Yoga Virtual

Infelizmente, devido à pressa do mundo moderno, o treinamento de professores de Yoga teve que sofrer mudanças e aos poucos algumas escolas foram reduzindo as exigências para formação de professores de modo que, pasmem, não seria de admirar se fosse possível você receber certificado de professor de Yoga sem nunca ter feito um ásana no curso de formação.

Antes de mais nada: Yoga não é ásana! Yoga não é ginástica! Yoga não é exercício físico! Mas: Yoga tem ásana! Yoga tem ginástica! Yoga tem exercício físico!

O Yoga pode ser definido de várias formas, a definição clássica de Patanjali diz que “Yoga é a cessação das atividades da mente”. Na Bhagavad Gita há várias outras definições, por exemplo: “Yoga é ação habilidosa”. Observe que em nenhuma das duas definições se diz que Yoga é ginástica. Porém, deve-se deixar bem claro que o Yogui deve ter uma boa capacidade física e que há várias técnicas yóguicas (por exemplo, ásanas e kriyas) que trabalham a capacidade física do yogui.

Antes de entrarmos no tema principal, vale a pena diferenciar dois aspectos importantes do yoga:

  • Yoga-darshana: aspectos teórico-filosóficos do yoga, ou seja, a visão do yoga.
  • Yoga-sadhana: o que se faz como Yoga, a prática em si mesma.

Infelizmente, devido à pressa do mundo moderno, o treinamento de professores de Yoga teve que sofrer mudanças e aos poucos algumas escolas foram reduzindo as exigências para formação de professores de modo que, pasmem, não seria de admirar se fosse possível você receber certificado de professor de Yoga sem nunca ter feito um ásana no curso de formação.

O conhecimento tradicional aos poucos vai se adaptando às mudanças impostas pelo tempo e às características culturais das novas sociedades por onde vai se disseminando. Isso não poderia ser diferente para o Yoga. Hoje é fácil encontrar milhares de vídeos na Internet “ensinando” sequências de ásanas ou tutoriais com imagens detalhando as posturas. Ótimo! Excelente! Que maravilha que esse conhecimento está sendo divulgado!

Porém, deveríamos nos questionar: para quem esse conhecimento é adequado? Outro fator que devemos nos lembrar é: o que quer dizer transmissão tradicional de conhecimento? Em primeiro lugar, o fato do conhecimento está sendo transmitido virtualmente pela Internet ou por livros não quer dizer que ele não esteja sendo transmitido de modo tradicional. Nas tradições yóguicas, duas perguntas fundamentais para checar o “pedigree” de alguém que pretende ser professor são:

    • Quem é ou foi o seu professor?
    • Quanto tempo você estudou com ele?

Existem pessoas que sabendo da importância dessas duas perguntas, se matriculam em algum curso com um professor famoso passam alguns meses e desistem. Depois usam o nome daquele professor dizendo “Comecei os estudos com o professor XXX em 20YY”. Mas será que terminou os estudos?

Agora, diante dessas duas perguntas voltemos à situação de alguém que pretende ser professor de Yoga estudando de modo autodidata por livros e vídeos online. Perceba que há pelo menos um erro nessa situação: como alguém pode se autointitular autodidata se estuda o trabalho de outros professores ou vê vídeos de outros professores? Claro que essa pessoa não é autodidata. Uma característica básica de um autodidata é ele ser capaz de intuir o conhecimento sem o auxílio de um professor. Algo raro nos dias de hoje, em que tudo se copia.

Agora, voltemos para a situação daquele que quer ser professor de Yoga. Uma coisa muito comum em estúdios de Yoga é perceber como há uma grande quantidade de pessoas com problemas de coordenação motora (e não precisa ser idoso, há muitos jovens descordenados por aí) e até mesmo com leve dislexia a ponto de não saber diferenciar o que é esquerda do que é direita. Imagine uma pessoa que nunca na vida teve uma aula de Yoga presencial tentando aprender isso por vídeos ou por imagens. Todas as pessoas que já foram a uma aula de Yoga decente sabem que uma das tarefas fundamentais de qualquer professor de Yoga é ajustar a postura do aluno, indicar pra ele o lado correto do corpo, indicar a região do corpo onde ele deve sentir melhor a ação do ásana, etc. Quando começamos a considerar todos esses aspectos, talvez torne-se impossível conceber a possibilidade de alguém que nunca praticou Yoga se tornar um professor por meio de um curso 100% online. Não precisa ser um gênio para perceber isso. Além disso, que argumentos um professor formado virtualmente terá para convencer pessoas a serem seus alunos, quando essas mesmas pessoas podem aprender Yoga vendo vídeos online. Seria, no mínimo, hilária essa tentativa de convencimento.

Isso não quer dizer que o conhecimento de Yoga não possa ser transmitido online. É aqui que voltamos a duas definições dadas anteriormente. O Yoga-darshana pode ser transmitido quase que completamente de modo virtual e pode ser aprendido em grande parte por meio de livros e vídeos. No entanto, para que o conhecimento seja transmitido de modo íntegro, será necessário um contato mínimo com o mestre. Só a interação com o professor, o esclarecimento de dúvidas e a interação com colegas de jornada poderá aparar as pontas finais no processo de autoconhecimento. Em termos de sadhana, uma vez que as técnicas tenham sido aprendidas adequadamente, grande parte do processo será solitário. Mas nunca deve-se desprezar a possibilidade de receber uns ajustes num ásana que, por força do hábito, passamos a fazer com alguma incorreção.

