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Guru Stotram – Hino de Louvor ao Princípio do Guru
अखण्ड-मण्डलाकारं व्याप्तं येन चराचरम्।
तत्पदं दर्शितं येन तस्मै श्री गुरवे नमः॥१॥
akhaṇḍa-maṇḍalākāraṃ vyāptaṃ yena carācaram.
tatpadaṃ darśitaṃ yena tasmai śrī gurave namaḥ 1
अज्ञान-तिमिरान्धस्य ज्ञानाञ्जन-शलाकया।
चक्षुरुन्मीलितं येन तस्मै श्री गुरवे नमः ॥२॥
ajñāna-timirāndhasya jñānāñjana-śalākayā.
cakṣurunmīlitaṃ yena tasmai śrī gurave namaḥ 2
गुरुर्ब्रह्मा गुरुर्विष्णुः गुरुर्देवो महेश्वरः ।
गुरुरेव परं ब्रह्म तस्मै श्री गुरवे नमः॥३॥
gururbrahmā gururviṣṇuḥ gururdevo maheśvaraḥ
gurureva paraṃ brahma tasmai śrī gurave namaḥ 3
स्थावरं जङ्गमं व्याप्तं यत्किञ्चित् सचराचरम्।
तत्पदं दर्शितं येन तस्मै श्री गुरवे नमः॥४॥
sthāvaraṃ jaṅgamaṃ vyāptaṃ yatkiñcit sacarācaram.
tatpadaṃ darśitaṃ yena tasmai śrī gurave namaḥ 4
चिन्मयं व्यापि यत्सर्व त्रैलोक्यं सचराचरम्।
तत्पदं दर्शितं येन तस्मै श्री गुरवे नमः॥५॥
cinmayaṃ vyāpi yatsarva trailokyaṃ sacarācaram.
tatpadaṃ darśitaṃ yena tasmai śrī gurave namaḥ 5
सर्व-श्रुति-शिरोरत्न- विराजित-पदाम्बुजः।
वेदान्ताम्बुज-सूर्यो यः तस्मै श्री गुरवे नमः॥६॥
sarva-śruti-śiroratna- virājita-padāmbujaḥ
vedāntāmbuja-sūryo yaḥ tasmai śrī gurave namaḥ 6
चैतन्यः शाश्वतः शान्तः व्योमातीतो निस्अनः।
बिन्दु-नाद-कलातीतः तस्मै श्री गुरवे नमः ॥७॥
caitanyaḥ śāśvataḥ śāntaḥ vyomātīto nisanaḥ
bindu-nāda-kalātītaḥ tasmai śrī gurave namaḥ 7
ज्ञान-शक्ति-समारूढः तत्त्वमाला-विभूषितः।
भुक्ति-मुक्ति-प्रदाता च तस्मै श्री गुरवे नमः॥८॥
jñāna-śakti-samārūḍhaḥ tattvamālā-vibhūṣitaḥ.
bhukti-mukti-pradātā ca tasmai śrī gurave namaḥ 8
अनेक-जन्म-सम्प्राप्त- कर्म-बन्ध-विदाहिने।
आत्मज्ञान-प्रदानेन तस्मै श्री गुरवे नमः॥९॥
aneka-janma-samprāpta- karma-bandha-vidāhine.
ātmajñāna-pradānena tasmai śrī gurave namaḥ 9
शोषणं भव-सिन्धोश्च ज्ञापनं सार-सम्पदः ।
गुरोः पादोदकं सम्यक् तस्मै श्री गुरवे नमः ॥ १० ॥
śoṣaṇaṃ bhava-sindhośca jñāpanaṃ sāra-sampadaḥ .
guroḥ pādodakaṃ samyak tasmai śrī gurave namaḥ 10
न गुरोरधिकं तत्त्वं न गुरोरधिकं तपः।
तत्त्वज्ञानात् परं नास्ति तस्मै श्री गुरवे नमः॥११॥
na guroradhikaṃ tattvaṃ na guroradhikaṃ tapaḥ.
tattvajñānāt paraṃ nāsti tasmai śrī gurave namaḥ 11
मन्नाथः श्रीजगन्नाथः मद्गुरुः श्री जगद्गुरुः ।
मदात्मा सर्वभूतात्मा तस्मै श्री गुरवे नमः ॥ १२॥
mannāthaḥ śrījagannāthaḥ madguruḥ śrī jagadguruḥ .
