vida que estende-se para a prática de ásana. A prática de ásana deve considerar o dosha da pessoa para realmente ser efetivo.

  • A energia Vata é impulsiva e errática, como o vento que sopra forte mas não dura. Mas se nos opusermos a ele, ele fugirá ou quebrará. O Vata deve ser gentilmente refreado e apoiado, aterrado e estabilizado. Deve ser harmonizado e continuado de um modo consistente e determinado.
  • A energia Pitta é focada e penetrante e pode cortar e ferir. Pode ser gentilmente relaxada e difusa. É como um feixe que fere os olhos e é estreito em seu campo de iluminação mas, quando expandido, pode ser uma força iluminante.
  • A energia Kapha é resistente e complacente. Deve ser movida e estimulada por graus, como o gelo que deve ser derretido vagarosamente até que possa fluir suavemente. Devemos energizar consistentemente e estimular o tipo Kapha para ação posterior.

Contudo, se um ásana não pode ser bom para um tipo dôshico particular não significa que ele nunca deve praticá-lo. Significa que ele deveria praticá-lo de um modo que previna quaisquer desequilíbrios em potencial. Por exemplo, as flexões das costas. Realizadas de modo forçado ou rápido podem causar agravamento de Vata, com tensão severa ao sistema nervoso talvez mais do que qualquer ásana. Contudo, as flexões parciais suaves são ótimas para reduzir Vata que acumula-se na região superior das costas e ombros.

Cada família de ásanas como as posturas em pé, flexões para a frente, ou posturas invertidas possui benefícios gerais para o corpo como um todo e seu movimento potencial geral. Cada família de ásana exercita certos músculos e órgãos que, como parte da estrutura corporal inteira, não deveria ser negligenciada. Para enfrentar qualquer tendência em direção ao desequilíbrio, você deveria selecionar posturas dentro de cada família de ásana que fossem melhores para seu tipo corporal do que as outras dentro do mesmo grupo. Em geral, você deveria ter certeza de que todos os grupos musculares principais do corpo estão repreentados em sua prática pelo menos vários dias por semana.

De modo similar, se um ásana é bom para um dosha particular não significa que todas as pessoas daquele tipo dôshico deveriam praticá-lo. Isso significa que o ásana pode ser bom para elas se praticado do modo correto e se elas são fisicamente capazes de executá-lo. Cada ásana também tem seu grau de dificuldade que pode requerer certo aquecimento ou posturas preparatórias para abordá-lo de modo seguro. Por exemplo, a preparação correta para uma pose sobre a cabeça cria a musculatura de baços e ombros necessária para sustentar um equilíbrio de cabeça bom e seguro. Se uma pose sobre cabeça é boa para seu tipo dôshico não significa que você deveria simplesmente pular na postura ou pode fazê-lo sem possíveis efeitos colaterais.

Adicionalmente, os efeitos de ásanas diferentes variam de acordo com a sequência na qual são praticados. Isto significa que a prática de ásana deveria sempre ser vista como um todo – não meramente em termos dos ásanas separados que a compõem mas em termos do fluxo e do relacionamento entre todos os ásanas particulares realizados. A prática de ásanas (significando a sequência e o modo de realizar os ásanas assim como os ásanas específicos) deveria ser projetada para manter os doshas em equilíbrio relativo à constituição e condição dos indivíduos.

É útil ver uma sequência de ásanas como uma fórmula de ervas. Uma fórmula de ervas ayurvédica contém um número de ervas usado para vários propósitos que contribuem para o efeito geral da fórmula, preenchendo papéis específicos. O efeito geral dôshico da fórmula é determinado pela fórmula como um todo, não por uma erva única dentro da fórmula vista isoladamente. Combinando essas considerações com os fatores genéricos listado acima, para prescrever ásanas efetivamente os professores devem aprender a:

  • Mensurar o tipo ayurvédico e os desequilíbrios da pessoa;
  • Mensurar a condição estrutural da pessoa, incluindo sua postura, idade e condição física.
  • Mensurar a condição prânica, seu controle da respiração e dos sentidos, assim como sua vitalidade e entusiasmo.
  • Mensurar o estado mental da pessoa, sua atenção, vontade e motivação, assim como sua condição emocional.

O mesmo ásana deveria ser realizado de modo diferente relativo a se a pessoa é Vata, Pitta e Kapha. O mesmo ásana deveria ser realizado de modo diferente dependendo da idade, sexo e condição física da pessoa. Deveria variar dependendo de se a pessoa tem uma vitalidade forte ou fraca. Variações adicionais ocorreriam se a pessoa está sofrendo de raiva, luto, estresse ou depressão. Isso reflete quatro objetivos primários para uma prática ayurvédica de ásanas:

  1. Equilibrar os doshas.
  2. Melhorar a condição estrutural do corpo.
  3. Facilitar o movimento e o desenvolvimento do prana.
  4. Acalmar e energizar a mente.