Nada melhor do que a Internet, para vermos o que as pessoas estão falando sobre essas possibilidades de aprender Yoga. Vejamos o resumo de algumas respostas a uma pergunta feita no Reddit sobre Yoga-Online versus Yoga-Presencial:

  • Aulas presenciais são boas por causa da energia dos colegas;
  • Como principiante “eu precisava” de feedback sobre as minhas posturas;
  • A variedade das aulas, a atenção individual e a comunidade são essenciais numa aula presencial;
  • Com as aulas presenciais é mais difícil de procrastinar;
  • Pode-se ganhar muito conhecimento com aulas online, mas nada substitui o olhar atento de um professor experiente na sua execução das posturas;
  • As abordagens não são, necessariamente, mutuamente exclusivas;
  • Algumas posturas podem ser perigosas se executadas sozinhas e sem orientação.
  • Aprender de um professor qualificado é o melhor que podemos ter;
  • Um professor presencial pode ajustar a aula para a sua forma, capacidade física e conforto. As aulas virtuais podem ser usadas como suplemento;
  • As aulas virtuais podem ser boas se você não tem tempo disponível para a aula presencial. Mas a energia da aula presencial é insubstituível;
  • A aula presencial facilita o foco;
  • Se você tem fundações sólidas no Yoga, pode seguir por vídeos;
  • “Eu gosto de assistir aulas online, mas quando quero ir fundo na prática vou a uma aula presencial”;
  • Numa sala de aula muito cheia, mesmo que presencial, não quer dizer que a aula será boa;

Em suma, se você não tem experiência com Yoga não tem tente praticar sozinho em casa, procure o auxílio de alguém mais experiente. Se você já pratica há alguns anos, pode tentar incrementar a sua prática vendo alguns vídeos e pedindo alguma orientação ao seu professor sobre a prática em casa. Mas a prática presencial é insubstituível. E não esqueça de investigar com quem seu professor aprendeu, como e onde. Você poderá se surpreender (ou se decepcionar).

Mantras: usos e abusos

Usos e abusos dos mantras numa sociedade em que temos muita informação disponível.

Popularmente, um mantra ( मन्त्र ) é uma frase ou sílaba (bija-mantra) utilizada para orações ou meditações. Originalmente, um mantra é um “verso” dos Vedas. Com o desenvolvimento das tradições indianas conectadas aos Vedas, outros mantras foram revelados aos sábios. Mas um fato importante sobre a “obtenção” de mantras é que ou você é um sábio bastante realizado capaz de receber diretamente o mantra de Ishvara/Ishvari ou você precisa de um professor que te passe o mantra adequadamente.

É aí que começa a confusão. Primeiro, nos dias de hoje poucos são aqueles que dedicam sua vida integralmente ao Yoga ou ao autoconhecimento e praticam intensamente meditação, tapas, rituais e etc. Portanto, a probabilidade de existirem sábios por aí recebendo mantras por inspiração divina nos dias de hoje é bem baixa, embora não possamos excluir essa possibilidade. Segundo, com a popularização da Internet e do acesso à informação existe uma grande quantidade materiais dizendo que ensinam mantras. Esses materiais variam desde livros e vídeos no Youtube a cursos online. Então, já que é “tão fácil” ter acesso aos mantras hoje, por que não íriamos simplesmente ao Youtube, digitamos o objetivo para o qual queremos o mantra e o aprendemos? Por exemplo, suponha que alguém quer um mantra para arranjar um casamento. Ela poderia ir num dos oráculos dos tempos modernos e digitar “Mantra para arranjar marido”, escolher dentre os fundos musicais disponíveis e começar a repetir o mantra.

É claro que muitos de nós já tentamos acessar o conhecimento dos mantras pelo Google, mas pense bem, você realmente acha que um grande sábio conhecedor de mantras vai estar distribuindo mantras pelo Youtube? Não podemos negar a grande quantidade de trabalhos de qualidade sobre Yoga e Tradição Védica existente na Internet. Mas o fato de um professor explicar o significado de um mantra e cantar ele no Youtube para você ouvir não quer dizer que ele está te dando autorização para repetir o mantra. O fato dele estar explicando o mantra poderia ser apenas para fins de divulgação da tradição. Mas, como sempre, pense bem. Será que isso que está sendo recitado é realmente um mantra?

Uma coisa que tem acontecido muito nos dias de hoje é chamarmos qualquer frase recitada em uma língua estranha de mantra. Quando na verdade, o que está sendo recitado pode ser um cântico, um hino, um verso poético, etc.

Alguns fatores que devemos considerar se quisermos realmente aprender mantras do modo tido como tradicional:

  • Mantras ou cânticos da tradição védica são recitados em sânscrito;
  • No sânscrito existem sons que não fazem parte da língua portuguesa;
  • Tradicionalmente, a pronúncia correta do mantra é de extrema importância. Até por que há palavras em que a diferença entre uma vogal curta e uma vogal longa mudam o significado pretendido. Por exemplo: bala com o primeiro a curto significa força, bAla com o primeiro a longo significa criança ou garoto.
  • Tradicionalmente, um mantra que não tenha sido ativado por um praticante sério é considerado “morto”. Portanto, se você vai num “manual de mantras” e seleciona um que você quer e o repete, provavelmente estará perdendo seu tempo. O pior é que depois vai sair falando que mantra não funciona.
  • Não sabemos qual mantra é melhor para nós, apenas uma pessoa qualificada pode indicar e te passar um mantra.
  • Não é por que você acabou de aprender um mantra de seu professor que você já vai falar ele pros outros ou ensiná-lo a outras pessoas.
  • Por fim, toda tradição merece respeito. Um dos motivos pelos quais as tradições espirituais indianas se perpetuaram por milênios foi o respeito que os praticantes tinham por ela. Portanto, se você sai por aí balbuciando frases sem sentido pra você e que você não tem certeza se está falando corretamente e que foi você que escolheu em algum livro ou no Youtube, deveria repensar seu conceito de respeito por uma tradição.