madātmā sarvabhūtātmā tasmai śrī gurave namaḥ 12
गुरुरादिरनादिश्च गुरुः परमदैवतम्।
गुरोः परतरं नास्ति तस्मै श्री गुरवे नमः॥ १३॥
gururādiranādiśca guruḥ paramadaivatam.
guroḥ parataraṃ nāsti tasmai śrī gurave namaḥ 13
त्वमेव माता च पिता त्वमेव । त्वमेव बन्धुश्च सखा त्वमेव
त्वमेव विद्या द्रविणं त्वमेव । त्वमेव सर्वं मम देवदेव ॥ १४॥
tvameva mātā ca pitā tvameva . tvameva bandhuśca sakhā tvameva
tvameva vidyā draviṇaṃ tvameva . tvameva sarvaṃ mama devadeva 14
Nirvana Shatkam – Sexteto do Nirvana – Verso 2
न च प्राणसंज्ञो न वै पञ्चवायुर्न वा सप्तधातुर्न वा पञ्चकोशः ।
न वाक्पाणिपादौ न चोपस्थपायुश्चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ २॥
E não sou o que é conhecido como prana, nem mesmo os cinco ventos ou os sete elementos ou as cinco coberturas. Não sou a fala, as mãos, os dois pés e nem órgãos genitais, nem órgãos excretores. Eu sou a essência da felicidade e da consciência. Eu sou Shiva. Eu sou Shiva.
न => não
च => e
प्राणसंज्ञो => प्राण संज्ञो => प्राण + संज्ञः => bahuvrihi => o que é conhecido como prana
न => não
वै => mesmo
पञ्चवायुर्न => पञ्च वायुः न
पञ्च => cinco
वायुः => m1s => vento
न => não
वा => ou
सप्तधातुर्न => सप्त धातुः न
सप्त => sete
धातुः => m1s => elemento
न => não
वा => ou
पञ्चकोशः => पञ्च कोशः
पञ्च => cinco
कोशः => coberturas
न => na
वाक्पाणिपादौ => वाक् पाणि पादौ
वाक् => f => fala
पाणि => m => mão
पादौ => m1d => dois pés
न => não
चोपस्थपायुश्चिदानन्दरूपः => च उपस्थ पायुः चिद् आनन्द रूपः
च => e
उपस्थ => m => órgãos genitais
पायुः => m1s => órgão excretor
चिद् => consciência
आनन्द => felicidade
रूपः => m1s => forma
शिवोऽहं => शिवः अहम्
शिवः => m1s => shiva
अहम् => pron. => eu
शिवोऽहम् => शिवः अहम्
शिवः => m1s => shiva
अहम् => eu
Nirvana Shatkam – nirvāṇaṣaṭkam – Tradução do verso 1
Tradução do verso 1 do Sexteto do Nirvana.
मनोबुद्ध्यहङ्कारचित्तानि नाहं न च श्रोत्रजिह्वे न च घ्राणनेत्रे ।
न च व्योमभूमिर्न तेजो न वायुश्चिदानन्दरूपः शिवोऽहं शिवोऽहम् ॥ १॥
eu não [sou] [a] mente, [o] intelecto, [a] individualidade, [os] pensamentos
e [não sou] [o] ouvido, [a] língua,
e [não sou] [o] cheiro e [os dois] olhos
e não [sou] [o] céu, [a] terra, nem [o] fogo,
e nem [o] vento.
[eu sou a] essência da felicidade e da consciência,
eu [sou] shiva
eu [sou] shiva
मनोबुद्ध्यहङ्कारचित्तानि => मनः बुद्धि अहंकार चित्तानि
मनः => n1s => mente
बुद्धि => n1s => intelecto
अहंकार => m => individualidade
चित्तानि => n1p ppp चित्त => pensamentos
नाहं => न अहम्
न => indec. => não
अहम् => pron. => eu
न => indec. => não
च => indec. => e
श्रोत्रजिह्वे => श्रोत्र जिह्वे
श्रोत्र => n => ouvido
जिह्वे => f1d => língua
न => indec. => não, nem
च => indec. => e
घ्राणनेत्रे => घ्राण नेत्रे
घ्राण => cheiro
नेत्रे => f2d => dois olhos
न => não
च => e
व्योमभूमिर्न => व्योम भूमिः न
व्योम => n1s => céu
भूमिः => f1s => terra
न => não
तेजो => तेजः => m1s => fogo
न => não
वायुश्चिदानन्दरूपः => वायुः चिद् आनन्द रूपः
वायुः => m1s => vento
चिद् => consciência
आनन्द => m => felicidade
रूपः => m1s => forma
शिवोऽहं => शिवः अहम्
शिवः => m1s => shiva
अहम् => pron. => eu
शिवोऽहम् => शिवः अहम्
शिवः => m1s => shiva
अहम् => eu
Espiritualidade, à la carte ou self-service?