Tipos Ayurvédicos de Corpo e Práticas de Ásanas

Para entender os potenciais dos ásanas para os diferentes tipos de pessoas gostaríamos de olhar para elas de acordo com os tipos dôshicos de corpo.

Tipo de Corpo Vata

Os tipos Vata possuem ossos finos e longos que são frequentemente fracos ou frágeis. Possuem baixo peso corporal e desenvolvimento muscular pobre, mas uma boa quantidade de velocidade e flexibilidade. Sua estrutura óssea torna-os bons em flexões e alongamentos, particularmente dos braços e pernas, quando são jovens. À medida que envelhecem, contudo, a qualidade seca de Vata aumenta e causa-lhes perda de mobilidade se não se exercitarem regularmente.

Uma prática de ásana suave, lenta e equilibrada para ambos os lados do corpo é o exercício ideal para os tipos Vata. Os Vatas têm necessidade predominantemente de ásanas por que os ásanas aliviam o Vata acumulado nas costas e nos ossos, onde ele se aloja. A doença de Vata começa com uma acumulação do movimento do ar para baixo (Apana Vayu), no cólon, que é transferido para os ossos, onde causa problemas de ossos e juntas, que libera tensões nervosas e equilibra o sistema.

O Potencial Negativo de Vata

Os tipos Vata sofrem comumente de rigidez devido à secura e deficiência nos tecidos. Seu baixo peso corporal não permite o “estofamento” adequado das juntas e nervos ou uma hidratação adequada dos tecidos. Eles são mais propensos a machucados por que eles gostam de realizar movimentos repentinos e abruptos, assim como gostam de práticas extremas.

O Potencial Positivo de Vata

Os tipos Vata gostam de movimentos e exercícios. Eles preferem ser ativos e expressivos tanto com o corpo quanto com a mente e gostam de fazer coisas novas. O ásana é algo que eles fazem facilmente e crescem acostumados como parte de sua atividade natural. É um modo calmante deles exercitarem-se.

Vata Bloqueado e Deficiente

Há duas condições básicas de Vata, que são chamadas de Vata bloqueado e Vata deficiente. O Vata bloqueado apresenta uma energia estagnada em algum lugar do corpo, junto com dor ou desconforto mas um peso corporal normal. O Vata deficiente exibe baixa energia, baixo peso corporal e hipersensitividade, frequentemente sem qualquer dor aguda. O Vata bloqueado requer movimento orientado ou ásanas pránicos para liberá-lo. O Vata deficiente requer uma abordagem construtiva e gentil, evitando muito esforço. O Vata bloqueado é mais comum em pessoas jovens que possuem energia adequada mas ela está bloqueada, enquanto o Vata deficiente é mais comum em pessoas mais velhas cuja qualidade dos tecidos está em declínio.

O Tipo de Corpo Pitta

Os tipos Pitta têm um corpo médio com um, geralmente, bom desenvolvimento dos músculos e “soltura” das juntas, que lhes dá uma boa quantidade de flexibilidade. Eles bons na prática de ásana mas não podem fazer muitas das posturas exóticas que os Vatas podem por causa dos ossos mais curtos que geralmente possuem. Os Pittas se beneficiam da prática de ásanas para esfriar a cabeça, esfriar o sangue, acalmar o coração e aleviar a tensão. Por exemplo, os Pittas tendem a ter hipertensão por causa de seu temperamento impetuoso que os mantém sempre querendo ter sucesso ou vencer.

Potencial Negativo de Pitta

Os tipos Pitta tendem a ser “esquentadinhos” e irritáveis devido ao excesso de calor. Eles podem perder a paciência para começar a prática ou para permanecer nela por um tempo. Por outro lado, uma vez envolvidos eles podem exagerar nas posturas e serem agressivos ou militantes em suas práticas. Um Pitta que foi muito longe em sua prática se sentirá mais irritável ou mesmo mais bravo após terminá-la. Os Pittas tenderão a ficar com posturas que podem fazer bem e ignorar aquelas que podem ajudar-lhes a se desenvolverem mais.

Potencial Positivo de Pitta

Os Pittas têm o melhor foco e determinação dos tipos dôshicos. Eles facilmente entram numa disciplina consistente e prática determinada uma vez que eles que tenham começado e tenham sido orientados corretamente. Eles são os mais ordenados e consistentes dos tipos. Eles apenas têm que descobrir o caminho certo para por suas energias.