Obs.: Tudo que foi exposto acima não exclui a possibilidade de acesso a mantras por inspiração divina.

A Dificuldade de Manter a Xícara Vazia em Tempos de Internet

Erros comuns na relação professor-aluno no processo ensino-aprendizagem nas disciplinas de autoconhecimento.

Há uma historinha bastante conhecida no contexto de tradições de autoconhecimento que se refere à necessidade de nos desvencilharmos de todo conhecimento prévio que julgamos ter sobre um assunto antes de nos dirigirmos a um professor. A história conta que um determinado aluno foi visitar um mestre e chegou “cheio de conhecimento” falando de tudo que já sabia e de tudo que já tinha lido. O mestre o chamou para tomar um chá e começou a encher a xícara do aluno, mas mesmo depois que a xícara já estava cheia o mestre continuou derramando o chá na xícara. O aluno pediu para ele parar e perguntou por que ele continuava a derramar o chá mesmo com a xícara estando cheia. O mestre disse: da mesma forma que é impossível entrar novo chá nessa xícara é impossível entrar novo conhecimento na mente que já chega cheia. No Zen, esse ensinamento é traduzido na frase: “Mente Zen, mente de Principiante”.

Hoje em dia, é ainda mais difícil de manter as xícaras das nossas mentes vazias devido a grande facilidade de acesso à informação que a Web nos proporciona. No entanto, o que a maioria das pessoas que buscam o autoconhecimento não percebe, pelo menos no início, é que a sabedoria disponível em tradições como Yoga, Vedanta e Budismo não é como Matemática e Geografia que basta você pegar uns livros, ler algumas vezes, fazer exercícios e assim você saberá do conteúdo. Não, não é assim. A transmissão de sabedoria espiritual exige um método que está além das palavras e da abordagem utilizada em escolas e universidades.

Embora nas disciplinas de conhecimento material (chamemos assim), algumas pessoas possam se autointitular autodidatas, nas disciplinas de sabedoria espiritual isso é muito raro ou, praticamente, impossível. Mesmo aqueles que se dizem autodidatas estão enganados pois eles, no mínimo, leram algum livro que foi escrito por outra pessoa e, podemos dizer, essa outra pessoa ensinou indiretamente o conteúdo àquela que leu o livro. No caso de espiritualidade, pode haver uma transmissão espontânea chamada de shaktipat. Mesmo assim, a pessoa que recebe um shaktipat espontâneo vai precisar estudar, por um tempo, com um mestre se desejar ter conhecimento ou desenvolver habilidades mínimas para se tornar autônomo.

O problema pode se tornar ainda mais sério quando a pessoa procura um professor, mas só para cumprir tabela. Chega na aula achando que sabe tudo, mesmo sem expressar isso, ou às vezes nem percebe que está agindo como se soubesse de tudo.

Por exemplo, a pessoa tem determinada experiência durante uma prática e acha que foi algum despertar de chakra (mesmo que tal pessoa não saiba direito o que são chakras nem as possíveis localizações). A pessoa pergunta ao professor se aquela experiência é despertar de um chakra específico e o professor diz que acha que não por que naquela região não tem chakra nenhum, nem nas tradições que ele conhece se menciona a existência de chakra naquela região. O aluno sai e diz: continuo achando que foi a sensação de chakra por que eu li na revista XYZ que isso pode acontecer e eu dei uma palestra sobre isso, etc.

Outro exemplo: o aluno está com alguma dificuldade interna e acha que é devido às práticas, pede conselho ao professor se deve seguir o caminho A ou o caminho B. O professor diz pra seguir o caminho A, mas o aluno diz que acha melhor seguir o caminho B. Isso é, no mínimo, entristecedor. Se você pede um conselho já pensando em não seguir, pra quê pede?

O que vejo alguns professores fazerem em relação a esse tipo de atitudo de xícara cheia é, simplesmente, depois de algumas repetições do comportamento, se abster de dar opinião ou conselho. Em casos extremos, já vi o professor se recusar a ensinar qualquer coisa ao aluno sabichão, pois, afinal, se ele sabe tanto, veio aprender o quê?

Sutra 11 – Pada I – Yoga Sutra de Patanjali

Tradução do verso 11 do pada 1 do Yoga Sutra de Patanjali.

अनुभूतविषयासम्प्रमोषः स्मृतिः

anubhūtaviṣayāsampramoṣaḥ smṛtiḥ

अनुभूत (anubhūta), particípio passado  do verbo anubhū => percebido

विषय (viṣaya), masculino => objeto

अनुभूतविषय = अनुभूत + विषय => karmadhāraya => objetos percebidos

असंप्रमोष: (asaṃpramoṣa:), masculino, nominativo, singular => não deixar cair (a partir da memória), não deixado cair, não esquecido.

स्मृतिः (smṛtiḥ), feminino, nominativo, singular => memória

A palavra अनुभूतविषयासम्प्रमोषः e a palavra स्मृतिः formam um bahuvrīhi 

Tradução

Tradução literal: A memória é aquela da qual os objetos percebidos não são deixados cair.