O risco de querermos inventar nosso caminho espiritual.
Houve um tempo em que alguém que quisesse aprender sobre Yoga (ásanas, ascese, pranayama, etc), meditação, Vedanta, Rituais ou qualquer assunto relacionado à espiritualidade deveria procurar por alguém que reconhecidamente era um professor daquele assunto. Veja que enfatizei a palavra reconhecidamente. O reconhecimento de que alguém era um professor de assuntos espirituais vinha de pelo menos duas origens: (i) de uma linhagem de mestres-díscipulos da qual o professor reconhecido fazia parte; (ii) de uma comunidade que estava em volta daquele professor, estudava com, punha em prática seus ensinamentos e os validava em sua vida.
Como muitos desses professores reconhecidos não tinha o ensino do autoconhecimento como uma profissão, mas como parte da sua vida, eles não divulgavam aos quatro ventos que estavam ensinando esses assuntos e que estavam à procura de alunos. Então, pra começo de conversa era meio complicado de achar alguns professores. Em segundo lugar, não bastava chegar ao professor e dizer que queria estudar com ele, você deveria mostrar-se merecedor do conhecimento.
O tempo passou, algumas tradições morreram de morte natural ou foram atacadas por outras tradições e destruídas. Alguns professores, por medo de que o conhecimento morresse com eles pediram para seguidores anotarem seus ensinamentos. Outros professores, simplesmente escreveram os ensinamentos ou comentários sobre os ensinamentos. Além disso, as tecnologias evoluíram permitindo que os textos fossem reproduzidos digitalmente favorecendo a propagação e divulgação dos assuntos espirituais.
Com a popularização da Internet, ficou muito fácil de encontrar textos sobre praticamente qualquer assunto “dito espiritual”. Melhor/Pior que isso, ficou muito fácil acessar “ensinamentos” de “mestres” espirituais via vídeos e áudios. Veja a quantidade de aspas que usei nas sentenças anteriores. Só por que os textos estão disponíveis facilmente não quer dizer que sua leitura ou estudo serão benéficos para qualquer pessoa em qualquer estágio de sua vida. Outro fator complicador é que os textos tradicionais estão escritos em sânscrito. A maioria deles não tem tradução. Por mais que os acadêmicos se esforcem para criar traduções “neutras” sem viés de linhagem, isso não é possível (na minha humilde opinião). A questão da tradução é ainda mais grave, devido a existirem muitas traduções péssimas de vários textos em sânscrito.
É evidente que o primeiro passo de qualquer pessoa hoje ao buscar conhecimentos sobre espiritualidade é fazer uma pesquisa na Internet. Essa possibilidade é uma bênção, não há como negar. Também é evidente que as primeiras tradições com as quais nos conectamos o fazemos por afinidade. (Uma amiga anarquista foi quem me fez perceber isso). E essa conexão por afinidade é similar a escolha de uma comida em um cardápio. Ou seja, à la carte. Não há outra forma de ser, exceto quando você não tem escolha. Mas isso não quer dizer que todos os caminhos são iguais. Nesse caso, devo admitir que Raul Seixas estava errado quando falava com seu amigo Pedro. Todos os caminhos não são iguais, por que cada tradição tem objetivos específicos e para objetivos específicos há métodos específicos. Você não deveria usar um martelo para pregar um parafuso.
Um problema comum na prática de meditação, por exemplo, é alguns praticantes de aplicativos praticarem meditações de tradições transcendentalistas cujo foco principal é o desenvolvimento espiritual de renunciantes (monges, swamis, etc) quando na verdade estão buscando algo para viverem melhor suas vidas e não para abandonar a vida prática. Isso pode dar um nó na cabeça, principalmente quando ocorrem efeitos que são considerados adversos para um pai ou mãe de família mas que para um monge ou swami é o efeito esperado. Se você se considera autodidata e não tem a quem recorrer para conversar sobre os efeitos da sua prática de meditação, o que vai fazer? Provavelmente, seu aplicativo não tem inteligência artificial para ajudar nisso.