O Tipo de Corpo Kapha

Os Kaphas são tipicamente curtos e musculosos, ganham peso com facilidade. Com seus ossos curtos e finos carecem de flexibilidade e não podem executar posturas que requeiram flexibilidade como a postura de lótus. Os tipos Kapha necessitam de movimento e estimulação para enfrentar sua tendência de complacência e inércia. Eles são bons em manter uma prática por longos períodos de tempo, uma vez que tenham começado.

Potencial Negativo de Kapha

Os Kaphas tendem a ter sobrepeso, que limita seus movimentos e os torna sedentários. Eles geralmente têm congestão nos pulmões que leva a dificuldade para respirar. Eles carecem de esforço positivo e acham difícil mudar sem algum tipo de estímulo externo. Eles precisam estar constantemente incentivados a fazer mais ou pararão logo o esforço.

Potencial Positivo de Kapha

Os Kaphas são estáveis e consistentes no que fazem. Uma vez que tenham começado algo fazem-no com fé. Eles permanecem emocionalmente calmos e equilibrados em suas práticas independentemente dos resultados. Eles vêem a vida com amor e o trabalho como serviço.

O Modo Ayurvédico de Executar Ásanas

O Ayurveda não olha para os ásanas como formas fixas que por si mesmos diminuem ou aumentam os doshas. Ele os vê como veículos para a energia que podem ser usados para ajudar a equilibrar os doshas, se usados corretamente. O mesmo é verdade para a visão do ayurveda para a comida. Enquanto comidas individuais têm seus efeitos específicos para aumentar ou diminuir os doshas, como preparamos a comida, como as “remediamos” com pimenta, como as combinamos, ou como as cozinhamos para misturar qualidades de comidas em um todo harmonioso, é tão particular quanto as próprias comidas.

Enquanto o Ayurveda diz que as comidas de certos sabores são mais prováveis de aumentar ou diminuir doshas específicos, ele também diz que necessitamos em algum grau de todos os sabores. Assim também precisamos fazer todos os tipos principais de ásanas em algum nível. Cada pessoa precisa de uma faixa completa de exercícios para lidar com a escala completa de movimento no corpo.

Sua prática geral de ásana deveria ser como uma refeição. Cada refeição deveria conter algum nível de todos os seis sabores (doce, azedo, salgado, pungente, amargo e adstringente) e alguma quantidade de todos os tipos de nutrientes necessários para o corpo (amidos, açúcares, proteínas, óleos, vitaminas e minerais) mas com ajustes para as necessidades individuais da constituição de cada um. Assim também a prática de ásana deveria conter todos os tipos de ásanas necessários para exercitar e relaxar o corpo inteiro ajustados aos fatores constitucionais individuais. Deveria incluir posturas sentado, de pé, pronadas, expansivas, de contração e movimentos de subida e descida, mas de um modo e numa sequência que nos mantenha em equilíbrio e considere nossa estrutura energética individual e condições mentais.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Vata

Geral: mantenha sua energia firme, equilibrada e consistente; modere e sustente seu entusiasmo.

Corpo: matenha seu corpo calmo, centrado e relaxado; faça o ásana devagar, gentilmente e sem uso indevido ou repentino de força, evite movimentos abruptos.

Prana: mantenha a respiração profunda, calma e forte, enfatizando a inalação.

Mente: mantenha a mente calma e concentrada, aterrada no momento presente.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Pitta

Geral: mantenha sua energia fria, aberta e receptiva, como a lua crescente.

Corpo: mantenha o corpo frio e relaxado; execute os ásanas em modo de entrega para remover o calor e a tensão.

Prana: mantenha a respiração fria, relaxada e difusa; exale pela boca para aliviar o calor quando necessário.

Mente: mantenha a mente receptiva, desapegada e alerta mas não afiada ou crítica.

Chaves para Executar Ásanas para seu Tipo Kapha

Geral: se aqueça apropriadamente e então execute o ásana com esforço, velocidade e determinação.

Corpo: mantenha o corpo leve e movendo-se, aquecido e seco.

Prana: mantenha o Prana se movendo para cima e circulando; tome fôlego, respirações rápidas se necessário para manter a energia.

Mente: mantenha a mente entusiástica, desperta e focada como uma chama.

Sobre Retiros e Retirantes

Dicas e sugestões para práticas intensivas de meditação.

As pessoas se deparam com a meditação de várias formas. Algumas começam praticando Yoga para amenizarem problemas físicos como dores nas costas, artrite, tendinite, esforços por movimentos repetitivos, etc. Em algum momento de sua vida, o praticante “casual” de Yogásana conhecerá a verdade: o Yoga é muito mais que uma sequência de alongamentos; o Yoga é muito mais mental do que físico. Outras pessoas acabam encontrando alguma notícia em jornal ou revista de futilidades falando dos milagres da meditação. Fato é que em algum momento, os curiosos do Yoga tentamos nos engajar em alguma prática de meditação. A maioria se contenta com os ásanas, no máximo vão até os pranayamas. Alguns dos que descobrem a meditação a incorporam em sua prática.