Tradução adaptada: A memória não esquece os objetos percebidos.

Comentário

Observe que o contexto nos levou a interpretar “não deixar cair da memória” como sendo “esquecer”.

Para acessar a tradução dos outros versos, clique neste link.

A origem da grande quantidade de ásanas do Yoga moderno

Muitas pessoas pensam que a grande quantidade de posturas do Yoga moderno é invenção dos novos “professores”, mas o estudo de alguns manuscritos recém-descobertos aponta para o fato de que na Índia pré-invasão britânica já havia a prática de uma grande variedade de ásanas.

Vários autores já apontaram o fato de que textos clássicos de Yoga mencionam apenas algumas dezenas de ásanas. Enquanto o Yoga Sutra de Patanjali se restringe a dizer que ásana é uma postura firme e agradável, o Yoga Bhasya de Vyasa ao Yoga Sutra menciona apenas 12 ásanas:

  1. padmásana;
  2. vírásana;
  3. bhadrásana;
  4. svastikásana;
  5. dandásana;
  6. sopáśrayásana;
  7. paryankásana;
  8. krauñcanishdanásana;
  9. hastinishadanásana;
  10. ushtranishadanásana;
  11. samasamsthánásana;
  12. sthirasukha ou yathásukásana.

Além de serem poucos, grande parte dos ásanas mencionados são sentados e muitos autores dizem que o único propósito do ásana é habilitar o corpo a conseguir passar um bom tempo sentado em meditação.

Atualmente, quando se fala em Yoga as pessoas pensam principalmente em posturas físicas. Alguns leigos ainda associam yoga/ásanas com Hatha Yoga. Porém, mesmos textos clássicos de Hatha Yoga como Śivasamhitá (menciona apenas 6 ásanas), Hathapradípiká (menciona apenas 15 ásanas) e Gherandasamhitá falam de poucos ásanas. A Gherandasamhitá é a que menciona a maior quantidade de ásanas, mas são apenas trinta e dois.

Se formos a alguns sites que falam de Yoga, podemos encontrar até softwares que automatizam “a criação” de ásanas e de sequências. Por exemplo, o site Yoga Journal lista uma grande quantidade de ásanas e sugestões de sequências.

O que ainda está faltando na literatura especializada é um estudo que indique se essa proliferação de ásanas é simplesmente uma influência ocidental no Yoga ou se existe alguma conexão com as fontes tradicionais, ou se existem textos tradicionais que indiquem que eram feitas práticas em que a execução de uma grande quantidade de ásanas era importante.

Neste sentido, recentemente, Jason Birch publicou um capítulo intitulado “The Proliferation of Asana-s in Late-Medieval Yoga Texts”, no livro “Yoga in Transformation”. O capítulo de Jason Birch se fundamenta na descoberta de vários manuscritos de textos medievais de yoga que contém listas de mais de oitenta e quatro ásanas. Segundo o autor, esse número é canônico e é mencionado em vários textos de yoga. O que faltava, até o momento, eram textos que descrevessem esses ásanas, pois as menções aos oitenta e quatro eram apenas listas de nomes ou apenas menção ao número.

Jason Birch argumenta que, de fato, está claro que mais de oitenta e quatro ásanas eram praticados em algumas tradições do Hatha Yoga antes dos britânicos chegarem à Índia. O mais incrível, para quem achava que ásana era apenas para sentar e meditar, é que a maioria dos ásanas descritos nos  textos recentemente descobertos não eram posturas sentadas, mas posturas complexas e que demandavam muito esforço físico, algumas envolvendo movimento repetitivo, controle da respiração e uso de cordas.

Além da grande variedade de ásanas descritos, os novos manuscritos descobertos apontam para o fato de que os ásanas eram executados não apenas como alongamentos ou exercícios físicos como alguns “professores de yoga” ensinam (ou como é ensinado em algumas academias de musculação). A execução de ásanas envolvia movimento cíclico da respiração entre o abdômen e a cabeça, por exemplo. Em alguns trechos desses manuscritos os ásanas são descritos como kriyás, que combinam técnicas elaboradas de pránáyáma com ásanas complexos.

Outra característica interessante que aparece em um dos novos manuscritos é a sequência de ásanas em que o praticante deve ser capaz de realizar ásanas fundamentais antes de seguir para ásanas mais complexos.

Segundo Jason Birch, a hipótese de Sjoman de que alguns ásanas derivam de sistemas indianos de artes marciais continua válida, mas a contribuição do novo manuscrito foi situar esses ásanas no Hatha Yoga. Além disso, o novo manuscrito deixa claro que hathayogis praticavam ásanas dinâmicos, antes da influência britânica.

Por fim, Jason Birch traça algumas hipóteses sobre a influência de textos derivados desses manuscritos nos sistemas de Yoga desenvolvidos pelos alunos de Krshnamácárya (Patabhi Jois, Iyengar, Desikachar, Kaustubh, etc). Os alunos da linhagem de Krshnamácárya mencionam um texto chamado Yoga Kurunta que Jason Birch diz não ter encontrado nenhuma cópia em bibliotecas da Índia. Mas pelos relatos dos alunos da linhagem há alguma influência dos novos manuscritos nesse suposto texto chamado Yoga Kurunta.

Finalmente, a origem da míriade de ásanas do Yoga moderno está começando a ficar clara.

Não Existe a Possibilidade de Não-Ação – BG 3.5

Só nos resta agir.