Problemas podem surgir de pelo menos duas formas diferentes: (i) quando escolho meu caminho espiritual à la carte, mas invento minha sadhana; (ii) quando escolho práticas de caminhos espirituais diversos (self-service) e invento minha sadhana. Observe que em ambas as situações existe o “inventar a sadhana”. Sadhana é uma prática espiritual, desenvolvida dentro de tradições que tem objetivos específicos dentro daquela tradição. Quando um leigo, do alto de sua ignorância, decide escolher o mantra do mês no instagram para repetir antes de ir à missa, temos um problema. Não com a missa, mas com a mistura de sadhanas. Para que um caminho espiritual funcione adequadamente deve haver um alinhamento entre visão, prática (sadhana) e resultado.
Mesmo vivendo em uma socieade onde “o que eu acho” é mais importante do que a verdade/realidade, temos que perceber que, se você não sabe para onde está indo, pelo menos duas coisas podem acontecer: ou você não chegará a lugar algum, ou onde quer que você chegue você ficará satisfeito. Se você está caminhando na orla de João Pessoa e um amigo passa e pergunta onde você está indo e você diz estou indo à Roma. Ele vai rir de você e dizer que por ali você não vai chegar. Mas você poderá ficar chateado e dizer “eu seu o que estou sentindo, estou na direção certa”. Devemos sempre ter em mente a seguinte pergunta: “e se eu estiver errado e não souber?” É para ajudar a responder essa pergunta que existem os professores. Outro problema agravado pela popularização da Internet foi o aumento na quantidade de autodidatas. Pessoas que dizem que aprenderam a fazer algo sozinhas. Dizer que aprendeu a fazer algo sozinho é meio falacioso. Pois, se você leu algum texto ou ouviu alguém falando sobre o assunto, você não aprendeu sozinho. Mesmo que tenha sido uma revelação de algum ser sobrenatural, esse ser foi quem te falou.
Quando estamos falando de autoconhecimento, estamos falando em lidar com o ego. O ego é um bichinho muito traiçoeiro e esperto. É praticamente impossível você lidar com ele sozinho ou sem a ajuda de alguém mais experiente. Vejamos por exemplo, a prática de mantras. Nos tempos remotos, um mantra era passado para um aluno por um professor que conhecia aquele aluno, conhecia um pouco da personalidade dele, das dificuldades que ele tinha, dos pontos fortes e fracos. O professor ensinava um mantra que sabia que iria auxiliar o aluno em sua jornada. Mais que isso, o professor tinha praticado o mantra milhares de vezes.
Atualmente, tem muita gente ensinando coisas que nunca praticaram, ou por que fizeram um curso no domingo e na segunda já vai ensinar, ou por que leu um livro o mês passado e já que ensinar isso agora, sem nem ter integrado aquilo em sua vida. Hoje em dia, se você quer ganhar dinheiro fácil (como se isso fosse honestamente possível) você vai num site de vídeos online e digita “mantra para a prosperidade”. Aí você executa simultaneamente o self-service (você quer um mantra para uma “fome” específica) e o à la carte (há vários artistas disponíveis cantando o mantra!).
As sadhanas foram criadas dentro de tradições e foram validadas pela prática de muitas pessoas durante séculos ou milênios. Por mais iluminado que você pense que é, dificilmente vai inventar algo novo em termos de abordagens espirituais e isso vai funcionar sem que seja aprimorado por gerações de praticantes. O ponto principal que devemos entender é que existe um método a ser seguido para que a sadhana funcione. Se você faz várias etapas de uma sadhana, mas do modo como lhe vem à cabeça, dificilmente você vai alcançar o objetivo. E não me venha dizer que o que vale é a intenção. Se o que vale é a intenção, então você não precisa praticar sadhana nenhuma, apenas mentalize sua intenção e veja onde você vai chegar.
Tradução de Verso para Mahalakshmi
Esta é a tradução do verso 2 do Mahalakshmi Ashtakam.