Possivelmente, quando a meditação for incorporada à prática de Yoga, alguns fatores mais profundos de nosso ser antes desconhecidos ou não percebidos virão à tona. Neste momento, talvez surja algum interesse mínimo em aspectos espirituais (que fique claro, não estou me referindo a nada religioso). Quando procuramos informações sobre a meditação como método espiritual descobrimos finalmente qual é o objetivo central do Yoga e da meditação: a libertação. Se formos fundo nesta busca, encontraremos algumas informações ou algum mestre que dirá que é necessário praticar de modo mais intensivo durante alguns dias por ano.

Entramos em alerta: o que quer dizer praticar meditação intensivamente? Quer dizer focar a atenção com mais força? Se é que isso é possível? Se é que a meditação é apenas foco. Eu diria que a resposta pode ser obtida na direção do tempo dedicado à prática de modo contínuo. Digamos, sessões mais longas, ou uma maior quantidade de sessões seguidas por dia. Mais um questionamento pode surgir: se minhas pernas ficam dormentes, ou minha coluna dói com uma sessão de 20 minutos, o que acontecerá comigo em uma prática mais intensa? Há um evento específico para realizar estas práticas intensivas, que nas tradições espirituais é chamado de retiro.

Como acontece na maioria das vezes que os ocidentais tentam se apoderar de conhecimentos e práticas que não fazem parte da cultura ocidental, a tentativa de adaptação pode estragar o método. Além disso, a sociedade moderna possui uma certa aversão a assuntos religiosos ou espirituais. Muitas vezes se diz que uma coisa é filosofia para acalmar os ânimos dos “descrentes”. O mesmo tem acontecido com as tradições relacionadas ao Yoga que vieram para o ocidente. Surgiram as tradições auto-proclamadas não-sectárias.

Tradicionalmente, os caminhos espirituais relacionados ao Yoga e à meditação envolvem uma relação entre professor e aluno. Dessa relação surge o que se chama de linhagem, que é uma forma de checar a qualidade ou a procedência de professores e alunos. De modo geral, os professores tradicionais tentam proteger o conhecimento contra os curiosos e também tentam proteger os alunos afoitos que desejam aprender algo para o qual ainda não estão preparados. Assim, existe uma série de práticas e condições preliminares às quais o aluno deve se submeter e superar adequadamente antes de avançar. Uma analogia muito simples: dificilmente alguém que não pratica corrida metodicamente conseguirá correr uma maratona e chegar intacto ao fim; dificilmente, um corredor de fim de semana ganhará uma corrida competindo contra pessoas que praticam 3 ou 4 vezes por semana. Mais que isso, é comum notícias sobre atletas de fim de semana que sofrem contusões e problemas cardíacos.

No entanto, a pressa inerente de nossa sociedade propiciou o surgimento de grupos ou “professores” que prometem dar resultados rápidos aqueles que os procuram. Existem por aí determinados grupos que promovem “retiros de meditação” sem terem a menor preocupação com as pessoas que irão participar. Na minha opinião, pelo menos duas preocupações deveriam existir: (1) o candidato a retirante já possui uma prática pessoal? (2) há a possibilidade do candidato a retirante ser acompanhado por alguém mais experiente após o fim do retiro para ajudar com algum problema que possa surgir tardiamente?

Conheço vários grupos que tentam ter os cuidados mencionados anteriormente. Alguns candidatos a retirantes podem pensar que estão sendo excluídos ou discriminados, mas na verdade estão sendo protegidos. Pois, da mesma forma que a meditação pode ser algo maravilhoso, pode ser um desastre irreparável na vida de alguém se praticada de modo indevido. Uma busca rápida na web trará inúmeros casos de pessoas que se submetem a retiros de vários dias sem nunca terem praticado ou apenas tendo praticado esporadicamente e saem dos retiros com problemas físicos e mentais. Alguns problemas físicos comuns são dores nas costas e joelhos. Os problemas mentais mais comuns são alucinações e outros problemas que os médicos poderão chamar de problemas psiquiátricos.

Gostaria que este texto servisse de alerta para as pessoas que estão com pressa de avançar na meditação ou em qualquer outra prática espiritual. Antes de participar de um retiro ou prática intensa verifique a procedência das pessoas que irão ministrar o retiro. Tente conhecer outras pessoas que já participaram ou que tiveram aulas com os professores. Além disso, é importante que a sua prática pessoal esteja bem consolidada para que você seja capaz de aproveitar adequadamente as longas horas de meditação diária em um retiro.