न हि कश्चित्क्षणमपि जातु तिष्ठत्यकर्मकृत् कार्यते ह्यवश: कर्म सर्व: प्रकृतिजैर्गुणै:

na hi kaścitkṣaṇamapi jātu tiṣṭhatyakarmakṛt kāryate hyavaśa: karma sarva: prakṛtijairguṇai:

Pois mesmo quem não está agindo certamente não permanece mesmo por um momento, todos são, de fato,  levados a agir independentemente pelas qualidades  (guṇai:) nascidas de sua natureza (prakṛti).

Experiências, Baratos e a Longa Jornada para a Liberação

Se o Yoga dobrou o seu corpo, mas não dobrou a sua mente, o objetivo não foi alcançado.

Muitos de nós, provavelmente, ao começarmos a nos interessar por assuntos relacionados ao Yoga lemos e ouvimos tudo que temos acesso. Como sobre todos os assuntos, existe muito mais material de baixa qualidade disponível do que bom material.

A pouca disponibilidade de material confiável nos faz acreditar em muitas ideias mirabolantes sobre a jornada no caminho do Yoga. Dentre as ideias mais absurdas que há por aí, existe a ideia de que ter experiências alucinantes pode levar alguém à libertação espiritual. Antes de continuar, caro leitor, perceba que eu não estou afirmando que não existam experiências “loucas” no caminho. Sim, pode haver, mas tais experiências não são o objetivo da prática.

Existem algumas marcas registradas de Yoga comercial que tem como um de seus objetivos causar efeitos de hiperventilação nos praticantes, os quais muitas vezes são/somos inocentes o bastante para achar que o “barato” causado pela prática tem algo a ver com uma coisa mística que as pessoas chamam de kundalini ou aquele estado que dizem que pode ser alcançado pela meditação chamado de samadhi.

A confusão básica que temos aqui é a inversão de causa e consequência. Ou causa e efeito colateral. Práticas sérias de Yoga/Meditação podem provocar efeitos semelhantes a estados alterados de consciência, mas nem todo estado alterado de consciência deve ser considerado sinônimo de evolução espiritual. Se estados alterados de consciência fossem sinônimo de evolução espiritual, todos os usuários de drogas seriam bastante evoluídos espiritualmente. Aparentemente, isso não é verdade.

O progresso na jornada espiritual Yogui deve envolver mudanças cognitivas, pois todo resultado proveniente de ações tem duração proporcional ao esforço empregado para obtê-lo. Apenas o conhecimento/sabedoria é capaz de provocar resultados duradouros. No entanto, a afirmação anterior não exclui a necessidade de praticarmos ações físicas (e.g., ásanas) e mentais (e.g., meditação). Pelo contrário, essas ações são úteis por vários motivos, tais como:

  • Preparar mente e corpo para as mudanças cognitivas que virão;
  • Prover experiências que comprovam o que o conhecimento teórico estabelece como verdadeiro;
  • Trazer saúde e qualidade de vida para que o praticante tenha condições de seguir na jornada adequadamente.

Por fim, lembre-se do seguinte: Se o Yoga dobrou o seu corpo, mas não dobrou a sua mente, o objetivo não foi alcançado.

Yoga Sutra I.2

Tradução detalhada do verso 2 do pada I do Yoga Sutra.

योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः॥२॥

yogaścittavṛttinirodhaḥ॥2॥

[O] Yoga [é]  [a] supressão das atividades da mente [2]

Tradução Palavra por Palavra

योग (yoga), masculino => união

चित्त (citta), neutro => coração/mente, memória, pensamento, imaginação

वृत्ति (vṛtti), feminino => condição, estado, atividade, funcionamento

निरोधः (nirodha), masculino, nominativo singular => restrição, controle, destruição, supressão.

Comentário

Neste verso temos dois tatpurusha do tipo genitivo:

1) चित्तवृत्ति (चित्ताणम् + वृत्तीणम्) =  das atividades da mente. Observe que “das” e “da” já estão indicando os genitivos.

2) चित्तवृत्तिनिरोद्ध = निरोद्ध (restrição) + चित्तवृत्ति (das atividades da mente). A classificação da samāsa completa é tatpurusha acusativo, embora ela seja formada por dois tatpurushas genetivos.

Outro fator importante de se observar é que está havendo um sandhi de visarga entre योग: e चित्तवृत्तिनिरोद्ध,  neste caso a visarga (:) é substituída por (श्)

Para ver a tradução de outros versos, clique aqui.

Obsessão e Loucura no Caminho para a Iluminação

Obsessão e Loucura no Caminho para a Iluminação (Em busca de uma história sobre a morte enigmática de um retirante budista, um escritor arrisca a própria mente ao se aprofundar no coração do mistério) Traduções de trechos de reportagens sobre problemas ocorridos nos Estados Unidos.

A primeira parte deste texto foi traduzida de: http://www.tricycle.com/feature/obsession-and-madness-path-enlightenment

O quanto alguém deveria se esforçar para conhecer sua própria alma?

É uma questão que eu tenho me esforçado por quase uma década após um incidente que me ensinou que meditação intensiva tem o potencial para liberar consequências inesperadas. Em 2006, eu tomei um emprego para liderar jovens estudantes colegiais americanos em um programa internacional através de lugares sagrados no Norte da Índia. A ênfase do programa era um retiro de meditação silenciosa de dez dias em Bodhgaya: o local onde Buddha alcançou a iluminação quase três milênios atrás. Quando as meditações acabaram, eu tive uma conversa com um de mês alunos – uma bela garota de 21 anos chamada Emily O’Conner (esse não é seu nome real) – sobre seu retiro. Ela disse que foi a experiência mais profunda de sua vida.