नमस्ते गरुडारूढे कोलासुरभयङ्करि ।
सर्वपापहरे देवि महालक्ष्मि नमोऽस्तु ते ॥ २॥
Saudações a você, aquela que está sentada em garuda, aquela que causa medo ao deva Saturno. Remova todos os paapa*. Oh Devi, Mahalakshmi, saudações sejam [dadas] a você.
*paapa == fruto de ação negativa.
Poema Místico: Eu não bebo vinho ordinário
Este é um poema escrito pelo poeta shakta Ramprasad Sen que viveu em Bengala no século dezoito. O poema foi traduzido para o inglês por Elizabeth U. Harding. Esta é a tradução livre do inglês para o português.
Eu não bebo vinho ordinário,
mas vinho de felicidade eterna,
quando eu repito o nome de minha Mãe Kali;
Isso intoxica tanto a minha mente que as pessoas pensam que estou bêbado!
Primeiro, meu guru me dá melaço para fazer o vinho;
Meu desejo é o fermento para transformá-lo.
O conhecimento, o criador do vinho,
o prepara para mim, então;
E quando está pronto,
minha mente absorve da garrafa do mantra,
tomando o nome da Mãe para torná-lo puro.
Beba deste vinho, diz Ramprasad,
e os quatro frutos da vida são seus.
~Ramprasad Sen
O que não é um mantra
Neste vídeo, veremos o que é um mantra e as variedades de cânticos e versos existentes que são classificadas como “mantras”.
Variedades da Prática Contemplativa
As práticas mais profundas de meditação utilizam mantras, cânticos e visualização. Mas é claro que um mestre não vai sair por aí ensinando essas práticas para qualquer pessoa. Assim como tudo na vida, um caminho deve ser trilhado antes de chegar a práticas, supostamente, mais avançadas.
Está se tornando popular o termo prática contemplativa, especialmente em sua versão conhecida como meditação. Com a popularização da Internet, cada vez mais pessoas se propõem a ensinar aquilo que acham que sabem. Há vários problemas envolvidos aqui, talvez o pior deles seja o autodidatismo.
É possível aprender muita coisa sem um professor (mas lendo livros escritos por um), tais como matemática, história, biologia, xadrez, etc. Mas quando se trata de assuntos de espiritualidade e autoconhecimento, só por milagre um autodidata chega a algum lugar. No máximo, o que vai acontecer é a pessoa se tornar o acadêmico insoso que já leu todos os livros e artigos sobre meditação e eletroencefelagrafia mas não é capaz de ficar sentado de olhos fechados por cinco minutos numa almofada.
Às vezes aparece algum autointitulado conhecedor da sabedoria indiana querendo participar de grupos de estudo e meditação mas quando questionado sobre suas práticas pessoais, no máximo o que ele faz é ver vídeos no youtube e ler livros de mestres Pop.
Aqui entra mais uma tentativa de esclarecer equívocos: mais de 99% do que você vê e ouve por aí sobre meditação, não é meditação. Nessa hora lembro da literatura barata que eu lia na adolescência e que só recentemente meu professor me questionou usando como exemplo aquela literatura:
- Você acredita realmente que um ninja escreveria um livro entitulado: Os Segredos do Ninja ?
Agora, pare e pense, você realmente acredita que um grande mestre tradicional iria escrever num livro todos os segredos de uma tradição milenar. Em primeiro lugar, algumas práticas não se aprendem lendo, pois é necessário que alguém que as saiba observe você praticando e te corrija. Por exemplo, a prática de mantras. A maior tentação nossa hoje é buscar algum cardápio de mantras na Internet, escolher aquele que mais nos agrada, de preferência em texto transliterado e depois procurar no Youtube ou em outra plataforma alguém cantando o mantra para tentarmos aprender olhando a transliteração e ouvido a pessoa cantar.
Daí decorrem muitos problemas, por exemplo, a questão dos sons nasais no sânscrito. As palavras escritas em sânscrito mudam seus caracteres e quando vão ser cantadas podem mudar sua sonoridade de acordo com regras bem específicas. Assim, o que acontece geralmente é você vê no texto um caractere mas a pessoa que você está ouvindo no Youtube não pronuncia aquele caractere. O que fazer? O autodidata vai procurar outro vídeo em que a pessoa pronuncie o caractere. Mas qual a forma correta? Em princípio, o autodidata não vai saber, vai procurar cinco versões diferentes do mesmo cântico e fazer uma votação pela maioria das pronúncias escolhendo a que ele supõe que seja a correta. Já imaginou a bagunça e a demora que essa vai ter pra aprender um mantra ou um cântico?