Naquela noite, enquanto os alunos conversavam entusiasticamente no templo, Emily escalou até o telhado de um dos dormitórios, com um lenço khadi em volta do rosto, e pulou. Um aluno que estava a caminho da cama a encontrou de cara com o solo. De acordo com o relatório das autoridades, ela morreu no impacto.

Eu fui encarregado de retornar com seus pertences para a América. Em algum lugar no caminho, a polícia Indiana me deu o diário dela. No oitavo dia do retiro, ela havia escrito em letra cursiva floreada, “Contemplar minha própria morte é a chave”. Então, uns poucos parágrafos depois, “Eu estou com medo de ter essa realização e enlouquecer.” Uma das últimas coisas que Emily escreveu, com a mesma mão firme, foi “Eu sou um Bodhisattva”. Ela acreditava que ela estava bem no caminho da transcendência.

Há muitas explicações por que Emily decidiu tirar sua própria vida. Talvez ela tenha entendido errado o significado de “iluminação”. Talvez ela tivesse instabilidades mentais subjacentes que apenas se manifestaram durante a meditação intensiva. De tudo que sei, ela era um Bodhisattva e continuou em sua jornada em outro reino. Contudo, aqui na terra eu me preocupei de que a iluminação não deveria ser tudo que se promete.

A morte de um segundo meditante, Ian Thorson, desta vez nas montanhas do Arizona, me deixou com a suspeita de que havia um mistério não mencionado no coração das técnicas transformacionais. A história da morte de Thorson é complicada, mas pode ser recontada brevemente: Geshe Michael Roach, o primeiro americano a receber o grau de Geshe (o equivalente no Budismo Tibetano a um PhD), passou anos estudando na Índia como um monge antes de se tornar eventualmente um guru controverso que tinha feito milhões na indústria do diamante em Nova York. Roach logo adquiriu um grande grupo de alunos seguidores que viam  valor na crença de que grande riqueza poderia ser um sinal de bom karma. Ian Thorson juntou-se ao grupo de Roach na década de 1990, uns poucos anos antes de Roach planejar começar um retiro silencioso de 3 anos com um grupo de suas estudantes mais atraentes. Thorson logo tornou-se um dos seguidores mais dedicados de Roach.

Quando Roach emergiu de seu retiro de 2003, ele anunciou que estava a caminho da iluminação, tinha realizado milagres e que sua namorada e aluna, uma mulher com metade de sua idade chamada Christie McNally, era uma encarnação terrena da deusa Vajrayogini. Eles passaram o retiro juntos inventando rituais tântricos baseados em suas próprias leituras idiossincrátricas de textos antigos. Roach e McNally começaram a viajar em turismo pelo mundo, dando aulas sobre as realizações espirituais que tiveram durante seu grande retiro no deserto.

Em uma viagem para a Alemanha, o casal sagrado se ligou com Thorson, que estava vivendo lá com sua namorada e o inspirou a deixá-la e retornar para a América, onde ele poderia ajudar a construir a Universidade da Montanha do Diamante – um instituto desacreditado de alta aprendizagem dedicado ao neo-budismo de Roach e McNally. Lá, nas montanhas Chiricahua do Arizona, McNally e Roach planejaram liderar um segundo retiro silencioso juntos, desta vez com mais de 40 alunos. Mas como planos para a empreitada estavam a caminho, o relacionamento do casal como a se deteriorar. Logo os dois se separaram e cada um encontrou um novo companheiro. Poucos anos depois, Christie McNally casou-se com Ian Thorson.

Ao invés de passar os próximos três anos em silêncio com sua ex-esposa, Roach deu controle do retiro para McNally que tomou muito mais liberdades com os ensinamentos de Buddha do que Roach havia tomado. Ela começou a ensinar Tantra Hindu, invocando a deusa Kali como uma protetora do retiro. Os retirantes mergulharam em silêncio, confiantes na liderança de McNally. Mas tudo não estava bem em seu paraíso meditativo.

Psicose, esfaqueamento, mistério e morte em uma universidade neo-budista no Arizona

Texto traduzido de: http://www.elephantjournal.com/2012/05/psychosis-stabbing-secrecy-and-death-at-a-neo-buddhist-university-in-arizona/

Uma tragédia ocorreu e continua a se desenrolar nas montanhas do sudeste do Arizona. A morte de Ian Thorson, 38 anos, no domingo 22 de abril, numa caverna de uma montanha a 6000 pés de altura. O porta-voz do sheriff descartou jogo sujo até agora, mas a investigação está em andamento. O relatório do médico legista ainda será liberado. A causa imediata da morte de Thorson é mais provavelmente exposição e desidratação. Mas eu acredito que uma investigação completa mostrará que as causas mais profundas envolvem fanatismo religioso, psicose não tratada e negligência grosseira, incompetência e obstrução aos diretores do centro de retiros neo-budista chamado Diamond Mountain University, liderado por seu fundador e diretor espiritual, Michael Roach. Essa investigação completa médica e legal é garantida imediatamente, por que ainda há 35 pessoas em retiro na propriedade da Diamond Mountain que podem bem estar em perigo físico e mental como Thorson estava.

Thorson foi encontrado morto numa caverna de 6 por 8 pés em terras de reserva federal, cuidado por sua esposa desidratada Christie McNally, 39, uma ex-amante de Roach, conhecido da comunidade Diamond Mountain, e globalmente, como “Lama Christie”. Ela está se recuperando de sua perda e sintomas de exposição em uma localização não divulgada.

Minha intenção em divulgar essa história terrível para a comunidade de meditação e yoga e para o grande público tem quatro aspectos e não é maliciosa. Primeiro, eu quero encorajar uma investigação imediata na segurança física e mental dos residentes da Diamond Mountain. Segundo, eu quero ampliar nossa discussão em andamento do que constitui espiritualidade fundamentada, empática e útil – como oposta a delusões narcisistas e dissociativas de grandeza que podem ser danosas não apenas para praticantes, mas para uma cultura mais ampla. Terceiro, eu quero pressionar (e encorajar outros a pressionar) o Board of Directors of Diamond Mountain University a frear o clareamento óbvio de eventos que já começou. Os eventos na Diamond Mountain evocam questões cruciais de liderança responsável, prestação de contas democrática e qualificações terapêuticas que os diretores deveriam responder, não apenas pela segurança de seus próprios alunos, mas para a comunidade budista mais ampla e para os buscadores espirituais em geral, muitos dos quais vêm para ashrams e centros de retiro com profundas marcas psicológicas que são tragicamente temperados por robes e oradores e estruturas autoritárias de poder. Ultimamente, estou escrevendo na esperança de suavizar o controle que eu acredito que Roach tem sobre seus seguidores, muitos dos quais, incluindo Thorson, eram amigos e conhecidos meus, tempos atrás, quando eu mesmo também era um considerável escravo de Roach. Reconheço que muitas pessoas ao redor do mundo sintam que suas vidas foram enriquecidas pelo idealismo entusiasta de Roach e não desejo diminuí-las. Mas minha preocupação é que a estrutura de poder de Roach, que foi cultivada consciente ou inconscientemente pelo seu carisma, reprime o pensamento independente e o crescimento, e agora o está protejando contra o problema do cadáver de Thorson e a pessoalidade de Christie McNally, na escuridão exterior da racionalização espiritual.

Eu coletei tanta informação quanto fui capaz no impulso de publicar esta história para que houvesse tempo de mediar o perigo para aqueles que ainda estão em retiro. Infelizmente, minhas tentativas nos últimos dois dias de se engajar com os conhecidos de minha antiga comunidade sobre os eventos foram becos-sem-saída, devido, eu acredito, o sigilo endêmico dos cultos. No entanto, eu tenho uma visão sobre os documentos que todas as pessoas podem acessar abertamente, e espero que meu pensamentos sobre isso encoragem mais questionamentos sábios – tanto jornalísticos quanto legais. Serei cuidadoso em qualificar minhas percepções com as palavras “parece” e “presumido”,  em minhas opiniões com a expressão “eu acredito”.

Plano de fundo da tragédia

McNally tem sido aluno de Roach desde 1996. O próprio Roach tem sido aluno do antigo Khensur Rinpoche Lobsang Tharchin, de Howell, New Jersey, desde meados da década de 1970. Em meados de 1980 ele tomou os votos monásticos e obteve o grau de “Geshe”. A proximidade de Roach com McNally levantou suspeitas das alas mais conservadoras da comunidade e houve rumores de que eles eram amantes, o que os votos monásticos de Roach proibiam. Era muito claro pra mim que eles eram amantes e isso foi confirmado em 1999 numa viagem para a Índia em que muitos membros da comunidade expressaram desânimo ao verem McNally esgueirar-se da cela de Roach antes do nascer do sol, todos os dias.

Em 2000, Roach, McNally, e cinco de suas alunas entraram em retiro fechado de 3 anos numa terra deserta próxima a 960 acres do que se tornou a Diamond Mountain University. Enquanto fazia marketing na época de levantamento de fundos de seu retiro de ele era “tradicional”, “autêntico” e “antigo”, Roach negou-se a revelar aos seus milhares de patrocinadores que ele iria coabitar com McNally numa cabana compartilhada no deserto, um fato que tornou-se aparente para muitos durante os vários períodos de ensinamentos abertos do retiro, durante os quais centenas de estudantes viajavam para o deserto para ouvir Roach ensinar às cegas. A ampla comunidade Budista Tibetana começou a afastar-se tanto de Roach quanto de sua comunidade, não apenas por seu comportamento não-convencional e falta de transparência, mas também pelo seu academicismo falso e finas interpretações new-age da filosofia do Caminho-do-Meio – o alicerce da metafísica Gelukpa.

Roach and McNally emergiram do retiro em 2003 como parceiros espirituais compromissados que se engajaram em uma “intimidade de celibato”, uma reivindicação que mistificou seus alunos casados e ultrajou os piedosos. O relacionamento expôs seus múltiplos desafios à ortodoxia tibetana a uma visão de completo mau-gosto e concretizou os limites de seu crescente culto forçando seus devotos a separarem-se da mais ampla cultura ocidental budista que, agora, firmemente, rejeitava e criticava os títulos e autoridade de Roach.

Nem toda ruptura no mundo de Roach foi política ou teológica. McNally separou-se de Roach em 2008 ou 2009, que havia sido vista rapidamente em Armani e passando em clubes de Manhattan com modelos russas. McNally logo fez parceria com Thorson e começou a fazer incursões carismáticas nas cenas de Yoga de Nova York, fazendo parceria para ensinar uma sagrada ficcional “prática tibetana antiga de ásanas para alcançar objetivos espirituais usando um parceiro”.