Voltemos a meditação. A maioria das abordagens populares ensinadas, são técnicas de concentração de influência predominantemente budista. São uma tentativa de facilitar a vida das pessoas modernas que não conseguem nem ficar sentadas na almofada. Então, as técnicas de concentração vendidas como meditação vão dizer: perceba a sua respiração, preste atenção quando estiver comendo alguma coisa, etc.
Acontece que as práticas mais profundas de meditação utilizam mantras, cânticos e visualização. O processo de repetir mantras e cânticos seguindo as regras corretas de entonação e de pronúncia provoca estados mentais que conduzem o praticante a um estado de meditação profunda. As visualizações podem ser de dois tipos principais: visualização da deidade e visualização de determinados aspectos espirituais no próprio corpo.
Mas é claro que um mestre não vai sair por aí ensinando essas práticas para qualquer pessoa. Assim como tudo na vida, um caminho deve ser trilhado antes de chegar a práticas, supostamente, mais avançadas. Em primeiro lugar, o básico deve ser dominado: aprender a sentar imóvel por alguns minutos, por exemplo, e a aprender a pronúncia do sânscrito. Em segundo lugar, o mestre deve perceber a dedicação e devoção do aluno ao caminho que está trilhando. Se houver um mero interesse superficial, os segredos não serão revelados.
Sobre a Pronúncia de Mantras, Cânticos e Versos
Afinal ,a pronúncia do sânscrito é importante ou não para recitar mantras?
Quando se trata de recitar mantras, cânticos e versos da língua sânscrita (língua antiga indiana em que a maior parte dos textos védicos, yoguis e tântricos estão escritos) como uma prática espiritual devemos considerar dois fatores:
- A pronúncia não é importante;
- A pronúncia é importante.
Se a pessoa não considera importante a pronúncia correta, por quais motivos ela estaria interessada em recitar o mantra? Pra quê recitar? Só para estar na moda? Não faz o menor sentido a pessoa querer repetir frases em outro idioma se considera que a pronúncia correta não é importante. Se a pessoa quer recitar mantras como prática espiritual e não sabe ou não quer aprender a pronúncia do sânscrito seria melhor ela obter a tradução do mantra que deseja e o repetir em seu próprio idioma.
Mas se a pessoa deseja repetir mantras como prática espiritual e concorda com a tradição no fato de que a pronúncia é importante, algumas orientações devem ser seguidas:
- Para recitar corretamente é importante que a pessoa saiba pronunciar os sons do alfabeto sânscrito que inclui sons que não estão presentes no português. Por exemplo, sons em que se coloca a ponta da língua no céu da boca para serem pronunciados.
- Tradicionalmente os mantras são passados de mestre a discípulo. É claro que há exceções, mas não deveríamos tomar a exceção pela regra.
- A maioria das pessoas não possui boas habilidades auditivas a ponto de perceberem mudanças de tons e de pronúncias sozinhas. Para a maioria das pessoas, é necessário que alguém as escute pronunciando os versos para que seja possível apontar possíveis erros.
Mas por que essa preocupação toda com os sons dos mantras. Por motivos bem simples. Vejamos os seguintes exemplos de palavras do sânscrito que possuem sons parecidos mas que possuem significados bastante distintos:
- बल (bala) : força, poder;
- बाल (bāla): garoto;
- बाला (bālā): garota;
- भाल (bhāla): testa;
Perceba que a principal diferença entre as três primeiras palavras está na duração da vogal a. Pois o traço horizontal em cima do a indica que ele deve ter pronúncia mais longa do que a sem o traço horizontal. Na quarta palavra, há outra diferença, o som de b é aspirado.
Agora imagine que você está repetindo um mantra pedindo força e está pronunciando a palavra relativa à força como uma das outras três opções. Que desastre, não? Olha que este é um exemplo simples.
Se você quer repetir mantras e não quer aprender ou não sabe a pronúncia do sânscrito. Peça a alguém que sabe que lhe ensine alguma tradução. Ou então, você pode ouvir a gravação do mantra recitado por alguém que saiba.