Havia algo estranho ocorrendo com Thorson. Durante os ensinamentos ele exibia kriyas severos e barulhentos – estouros espontâneos de energia interna que subiam de modo irregular por sua espinha, viravam sua cabeça para trás e o faziam arfar e soluçar.

Um esfaqueamento no deserto

Em 2010, após vários anos de reivindicações grandiosas e proselitismo pelo mundo sobre assuntos tão diversos quanto “casamento espiritual”, “criação de seu próprio paraíso búdico”, “os segredos de Jesus e do Buda” e “negócios iluminados”, McNally foi indicada à Diretoria de Retiro para o segundo retiro de 3 anos, e foi para o deserto em silêncio com Thorson e 39 de seus discípulos nas propriedades da Universidade. Em algum momento, episódios de violência doméstica surgiram dentro da casa de retiros que ela compartilhava com Thorson. Os retirantes devem fazer silêncio pelo protocolo de retiro, então se algum deles estava ciente de problema, deve ter havido pressão contra o relato.

À cada 6 meses mais ou menos, o Diretor de Retiros e retirantes selecionados, e professores que não estão em retiro juntam-se publicamente para dar ensinamentos. Em fevereiro daquele ano, McNally falou em um dos eventos. Como Roach relata: “Lama Christie descreveu o que pareceu abusos fisicos repetidos de si mesma por seu marido e também um incidente em que ela esfaqueou Thorson, descrevendo como uma influência espiritual”.

E, sim, McNally tinha esfaqueado Thorson com uma faca três vezes, imagino que em própria defesa, como atestado por um dos retirantes que era médico. O médico a costurou e então foi limitado pelo silêncio não apenas pelas regras do próprio retiro mas também por sua subordinação espiritual ao casal. Uma das facadas foi funda o suficiente para  ameaçar órgãos vitais.

Um conselho de diretores cegos pelo dogma

Pela descoberta da sequência de esfaqueamentos em diante, acredito que todas as decisões do Conselho foram tomadas (a maioria provavelmente inconsciente) para proteger a hierarquia da Universidade e santidade de seu dogma, e não para nutrir a saúde física e emocional dessas duas pessoas criticamente problemáticas, ou de qualquer pessoa abaixo na escala do poder.

A decisão para não imediatamente convidar aplicação da lei externa ou serviços de saúde mental para a propriedade para examinar a situação e entrevistar os indivíduos é, acredito, coerente com a resistência geral do grupo à influência externa.

Mais sobre o assunto: http://playboy.co.za/death-and-madness-at-diamond-mountain

 

Mantra para Patanjali

Eu me curvo a Patanjali, o melhor dos sábios, aquele que removeu a sujeira da mente com yoga, da fala com versos e do corpo com medicina.

Texto em Devanagari

योगेन चित्तस्य पदेन वाचां मलं शरीरस्य च वैद्यकेन ।

योऽपकरोत्तं प्रवरं मुनीनां पतञ्जलिं प्राञ्जलिरानतोऽस्मि ॥

Texto Transliterado

yogena cittasya padena vācāṃ malaṃ śarīrasya ca vaidyakena ।

yo’pakarottaṃ pravaraṃ munīnāṃ patañjaliṃ prāñjalirānato’smi ॥

Tradução

Eu sou curvado [eu me curvo] a Patanjali, o melhor dos sábios, aquele que removeu a sujeira da mente com yoga, da fala com versos e do corpo com medicina.

Tradução Detalhada

योगेन ( yogena ). Palavra masculina, terceiro caso, singular. Significado: com yoga, pelo yoga.

चित्तस्य (cittasya). Particípio passado passivo, neutro, sexto caso singular. Significado: da mente, da memória, da razão.

पदेन (padena). Palavra masculina, terceiro caso, singular. Significado: com a marca, com a porção de um verso.

वाचां (vācāṃ). Palavra feminina, segundo caso, singular. Significado: a fala.

मलं (malaṃ). Palavra masculina, segundo caso, singular. Significado: a poeira, a sujeira.

शरीरस्य (śarīrasya). Palavra neutra, sexto caso, singular. Significado: do corpo.

(ca). Palavra indeclinável. Significado: e.

वैद्यकेन (vaidyakena). Palavra masculina, terceiro caso, singular. Significado: com a medicina, pela medicina.

योऽपकरोत्तं (yo’pakarottaṃ). यः (yah:) +  अपाकरोत् (apākarot) + तम् (tam). yah: -> pronome relativo (yad), primeiro caso, masculino, singular, Significado: que. Apākarot -> verbo, primeira pessoa do singular, do pretérito imperfeito. Significado: removeu. Tam -> pronome demonstrativo masculino (tat), segundo caso, singular. Significado: aquele.

प्रवरं (pravaraṃ). Adjetivo, masculino, singular, segundo caso. Significado: o melhor.

मुनीनां (munīnāṃ). Substantivo, masculino, plural, sexto caso. Significado: dos sábios.

पतञ्जलिं (patañjaliṃ). Nome próprio

प्राञ्जलिरानतोऽस्मि (prāñjalirānato’smi). प्राञ्जलिः (prānjalih) + आनत: (ānatah) + अस्मि (asmi). Prānjalih -> palavra masculina, primeiro caso, singular. Significado: postura com as mãos juntas com palmas se tocando  na frente do peito como postura de oração. Ānatah -> particípio passado perfeito, masculino, singular. Significado: curvado. Asmi -> verbo ser, primeira pessoa do singular do presente. Significado: eu sou/estou.

Recitação e explicações